quinta-feira, 24 de junho de 2010

Aristides de Sousa Mendes

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Transcrevo o post (que me emocionou) do Senhor Embaixador Francisco Seixas da Costa, sobre Aristides de Sousa Mendes, no blogue duas ou três coisas. Porque é importante não deixar cair no esquecimento algumas figuras decisivas na nossa história...
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"Gostava de ter tido ontem comigo, na Embaixada, aqueles que, em Portugal, insistem em não prestar tributo ao gesto do antigo cônsul em Bordéus, Aristides Sousa Mendes, que, nessa qualidade, emitiu alguns milhares de vistos, desobedecendo às ordens recebidas
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Gostava de ver essas pessoas confrontadas com a emoção que observei nos olhos de uma cidadã judia, hoje americana, que nesses dias trágicos de Junho de 1940, esteve nas filas do nosso Consulado em Bordéus, entre muitos milhares de refugiados, e que ontem me contou pessoalmente como pôde obter um visto gratuito para entrar em Portugal, e daí partir para a liberdade.
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Gostava de os ver fazer entender a essa senhora, olhos nos olhos, que Aristides Sousa Mendes não deveria ter emitido o visto que lhe salvou a vida e deveria, com exemplar zelo burocrático, ter seguido as determinações na Circular nº 14. de 11 de Novembro de 1939, segundo as quais "os cônsules de carreira não poderão conceder vistos consulares sem prévia consulta ao Ministério dos Negócios Estrangeiros (...) aos judeus expulsos dos países da sua nacionalidade ou daqueles de onde provêm".
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Gostava."
Francisco Seixas da Costa

terça-feira, 22 de junho de 2010

E agora... algo completamente diferente...

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Tomo a liberdade de surrupiar (com a devida autorização...) este texto ao meu colega de História (Dr. José António Carvalhais). É uma peça épica e uma forma muito divertida de motivar os nossos alunos para enfrentar uma dura Batalha: o Exame Nacional (seja ele qual for...):
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"Cavalheiros e Princesas:

Durante os últimos três anos, V. Exas. provaram sempre que estavam prontos para a luta!!
Amanhã não vai ser diferente!
Levantem-se cedo e bem dormidos; banhem-se na sorte dos Deuses (ou só de Um se for o caso), vistam-se de Glória e de Orgulho e munam-se de todas as vossas Armas Intelectuais.
Não nos podemos enganar! A Marcha até ao Nosso objectivo será dura! O Caminho difícil entre mesas e corredores.... mas será ultrapassado!
E só será ultrapassado pois para isso trabalhamos sempre com afinco e dedicação!!!! E não há quem nos pare!!!! (ovação!)
A táctica está escrita:

Quando o inimigo nos surgir pela frente não teremos hipótese de voltar!
Há por isso que encarar o bicho de frente e derrubá-lo com calma e paciência....nunca pela força bruta!!!
Têm de ser objectivos no que fazem e dizem….rodeios e treta só servirão para vos cansar!!
Comecem por lhe partir bem os documentos.....risca, anota, sublinha! Não deixa um de pé!!!
Depois.... desmanchem as perguntas e revirem-nas, se for para identificar...identifiquem e citem....isso vai dar cabo deles!!! Se for para explicitar....carrega-lhe um pouco mas cita!!!!! Não perdoem as imagens e os gráficos...a sua cor e beleza são iguais aos das sereias (mesmo das pequenas) ...só serve para vos tentar e distrair dos vosso objectivos!!!
Quando chegar a hora do desenvolvimento carreguem as vossas armas e disparem todo o conhecimento ...sigam os tópicos de orientação e não se poderão perder! Em frente.....Bravos!
A glória estará próxima quando já só virem um documento grande em pé! (pode aparecer antes…não se iludam!)
Não se deixem assustar!!!!! É grande mas não será grande coisa!!!!
Começam por atacar as perguntas, sublinham ideias-chave na primeira leitura....quando voltarem ao início...lembrem-se do que procuram para cada resposta!!! Ao encontrarem tudo e terminarem não se esqueçam: há que voltar atrás não vá algum dos outros ter ficado vivo!
Releiam e releiam! se for preciso ataquem com uma última facada mas cuidado com os asteriscos....

