domingo, 28 de setembro de 2008

Machado de Assis - Centenário

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Encontrei na Revista Ler a referência a este sítio dedicado ao escritor brasileiro Machado de Assis. Assinala-se hoje o centenário da sua morte, no Rio de Janeiro, a 29 de Setembro de 1908.
Se clicarem na imagem têm acesso ao sítio.




Machado de Assis é o fundador da cadeira número 23 da Academia Brasileira de Letras, tendo ocupado por mais de dez anos a sua presidência. Foi, aliás, o seu primeiro presidente.
O crítico norte-americano Harold Bloom considerou-o um dos cem maiores génios da literatura de todos os tempos (chegando ao ponto de considerá-lo o melhor escritor negro da literatura ocidental), ao lado de clássicos como Dante, Shakespeare e Cervantes.




De origens humildes e órfão desde tenra idade, Machadinho (como era chamado no colégio) foi vendedor, doceiro, tipógrafo e autodidacta. Tornar-se-ia um dos maiores intelectuais do país, ainda muito jovem. Em São Cristóvão, conheceu a senhora francesa Madamme Gallot, proprietária de uma padaria, cujo forneiro lhe deu as primeiras lições de francês, que acabou por falar fluentemente, tendo traduzido o romance Os Trabalhadores do Mar, de Victor Hugo, na juventude.Também aprendeu inglês, chegando a traduzir poemas deste idioma, como O Corvo, de Edgar Allan Poe. Posteriormente, estudou alemão.

Em 1855, aos quinze anos, estreou-se na literatura, com a publicação do poema "Ela" na revista Marmota Fluminense. Colaborou intensamente nos jornais, como cronista, contista, poeta e crítico literário, tornando-se respeitado como intelectual antes mesmo de se firmar como grande romancista. Machado conquistou a admiração e a amizade do romancista José de Alencar, principal escritor da época.

A sua obra, incialmente influenciada pelo Romantismo, viria, numa fase seguinte, a enveredar pelo Realismo. Memórias Póstumas de Brás Cubas marcaria precisamente a introdução daquela corrente no Brasil. O livro, extremamente ousado, é escrito por um defunto e começa com uma dedicatória inusitada: "Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas Memórias Póstumas" .






Destaco ainda a minha primeira leitura do autor, Dom Casmurro. É impossível, enquanto leitor, ficar indiferente à escrita maleável e inteligente de Assis (discípulo de Eça) e ao charme das olheiras de Capitu, uma das personagens.
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É um nome fundamental e incontornável que aconselho vivamente. Aproveito este centenário para, em jeito de homenagem, exortar a ler literatura da lusofonia, tão injusta e frequentemente afastada dos programas e dos manuais e tão preconceituosa e estranhamente rejeitada e ignorada pelos alunos.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O que andamos a ler - 11ºAno Oficina de Leitura





Oficina de Leitura dedicada ao Brasil e a Padre António Vieira

terça-feira, 16 de setembro de 2008

O Caderno de Saramago



Notícia de um novo endereço na blogosfera: um blogue de José Saramago, dinamizado pela Fundação homónima. Muito pessoal, é nítido o cunho do Nobel que, após um período de fragilidade, mantém a mesma irreverência de sempre...
Deixo a mensagem de abertura, de hoje:


"Quando em Fevereiro de 1993 nos instalámos em Lanzarote, conservando sempre a casa de Lisboa, meus cunhados María e Javier, que já ali viviam há alguns anos, junto a Luis y Juanjo, recém-chegados, ofereceram-me um caderno que deveria servir de registo dos nossos dias canários. Punham uma só condição: que de vez em quando fizesse menção das suas pessoas. Nunca escrevi nada no tal caderno, mas foi desta maneira, e não por outras vias, que nasceram os Cadernos de Lanzarote, que durante cinco anos veriam a luz. Hoje, sem esperar, encontro-me numa situação parecida. Desta vez, porém, as causas motoras são Pilar, Sérgio e Javier, que se ocupam do blog. Disseram-me que reservaram para mim um espaço no blog e que devo escrever para ele, o que for, comentários, reflexões, simples opiniões sobre isto e aquilo, enfim, o que vier a talhe de foice. Muito mais disciplinado do que frequentemente pareço, respondi-lhes que sim, senhor, que o faria desde que não me fosse exigida para este Caderno a assiduidade que a mim mesmo havia imposto nos outros. Portanto, pelo que isso possa valer, contem comigo."


Podem consultar o blogue aqui.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Regresso(s)...


Em tempo de regresso, deixo o texto de quem regressa infinitamente pela memória. A Francisca escreveu um testemunho emocional e emocionado, marcado pela despedida de um espaço que a viu crescer... É uma homenagem sentida e profundamente humana ao Colégio.

"Estar aqui, na minha missa final do 12º ano, é estranho. Surreal, diria mesmo.
Quando somos pequenos há coisas que parecem tão distantes, e esta é uma delas.
Construímos casas de legos parece que desde sempre, e um dia chegam à nossa beira, dizem-nos: 'és finalista', e é suposto aceitá-lo como se não fosse nada, como se não tivéssemos quase obrigatoriamente de partir daqui para uma faculdade, um mestrado, daí para um emprego, uma casa que não seja de legos e uma família.
Enchemos o peito de ar e pensamos: 'e agora?'.

