sexta-feira, 19 de novembro de 2010

sábado, 13 de novembro de 2010

Congresso Internacional Fernando Pessoa

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Texto de opinião - 12ºAno

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“(…) existem situações incompatíveis com neutralidade, pelo menos uma neutralidade com honra – se é que os conceitos de honra e neutralidade poderão alguma vez coexistir ou se a neutralidade, por si só, poderá alguma vez deixar de ser um pretenso lavar de mãos à maneira de Pilatos…”
Helena Marques, O Bazar Alemão, D. Quixote, 2010.
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Estudei há pouco tempo o tema “incompatibilidades”. Estudei-o em matemática. Disseram-me: dois acontecimentos incompatíveis são dois acontecimentos cuja intersecção é um conjunto vazio. Não perguntei “ porquê?”, e, hoje, aqui sentada sinto uma vontade enorme, um desejo de reduzir tudo a dois conjuntos quaisquer, a duas letras despidas, a um sinal meio tímido que me apresentaram e dizer: são incompatíveis.
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Encontro desde já um problema. É que a honra é grande de mais para caber numa só letra, e por isso chamar-lhe “H” deixa muito a desejar, não pela honra que não tem culpa, mas por mim que a sufoquei. E a neutralidade é de tal modo complicada de encontrar, vestem-na tão poucas pessoas, que me custa chamar-lhe “N” e apresentá-la a uma dúzia de olhos curiosos, cuidadosamente alinhados, em fila, e esperar que nenhum se lembre de perguntar: “porquê?”.

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Tenho a ideia de que a honra só habita nas pessoas antigas, muito antigas, que só os cavaleiros a podem usar nas suas espadas, ou os reis nas suas coroas, talvez com sorte caia alguma num marinheiro, num poeta… Tenho a ideia de não ter ideia de a ver ultimamente. De não a encontrar no caminho para a escola, nos rostos de quem passa, nos políticos que vejo na televisão (quem são?). Tenho a ideia de que não há na casa das pessoas, nas camas onde dormem, nas estradas onde correm. Tenho medo de ter a ideia de não me lembrar dela em mim (onde vivies? onde estás?). Tenho a ideia de desejar desesperadamente, tão desesperadamente como as palavras que escorrem pela caneta, o “não te escondas” – pedi-lhe.

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Penso nos conjuntos de matemática. Lembro-me de como são simples duas letras desadornadas num quadro verde. E concluo: talvez a honra se esconda nas gravatas dos políticos, ou na ganância das pessoas (e eu, que sou pessoa, desejo profundamente não o ser). Talvez a neutralidade não consiga sobreviver nesta sociedade. Talvez sejam incompatíveis por terem ficado perdidas em tempos históricos tão diferentes. Talvez, por isso, a simplicidade, a ausência de jogos, a veracidade sejam tão difíceis de encontrar, porque a neutralidade se perdeu no caminho da História (é tão longo que se compreende), ou talvez isto tudo não passe de uma ideia qualquer.

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Relembro os conjuntos de matemática. Penso que simples é dizer: H ∩ N = Ø, mas decido que a vida é mais do que isso. Duas letras? Com certeza mais do que isso.
Teresa Stingl, 12º A

quarta-feira, 3 de novembro de 2010