E quando terminarem tudo estejam certos....
Bravos, vocês escreveram o vosso nome na História A deste País!!!!"
José António Carvalhais

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O ano da morte de José Saramago

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Ainda a homenagem.
Uma edição especial conjunta (Visão e Jornal de Letras), hoje nas bancas:
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E a elegia de Hélia Correia, no Público:
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«Diz a lenda o que a história não confirma: que, no tempo em que Sófocles morreu, a Atenas que tanto o venerou e que tão venerada foi por ele se encontrava cercada pelos espartanos. A aldeia natal do dramaturgo encontrava-se então fora de portas, inacessível aos atenienses. O deus do teatro apareceu então nos sonhos de Lisandro, o general das tropas sitiantes. Ordenava que abrissem alas para dar passagem ao cortejo funerário. Lisandro obedeceu sem hesitar. Todos, atenienses e espartanos, se inclinaram com vénia e com lamento, ante o corpo do grande criador. Não consigo fazer elogios fúnebres. Digo “não” ao louvor de circunstância. Palavras e palavras vão cair com um grande barulho neste dia e todas elas ficarão aquém da grandeza deste homem. Que houve entre nós um luminoso afecto é coisa que me diz respeito a mim e sobre a qual não tenho que escrever. Que tenho um pensamento de triunfo é o que eu gostaria de explicar. Porque há aqui triunfo: a plenitude de um cidadão inteiramente dedicado à sua polis e aos seus contemporâneos. E a plenitude de um “poeta”, daquele que faz obra e é por ela tornado glorioso. É o homem na sua existência absoluta. O homem que, sabendo-se mortal e não acreditando num Além, se empenha soberbamente em viver e criar com um fulgor e com uma coragem que os crentes desconhecem ou receiam.
Para além do meu preito pessoal, que não se há-de resumir a depoimento, eu imagino aqui uma cidade que o leva em ombros – e os inimigos a abrirem caminho e a curvarem-se. Se os gregos inventaram esta lenda, é para que a memória a active quando um homem como Saramago nos deixa.»
Hélia Correia
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sexta-feira, 18 de junho de 2010

Levantado do Chão...



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Texto publicado hoje no sítio da Fundação José Saramago:
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Deixo alguns testemunhos de alunos que foram chegando, em jeito de homenagem:


