terça-feira, 6 de julho de 2010

Morreu Matilde Rosa Araújo

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Deixo, em jeito de homenagem, um texto de Teresa Maia Gonzalez:
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"As árvores morrem de pé. E ali permanecem erguidas, de pés agasalhados no berço onde nasceram. Morrem de mansinho sem fazer alarde. Ainda de braços elevados aos céus, deixam-se acariciar suavemente pelos últimos raios de sol. E saboreiam pela derradeira vez o afecto do vento, eterno companheiro desde a primeira hora, já sem folhas que estremeçam no gesto habitual do reconhecimento.

Então, despida e vazia de seiva e esperança a árvore olha os ramos, outrora cheios de folhagem, flores e frutos e recorda, por breves instantes o calor dos verões. E, se um pássaro jovem lhe pede abrigo, ela estica ainda um braço seco e magro, oferecendo-o sem nada pedir em troca. E o pássaro inquieto, alheio à proximidade da morte (tão perto já!), faz um trinado desafinado, um curto ensaio de canto. Depois, num ímpeto sem razão abre as asas e escapa-se para um telhado ou um banco de jardim.

E a árvore ali fica, finalmente, só. Os braços irremediavelmente erguidos, já não cansam. No tronco, o vazio deixado pelo último casal de esquilos já não faz saudade. Fecha os olhos e respira devagar. O ar imundo da cidade que amou já não a sufoca. Então, fitando o céu, percebe que apenas os pés a prendem à terra. E solta a alma como um grito mudo. As árvores morrem de pé. Por isso não nos apercebemos da sua morte..." Maria Teresa Gonzalez
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