segunda-feira, 31 de maio de 2010

Mafra: as histórias da História

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No dia 23 de Maio, Domingo, um grupo de alunos do 11º e 12ºAnos do Colégio dirigiu-se a Mafra, para assistir à representação, a cargo das produções Eter, de Memorial do Convento, de José Saramago, num cenário único: o próprio Convento.
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A parte da tarde, após o almoço, foi dedicada à visita guiada pelo monumento, tendo os alunos destacado sobretudo a qualidade dos guias e o detalhe da informação fornecida, sempre intercalada com curiosidades, detalhes humorísticos e grande dinamismo. O efeito foi surpreendente: muita vontade de ler Saramago (no caso do 11ºAno) e a descoberta de outras histórias, renegadas pela versão oficial da História (os morcegos da Biblioteca, as ratazanas devoradoras de homens, as vestes do Rei e da Rainha...). De facto, os guias conseguiram transmitir o mesmo ritmo, a mesma ironia, a mesma crítica e o mesmo carácter subversivo do narrador da obra... Saramago gostaria certamente de ter assistido...
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"Que seria de nós se não sonhássemos"
José Saramago

domingo, 30 de maio de 2010

Artes de molho

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Eis alguns dos trabalhos da exposição "Artes de molho", que reuniu o que de melhor os nossos alunos de Artes produzem.
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terça-feira, 25 de maio de 2010

Colóquio "Literatura Portuguesa e Construção do Passado e do Futuro"

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Via Ciberescritas. Transcrevo:
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Helder Macedo fala da “História como Profecia, Profecia como História: Fernão Lopes, António Vieira e Oliveira Martins”. A professora brasileira Cleonice Berardinelli, também na mesa, contou do seu estranhamento quanto às atribuições de dois dos poemas de “Mensagem”, de Fernando Pessoa. Quem sabe se por lapso do poeta ou por culpa do seu editor.
Na primeira fila da plateia está Eduardo Lourenço e a escritora Lídia Jorge.
O colóquio a decorrer no Salão Nobre da Reitoria da Universidade de Lisboa tem um website onde as sessões podem ser vistas em directo.
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domingo, 16 de maio de 2010

Prémio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa

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Vale a pena consultar a lista, pelo menos para descobrir o que de melhor se escreve em português pelo mundo inteiro...
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Clicar aqui:

http://static.publico.clix.pt/docs/cultura/lista_finalistas_15052010.pdf

Ler - Maio

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quinta-feira, 13 de maio de 2010

Leitura(s)...



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É com prazer que anuncio a colaboração de um colega de Ciências no Lusografias. Deixo as sugestões do professor André Rodrigues:
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Um livro são emoções, são reflexões, mudanças na forma de ver e sentir o mundo, de nos posicionarmos em relação a nós e aos outros. Desculpem, falo de um bom livro, não de um qualquer conjunto de letras organizadas em frases e capítulos, que apenas nos gastam fotorreceptores da retina! Mas, mantendo o fio na meada, gostava de falar sobre dois bons livros que li ultimamente (dois e não um porque poderiam até ser livros-irmãos, de tão próximos nos temas e no que despertaram em mim): Sobre Humanos e outros animais (John Gray, Lua de Papel) e O Filósofo e o Lobo (Mark Rowlands, Lua de Papel) falam de humanos, de lobos e animais no geral, de consciência, amor, morte e, no fundo, sobre o que todos (humanos e outros animais) buscamos, o bem-estar ou a felicidade.
Dois livros que misturam animais e reflexões mais ou menos filosóficas agradam-me, não nego. Mais do que respostas, encontrei um conjunto grande de questões, para juntar às que fui coleccionando no meu caminho, e que, ao invés de me deixarem frustrado por perceber o pouco que sei e a desproporção tremenda em que as minhas certezas vs dúvidas se encontram, me deixam mais livre, mais tranquilo, mais atento ao Tempo e à necessidade de o saborear e ouvir e tocar, mais livre de quadros mentais que me induzam no (talvez terrível) instinto de formar categorias constantemente (carregamos esse instinto da nossa história evolutiva), de fazer contas a cada segundo, de ter uma explicação para tudo.

Deverei revelar algo sobre os livros, devo, para motivar para a sua leitura, isto não é retórica!