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Fiquei um bocado em choque, até porque, quando estava a estudar para o exame, lembro-me de pensar que Saramago era o único autor vivo que analisávamos.
Ler José Saramago não é tarefa fácil; todos sabemos disso... Até entrarmos no seu ritmo e no seu estilo particular de escrita, demora um certo tempo, que, para muitos leitores, pode ser o suficiente para os afastar dos seus livros. Porém, quando começamos a entender como ler os seus textos "minados" de vírgulas e maiúsculas no meio das frases, concentramo-nos, não em perceber como ler, mas sim nas suas ideias, nas suas histórias e, principalmente, nas estórias por detrás das suas palavras.
Apesar de não partilhar de muitas das suas opiniões controversas e que marcaram a sua imagem em Portugal e no Mundo, a sua importância para a divulgação da Língua Portuguesa e, acima de tudo, para o reconhecimento desta, é incontornável. Teve a sorte, merecida, de ver o seu trabalho reconhecido enquanto ainda era vivo, ao ganhar o Prémio Nobel da Literatura, em 1998.
Visto a minha experiência de leitora se resumir, até ao momento, à leitura de "Memorial do Convento", concluo com a certeza de que, num futuro próximo, irei alargar o meu conhecimento sobre a sua obra e com a esperança de que esta não seja esquecida pelas gerações futuras.
Filipa Redondo, 12DE
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O homem que tinha a coragem de dizer "Não"
É um rosto que se destacou ao longo dos tempos pela sua irreverência, pela sua forte personalidade e pelas suas posições ideológico-políticas. Destemido, nunca se sentiu constrangido em demonstrar as suas opiniões, mesmo que estas gerassem polémica na sociedade. Apesar de ter partido, irá certamente ser relembrado por todos como um dos maiores vultos da literatura nacional.
Catarina Rodrigues, 12C
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“Com Nobel ou sem Nobel, José Saramago é dos criadores mais notáveis que nos deu este século, não só da desentendida língua portuguesa, mas também da universal língua do mundo.” Mário Benedetti, Uruguai
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José Saramago nasceu em 1922, na aldeia ribatejana da Azinhaga e venceu o Prémio Nobel da Literatura no ano de 1998.
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É em 1947 que publica o seu primeiro livro – “Terra do Pecado”. Após ter exercido diversas profissões, como serralheiro mecânico ou funcionário público, Saramago tornou-se autor de obras em diversos géneros literários, desde o conto até à literatura de viagem, embora conheça projecção nacional e internacional através dos seus romances.
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Desta forma, alguns deles foram traduzidos em várias línguas (francês, inglês ou italiano) transformando-se até em importantes obras de ópera como é o caso de “Blimunda”.
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Na minha opinião, o seu carácter transgressor e subvertido, em termos narrativos e na própria escrita, torna-o singular e profundamente empenhado em apontar o dedo, denunciar e interpelar, o que ultrapassa o simples estatuto de narrador.
Efigénia Tavares, 12DE
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Eu não conhecia bem Saramago. À parte de todas as controvérsias em que este marcou presença, pouco sabia sobre ele. Mesmo com diminuto conhecimento sobre este escritor, graças a ele e aos infelizes acontecimentos dos últimos dias, fiquei, porém, a conhecer melhor o povo português.
Quando soube que Saramago havia falecido, não acreditei, não apenas pelo facto de não me lembrar do escritor tantas vezes quantas devia, nem tão pouco por deixar de me relembrar de que ele, como todos nós, teve um início e teria, inevitavelmente, um fim, mas pelo simples facto de ter acabado de comprar um livro dele para ler, em férias. E toda a minha atenção despertou diante da quantidade de portugueses que estavam no cemitério a aplaudir e a despedir-se, uma última vez, do Nobel Português.
Saramago não foi assim tão valorizado em vida no país que o viu nascer, não querendo, no entanto, afirmar que não lhe era dada a importância devida. Na actualidade mais recente, se foi mencionado, foi para ser objecto de mais uma crítica, entre todas as de que o escritor foi alvo. No entanto, após a sua morte, todos o idolatram e amam por ele espalhar, pelas livrarias de todo o mundo, o seu dom literário e repor Portugal em todos os mapas do mundo.