O ano passado andei uns tempos angustiadíssima a pensar no que será daqui para a frente, (sim, porque este ano não há tempo nem para pensar).
Passeio pelos corredores desta casa desde os meus 5 anos.
Gosto de cumprimentar todas as funcionárias quando vou a correr para as aulas, quando era pequena e ficava cá até tarde as senhoras da cozinha davam-me sempre um pão com manteiga. Sei que as funcionárias do bar me vão perguntar como ando se num dia de maior cansaço ficar mais abatida, e não desisto de agarrar a Celeste mesmo quando ela resmunga e diz que não gosta de beijinhos. Tive o privilégio de trocar correspondência com amigos que também são professores, desde a primária até agora, e a espantosa sorte de conhecer pessoas com histórias incríveis, desde vigilantes, passando por irmãs, até professores que tratam os alunos, antes de mais, como seres capazes de uma evolução humana.
E há também histórias que nos marcam, ouço professores e funcionários falar de alunos antigos, sei que irão falar de nós e de outros que nos seguem, e que um dia falaremos deles aos nossos filhos.

Para este ofertório trouxe os meus cadernos da primária. Quando em pequenos os pais nos lêem histórias de embalar percebemos que é importante aprender a ler para traduzir alguns dos mais inexplicáveis segredos do mundo. As palavras têm o dom da eternidade, e quando o aprendemos há uma porta que se abre para países de muito longe.

Sei da primária que os dias eram curtos, a professora afectuosa e preocupada e que a melhor hora do dia era definitivamente a do almoço, porque me sentava à mesa com os meus melhores amigos. (Mais tarde percebi que isso é 'partilhar o pão'.)
Depois de saber ler comecei a aprender o sentido de nos dizermos cristãos; mais tarde voltaram a ensinar-mo e só então percebi que se trata de o descobrir todos os dias.

Não me canso de ter comigo aqueles que me viram crescer verdadeiramente de perto.
Quando me pediram para trazer os meus cadernos fui procurá-los, e depois peguei neles com cuidado, (é estranho segurar em objectos assim), e página a página, procurei textos que me dissessem alguma coisa. Encontrei um do meu 2º ano que tinha como título: 'Falo dos meus amigos.' E por incrível que pareça, das cinco pessoas de quem falava, uma nem me lembro de quem era (se estiveres por aí aparece, Ana Margarida), outra, não voltei a ver depois do 4º ano. Mas os três restantes são, ainda hoje, os meus melhores amigos, e considero um privilégio poder tê-los a meu lado.
Sei que com muitos de vocês isto também aconteceu, é uma das consequências de habitar um lugar tanto tempo como nós, acabamos por habitar também as pessoas e com algumas criam-se laços inquebráveis.

Tenho muita gente que me diz que são demasiados anos – que dizer? É mesmo uma casa.

Depois, temos coisas que apesar de muito concretas ganham, sem querer, o valor de ícones. Falo da nespereira carregada de frutos no verão, do túnel de rosas, da casa pequenina da quinta com as cadeirinhas encostadas à parede desde que me lembro ou das escadarias do palacete, húmido e solene, onde os passos ecoam mais e o piano às vezes se ouve.
Há uma árvore especial, a japoneira do campo que antigamente era de areia.
Lembro-me disto tão bem. As flores em tons de rosa e branco, as folhas verdes. Os ramos grandes o suficiente para não quebrar e pequenos que bastasse para os subirmos. Quando começava a ficar calor o chão enchia-se de flores e uma sombra deliciosa apoderava-se daquele sítio, os risos, os nossos risos, o perfume, subíamos pelos ramos e sentíamo-nos maiores a ver o mundo de um sítio mais distante.

Hoje somos nós, deste sítio, a espreitar o mundo que nos parecia tão distante, em cima de um galho qualquer mais forte que nos vai segurando.
O modo como as flores apodreciam no outono fazia-me pensar no verão seguinte, mas um dia, não sei bem como, voltei a subir e o meu corpo já não cabia.

Há momentos como este, em que compreendemos que há lugares em que já não cabemos, lugares de onde é preciso partir.

Gosto de pensar nas memórias como raízes. Gosto de pensar em nós como sementes.
Se algum dia aqui voltar pergunto-me se não me chegarão a aparecer os risos das crianças no recreio mesmo que não esteja lá ninguém, se não voltarei a ver-nos naqueles dias felizes, em que subíamos às árvores e esperávamos pela hora da refeição, sem tempo para mais.
Espero por estes sítios como se espera voltar a casa.
E se calhar tudo isto nem faz tanto sentido assim, mas há coisas que não se explicam, há cheiros e risos que não se esquecem, há abraços que queimam para sempre e palavras demasiado densas por dentro de todas as recordações.

A verdade é que há momentos tão bons que nos deixam uma espécie de estigma aflitivo, como se soubéssemos para sempre que voltar atrás é voltar às mesmas pessoas.

'E agora?'
Agora, há passos que temos de dar, foi para isso que nos preparámos ao subir às árvores e partilhar o pão, porque há sempre algo a conquistar e pão a partilhar com alguém.

Entretanto há sítios a que forçosamente regressaremos, e mesmo que não chegue a faculdade ou o emprego ou a família, há sempre uma casa à nossa espera. Nem que seja a das nossas memórias afectivas.
Nem que seja Sião."

Francisca