É certo que errámos em não ter Saramago tão presente no nosso pensamento, como lhe era devido, por tudo o que ele fez, tanto para dignificar como para criticar o seu país, mas também não devemos ser hipócritas, fingir que sempre nos preocupámos, e desrespeitar a sua memória e aqueles que verdadeiramente choram a sua perda.
Ana Rita
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Eu não leio Saramago, portanto, não sei Saramago. Mas, quando me apercebi que, agora, é mais um vulto que sossegadamente desapareceu, recordei de imediato "O Sorriso". Parece que, afinal, leio Saramago. No nono ano, analisei este texto no meu exame de Português. De Saramago conhecia pouco, ou um nada vulgar. Diziam-me que escrevia de maneira diferente, não utilizava pontuação e idealizava mundos de faz-de-conta. Sentada na cadeira, sem ter noção do que era realmente necessário saber sobre este escritor, comecei por ler aqueles quatro parágrafos que mudariam drasticamente a minha futura opinião acerca do que é, realmente, ser Saramago. "Sorriso, diz-me aqui o dicionário, é o acto de sorrir. E sorrir é rir sem fazer ruído e executando contracção muscular da boca e dos olhos.". Claro que, em tão jovem idade, achei tudo muito curioso. Não sabia que os dicionários falavam, mas, pelos vistos, era o que melhor e pior fazia. Daí em diante, a única preocupação que tinha em mente era o simples facto de poder ou não guardar o texto, só pela primeira frase. Guardar o texto implicaria ficar com o enunciado e faria os possíveis para tal acontecer, o que aconteceu. Prossegui com a minha leitura medrosa até, finalmente, me derreter: "O Sorriso (este, com maiúsculas) vem sempre de longe. É a manifestação de uma sabedoria profunda, não tem nada que ver com as contracções musculares e não cabe numa definição de dicionário. Principia por um leve mover de rosto, às vezes hesitante, por um frémito interior que nasce nas mais secretas camadas do ser. Se move músculos é porque não tem outra maneira de exprimir-se. Mas não terá? Não conhecemos nós sorrisos que são rápidos clarões, como esse brilho súbito e inexplicável que soltam os peixes nas águas fundas? Quando a luz do sol passa sobre os campos ao sabor do vento e da nuvem, que foi que na terra se moveu? E contudo era um sorriso."
Não reli parágrafo algum, não relembrei palavra nenhuma. Lembro-me de o ter ouvido no silêncio. Mas o que era estranho para mim era o facto de existirem vírgulas naquele texto. Vírgulas, pontos finais, pontos de interrogação... Lá me haviam mentido ao longo do tempo, ou talvez não. Talvez alguém ousasse contrariar Saramago e tivesse desenhado as mais variadas e espontâneas formas de pontuar. De pouco me adiantava pensar em semelhante artimanha, quando tinha ainda de pôr um fim ao terrível exame. Escrevi, o mais rapidamente possível, todas as respostas às perguntas propostas e voltei a debruçar-me no texto, naquele texto que, afinal de contas, era meu. Mal sabia ainda o que era o Sorriso, mas Saramago contou-me esta história, no meu parecer, incrivelmente bonita.
Saramago faz voar, mas ninguém quis voar quando ele nos deu as asas. Agora, que estranhamente partiu, todos queremos voar, mas é inútil. Por mais saltos que dermos, faltam-nos as asas, o saber e a dedicação. Todos temos uma história com Saramago. Esta é a minha. Mas eu não leio Saramago, tal como não leio Pessoa, porque tenho medo. São nomes que enchem a boca e me esvaziam o peito de ar. Por isso, atrevo-me a ler pequenas grandes citações, enquanto, mês após mês, leio uma página do "Ensaio Sobre a Lucidez" que, sorrateiramente, rapto da mesinha de cabeceira da minha mãe. Lá repousa desde que me lembro, e a minha mãe nem gosta de Saramago, mas, e nas palavras dela, "Ele é um Prémio Nobel (...) não fomos nós que avaliámos tamanho reconhecimento. Ele é um Prémio Nobel!". E sempre será.
Luísa Santos, 11D
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A morte de Saramago fez-me pensar. Primeiro que seríamos os primeiros alunos a estudar O Memorial de Convento sem o escritor vivo - o que é um pouco surreal, só ainda não sei bem porquê. Creio que quando me dedicar ao livro, nas férias, irei encontrar resposta. Em segundo, lembrei-me que a única obra que li de José Saramago, até hoje, foi A Maior Flor do Mundo, devia ter uns 8 anos. Lembro-me de ter adorado o livro e de o ler vezes sem conta, como fazia sempre que gostava de uma história, até a saber de olhos fechados.
Claro que fiquei com curiosidade de reler o livro e já o coloquei na mesinha de cabeceira.
Na verdade, confesso que ainda só o juntei à catedral dos livros em lista de espera, que construo ao lado da cama. Este é pequenino, vou fazer um esforço por o pôr à frente da lista.

Como já disseram "hoje, não há palavras, Saramago levou-as todas".
Foi assim que terminou hoje o telejornal na Rtp1, e é assim que termino esta mensagem. Começo aqui um novo caminho, que certamente percorrerá memórias de um convento.
Sara, 11D

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Saramago conjuga na perfeição a simplicidade e a complexidade. Pessoa simples e de raízes humildes, com um intelecto extremamente complexo que foi desenvolvendo todos os dias da sua vida, através da análise do que, para nós, não passariam de banalidades do quotidiano, de rostos sem nome.
Joana Machado, 12C
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"José Saramago era, a par de Fernando Pessoa, o único escritor português de estatuto universal. Tinha como hábito lancar algumas críticas mordazes no ar, criando sempre polémic,a tanto nacional como internacional. Escreveu vários livros, mas viria a alcançar a fama com um livro que eu tão bem conheço - Memorial do Convento.
O único escritor português a ganhar o prémio nobel tinha um estilo único; não respeitava propriamente as regras canónicas de pontuação e as sua prosa era longa e ininterrupta, contudo, a sua entrega à narração e a sua simplicidade davam-lhe tal notoriedade, que se podia dizer que Saramago tinha reinventado a prosa. Escreveu vários livros e deixou em Terra um legado de admiradores e de críticos. Eu, certamente, tenho pena de ver partir este escritor."

António Duarte, 12C
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Saramago não foi um homem. Foi algo mais. Um génio, um revolucionário... um escritor. À sua volta, dezenas de discussões se formaram e, ao mesmo tempo, centenas de fãs se alinharam. O primeiro livro que li dele foi o Memorial do Convento e só consigo felicitar quem me incentivou a leitura. Eu sei que é um pouco cliché começar agora a ler outros livros dele, mas, provavelmente, é o que farei. Consegui, inclusive, incentivar a minha família a dar uma segunda hipótese ao escritor (ele nunca foi adorado por aqui...). Mesmo assim, há que dizer que ele foi um inventor, um escritor avant garde que me inspirou imenso. Por muito que discorde da sua ideologia política, adoro-o enquanto criador de maravilhosas e muito originais histórias/estórias, que continuamente mostram o outro lado da questão. Vou ter saudades...
Joana Durão, 12DE ana
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O seu legado
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Retrato do poeta quando jovem
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Há na memória um rio onde navegam
Os barcos da infância, em arcadas
De ramos inquietos que despregam
Sobre as águas as folhas recurvadas.
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Há um bater de remos compassado
No silêncio da lisa madrugada,
Ondas brancas se afastam para o lado
Com o rumor da seda amarrotada.
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Há um nascer do sol no sítio exacto,
À hora que mais conta duma vida,
Um acordar dos olhos e do tacto,
Um ansiar de sede inextinguida.
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Há um retrato de água e de quebranto
Que do fundo rompeu desta memória,
E tudo quanto é rio abre no canto
Que conta do retrato a velha história.
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in Os Poemas Possíveis, Editorial Caminho, Lisboa, 1981. 3ª edição
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Uma das últimas entrevistas de Saramago. Clicar para ver:
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E, também hoje, na RTP1, o documentário "Levantado do Chão":
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A notícia da morte do escritor, no mundo:

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http://www.elpais.com/global/

http://www.nytimes.com/2010/06/19/books/19saramago.html


http://news.bbc.co.uk/2/hi/entertainment_and_arts/10352251.stm


http://www.guardian.co.uk/books/2010/jun/18/jose-saramago-writer-nobel-dies


http://www.lemonde.fr/carnet/article/2010/06/18/la-virgule-de-jose-saramago_1375262_3382.html#ens_id=1375172

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Livros do mês - Junho

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Em tempo de férias, (mais) tempo para (/de) ler...
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Grandes livros

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A não perder! Um dos melhores programas culturais da televisão portuguesa, agora disponível na íntegra em vídeo: http://vimeo.com/channels/grandeslivros/page:1

terça-feira, 15 de junho de 2010

40 Anos da morte de Almada Negreiros

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No dia em que se assinalam 40 anos da morte de Almada Negreiros, artista, poeta, pintor, deixo uma citação sua; não sobre o fim, mas sobre o início (curiosamente, pouco tempo antes de morrer no quarto do hospital de São Luís dos Franceses, onde morrera também o seu amigo Fernando Pessoa...):
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“Eu acabei agora de fazer um trabalho de vários meses, oito meses consecutivos, trabalho obcecante, a ter de fazer. Em pormenor, basta dizer que o médico todos os dias me dizia: Você está a matar-se! E eu respondia-lhe: Mas se não fizer isto, morro! Este pedido de interrupção é só para dizer isto (…) Vou simplesmente dizer o título da obra que eu concluí, que é uma obra síntese de tudo o que fiz na minha vida (…) o título é Começar."
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segunda-feira, 14 de junho de 2010

"La casa de la Troia - librería"

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Um texto sobre o prazer dos livros, de João Boavida, publicado no blogue De rerum natura, de que sou leitora assídua.
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Há livros que são como cometas: passam nas nossas vidas com grande brilho, causam profunda emoção e deixam caudas luminosas para o resto dos nossos dias. Por isso as grandes obras se devem ler e reler. Mas, como a vida é curta, nunca chegamos a ler tudo o que queríamos, menos ainda a reler tudo o que desejávamos. Às vezes, chegado ao fim de um livro empolgante, releio-o logo de seguida. Fiz isso, por exemplo, com O grande Gatsby, de Scott Fitzgerald, A obra ao negro, de Marguerite Yourcenar e outros. Mas o mais frequente é voltar de vez em quando e ler algumas passagens, saboreando a felicidade na beleza reencontrada: a Via sinuosa, de Aquilino, A sibila, de Agustina, Tchekov, por onde quer que se lhe pegue, o Lawrence Durrell, do Quarteto de Alexandria, os clássicos russos quase todos e tantos, tantos mais.
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Livros haverá, que foram encanto de juventude, e que talvez seja melhor não voltar a ler, para não sofrer desilusão. Suponho que está nesta categoria - mas não quero ser injusto – uma obra que me encantou na juventude, que emprestei a amigos e colegas, em várias saídas, até regressar, por fim, em lastimável estado, e donde a tive de recuperar a engenhos de amor e goma-arábica.
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Era um livro de Peréz Lugín, editado pela Portugália, na colecção Romances Sensacionais, com uma capa aos anos cinquenta, mas sem referência ao desenhador nem à data de impressão. Era A casa da Rua de Tróia, adaptado, anos antes, em folhetim radiofónico pela Emissora Nacional.
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Passava-se na Galiza, no ambiente estudantil de Santiago de Compostela, nos finais do século XIX. Penso que não é grande literatura, mas o amor pelas Rías Bajas, a pluviosidade de Santiago, a morrinha galega, os amores doces entre Carmen de Castro Retén e Gerardo Roquer y Paz, o ambiente estudantil, fizeram-me lê-lo e relê-lo, detrás para a frente e da frente para trás. Ainda por cima fora traduzido por um Boavida-Portugal, que pensei logo ser ainda meu parente.
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Encontrei este nome em algumas crónicas, suponho que no Diário Ilustrado (alguns se lembrarão ainda, em papel cor-de-rosa, e que era distribuído por todo o país em carochas vermelhos e amarelos, numa dinâmica nada conforme a esses tempos portugueses), mas nunca cheguei a confirmar a parentela.
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Foi um livro de encanto, para mim, mas não tenho coragem de o reler, pelas razões apontadas.

Há anos, estando eu em Madrid, num hotel próximo da Gran Via, descobri, ali perto, a Calle de los libreros. Uma rua pequena, escura, com muitas livrarias à antiga, estantes em madeira, escaparates envidraçados, livros encavalitados até ao tecto, com patine nos armários e neblina pelos recantos. Daquelas que já vão rareando, mas onde ainda se encontram preciosidades que a comercialização dos sucessos a metro e da literatura às toneladas, dos centros comerciais, vão fazendo desaparecer. Percorri várias delas como quem anda por um mundo perdido e maravilhoso até que, de repente, ao sair duma, dou de caras, no outro lado da rua, a toda a largura da fachada e a toda amplitude do meu ânimo, com La casa de la Troia - librería. Como era possível? O nome dela era o título original da minha encantada A Casa da rua de Rua de Tróia, que tanto me fizera sonhar na passagem da adolescência para a juventude. Imaginem a minha emoção: foi como se, no estrangeiro, encontrasse, ali, na rua, um amigo perdido desde o tempo de escola.
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Não é, pois, em vão, que se diz que os livros são nossos amigos - fieis e pacientes. Consultando a Internet vejo, agora, que há toda uma romagem de afectos instituídos, em Santiago e noutros lugares, a partir deste livro e deste título. Não o sabia, mas esta comunhão de amores e sentimentos é uma forma prática de fazer teoria da literatura, e, já agora, uma razão para teorizar sobre a literatura.
João Boavida

sexta-feira, 11 de junho de 2010

quinta-feira, 10 de junho de 2010

10 de Junho

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Camões e a tença
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Irás ao paço. Irás pedir que a tença
Seja paga na data combinada.
Este país te mata lentamente
País que tu chamaste e não responde
País que tu nomeias e não nasce.
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Em tua perdição se conjuraram
Calúnias desamor inveja ardente
E sempre os inimigos sobejaram
A quem ousou ser mais que a outra gente.
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E aqueles que invoscaste não te viram
Porque estavam curvados e dobrados
Pela paciência cuja mão de cinza
Tinha apagado os olhos no seu rosto.
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Irás ao paço irás pacientemente
Pois não te pedem canto mas paciência.
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Este país te mata lentamente.
Sophia de Mello Breyner Andresen

Pedro Eiras no Colégio

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Pedro Eiras nasceu no Porto em 1975. É docente de Literatura Portuguesa na Faculdade de Letras desta cidade, onde se licenciou e se doutorou. É também investigador do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa. A peça Passagem (2002), estudada pelos alunos do 7º ano nas aulas de Língua Portuguesa, foi o pretexto do convite (muito gentilmente aceite) endereçado ao autor para se deslocar ao Colégio.
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A reacção dos alunos foi excelente. O objectivo principal - ampliar o conhecimento da obra estudada, através do debate de ideias com o autor - foi plenamente cumprido.
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Além da peça referida, Pedro Eiras publicou os seguintes livros:
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Antes dos Lagartos, teatro, in Dramaturgias Emergentes, vol. 1, Dramat-Cotovia, 2001.
Anais de Pena Ventosa, romance, Campo das Letras, 2001.
Estiletes, contos, Fundação Ciência e Desenvolvimento, 2001.
Um Forte Cheiro a Maçã, teatro, Campo das Letras, 2003.
Recitativo dos Livros do Deserto, teatro, Campo das Letras, 2004.
As Sombras [Slow / A Última Praia antes do Farol / Uma Carta a Cassandra / O Pressentimento de Inverno / Cultura], teatro, Campo das Letras, 2005.
Esquecer Fausto. A fragmentação do sujeito em Raul Brandão, Fernando Pessoa, Herberto Helder e Maria Gabriela Llansol, ensaio, Campo das Letras, 2005.
A Moral do Vento. Ensaio sobre o corpo em Gonçalo M. Tavares, Caminho, 2006.
A Lenta Volúpia de Cair. Ensaios sobre poesia, Quasi, 2007.
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Com Esquecer Fausto ganhou o Prémio P.E.N. Clube Português de Ensaio referente a obras publicadas em 2005.

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As suas peças têm sido encenadas e lidas em Portugal, França, Grécia, Eslováquia, Roménia e Brasil.
A peça Um Forte Cheiro a Maçã foi traduzida para francês, editada por "Les Solitaires Intempestifs" e difundida pela rádio France Culture. A peça Uma Carta a Cassandra foi traduzida para romeno, editada no volume Teatru Portughez Contemporan e lida em Brasov.

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Aconselha-se vivamente a audição da entrevista “O Poder da Literatura”, disponível on-line, em http://jpr.icicom.up.pt/2007/02/a_literatura_por_pedro_eiras.html
Estão também disponíveis, no Youtube, trechos da peça Um Forte Cheiro a Maçã.
(Enviado por Hélder Moreira)

domingo, 6 de junho de 2010

Feira do Livro do Porto

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O sítio apresenta a programação e os destaques do dia. Clicar na imagem para aceder:
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Ainda o Prémio Camões - Ferreira Gullar

Livros do mês e homenagem a João Aguiar

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Ler notícia completa sobre a morte de João Aguiar aqui e aqui.
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Conheci o autor de A voz dos Deuses já na Universidade, graças à minha professora de Literatura Portuguesa, Doutora Micaela Ramon. Lembro-me que o recebemos num anfiteatro cheio de alunos de Letras. Na altura, estudávamos A Castro, de António Ferreira. A visita de João Aguiar consolidou a minha paixão pela história, pelo romance histórico e pelo mito inesiano. Afável, falou-nos de Inês de Castro e do seu livro Inês de Portugal, que eu já tinha "devorado". Sempre que, em aula, exploramos o episódio camoniano, lembro-me dessa manhã de Inverno, da amena conversa rodeada de livros e do seu fascínio incontestável pela história nacional. Deixo apenas algumas sugestões, já que a sua obra publicada é vastíssima.
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Oficina de escrita - texto poético (8ºAno)

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Deixo os trabalhos dos alunos do 8ºC, enviados pela Drª Lina Soares, no âmbito do estudo do texto poético.
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A cidade de ninguém

Quem é que se interessa
Pelos campos, montanhas, praias?
Na obscura paisagem urbana
Repleta de prédios, casas, automóveis
Ninguém.

Ninguém se interessa pela Natureza
Dos passarinhos a chilrear
Da flor a desabrochar
Ninguém

Ninguém se interessa pelo azul do céu
Do sol a brilhar
Do som da música
Ninguém

Há apenas e só na cidade
O vento sombrio
As nuvens negras
E a chuva intensa.
Sofia e Mariana, 8C
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A Cidade das Memórias
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Abro a porta.
Lá fora a multidão.
No meio mendigos famintos
Cercados por rejeição.
Avanço.
Calco calçadas desgastadas
Ladeadas por casas desmoronadas.

Desemboco no rio qual afluente
Ouço o crepitar da corrente
E repouso sob o sol ardente.
Bebo um cálice do vinho do Porto
E abstraio-me do Mundo torto.

Avisto os rabelos
Uma brisa levanta-me os cabelos.
Os barcos atracam no cais
Enfeitado por arranjos florais.
Retomo a caminhada
Atravesso a ponte arqueada
Com uma vista privilegiada.

Uma cidade carregada de memórias
Que deve o seu nome Invicta
Às suas inúmeras vitórias.
Hugo , Baltasar e António Pedro, 8C
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Cidade
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Não há vida,
Não há cor.
Os dias são todos cinzentos.
Altos prédios desgrenham a cidade com furor,
Aviões rasgam os céus.
Uma densa e pesada neblina percorre a cidade
Ocultando um cadáver que repousa a um canto,
Não existe pranto;
E só o descobrem de manhã,
Quando o sol, pálido e frio,
Paira sobre um fio
De carros, multidões
Todos envoltos num círculo de calor,
Tentando rejeitar a dor,
De ver o sol nascer,
Vermelho e sangrento,
Como as feridas que as cidades abrem,
Neste mundo turbulento.
João Daniel Linhares Moreira; João Diogo Oliveira; João Diogo Barreira, 8C

Mostra de Portefólios de Línguas

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Ficam as imagens da exposiçãodos portefólios de línguas dos alunos de Secundário. Melhor que ver, é folhear, percorrer as folhas em silêncio, sentir o trabalho, o empenho, o esforço na ponta dos dedos; sorver as horas e a inspiração, (re)ler, (re)pensar...
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