Ora, poderão esperar, no primeiro, a contextualização histórica, de um ponto de vista filosófico em particular, da posição do Homem e dos outros animais no mundo vivo (surgem referências a praticamente todos os grandes filósofos, todos eles reflectiram de alguma forma sobre a dicotomia Homem / Natureza), e considerações sobre a importância real da consciência na nossa percepção do mundo e dos outros e nas nossas acções. Algumas ideias: 'A realidade subjacente à experiência – a que Kant chamou o mundo numenal das coisas em si – é incognoscível.' (…) 'A teoria darwiniana diz-nos que o interesse na verdade não é necessário para a sobrevivência ou a reprodução. Muitas vezes é mesmo uma desvantagem.' (…) 'Porque deverá um jovem reprimir as suas paixões florescentes em benefício dos interesses sórdidos da sua própria velhice fanada? Por que motivo esse velho problemático, que usará o mesmo nome que ele dentro de 50 anos, estará mais próximo dele neste momento do que qualquer outro ser que se possa imaginar?'

Do livro que nasce da relação entre um filósofo decadente e um lobo podem encontrar-se histórias perfeitamente comuns da relação de um homem com o seu animal de estimação (?), mas sempre como mote para pensar essa mesma relação, a vida do cão enquanto espécie eminentemente domesticada, do lobo enquanto ancestral hoje e sempre selvagem e indomesticável, das vidas que levam na companhia do seu dono, que acontece ser um filósofo hedonista com progressivo afastamento e desinteresse pela partilha com outros humanos e vício do álcool, e uma quase fusão com os seus animais, não num sentido religioso ou metafísico, mas uma aproximação à realidade comum a todos os animais, que, embora o neguemos e soframos com isso, é o grosso da nossa vida. Escreve Rowlands, referindo-se ao seu irmão lobo: 'A maneira mais importante de recordar os outros é ser a pessoa que fizeram de nós – pelo menos em parte – e viver a vida que nos ajudaram a delinear'.
Para terminar, saliento a excelente bibliografia que nos é apresentada em ambos os livros, que nos abre as portas para outras leituras, isto é, outros voos de reflexões e (re) construções de quem somos e queremos ser. Ficam duas ideias ousadas, provocações, se assim quiserem chamar-lhes, sobre a Vida, o Trabalho e o Tempo, para (preciosos) momentos de ócio...
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' Nada é mais estranho à época actual do que a ociosidade. Quando pensamos em repousar dos nossos trabalhos, fazemo-lo apenas com o objectivo de a eles regressarmos.'

'Os outros animais não precisam de um propósito na vida. Contraditoriamente, o animal humano não pode viver sem ele. Não poderemos pensar que o propósito da vida poderá passar pela sua simples observação?'
André Rodrigues

Projecto de Promoção de Leitura

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Deixo uma sugestão enviada pelo Dr.André Rodrigues:
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Aconselho a leitura de um trabalho financiado pela Casa da Leitura / Fundação Calouste Gulbenkian e que se debruça sobre um projecto que acontece aqui mesmo ao lado, no Colégio Nossa Senhora da Paz, e que me parece muito interessante. Talvez também porque conheça a pessoa que dinamiza o projecto, tenho a certeza que este é uma mais-valia em qualquer escola, pública ou privada.
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Clicar na imagem para aceder:
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segunda-feira, 3 de maio de 2010

Livros do Mês - Maio

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7ºAno - (Novas) Aventuras de Ulisses

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O sol brilhava e no sopé de uma montanha eu e os meus companheiros descansávamos. Repentinamente, uma brisa arrefeceu-nos a alma e o coração apertou-nos a garganta. Grossas bátegas começaram a tocar no chão cada vez com mais intensidade, até que surgiram ao longe multidões de guerreiros. Não estávamos preparados para combater. Fugimos em direcção às nossas colossais embarcações e navegámos em demanda de Ítaca onde Penélope e Telémaco me esperavam ansiosamente. No entanto, fortes correntes mudaram-nos a trajectória e fomos parar a uma ilha deserta.
Passaram-se dias, e o tempo arrastava-se tristemente. Certa manhã, convoquei todo o meu exército e instiguei-o a arranjar uma solução para regressarmos a Ítaca, apesar das más condições que se faziam sentir. Após um doloroso dia, encontrámos uma sombria gruta que assobiava terror. Entrei juntamente com Nestor. Por dentro, as milenares paredes alteravam o sentido da vida. Ouviram-se vozes grossas e prolongadas. Tentei descobrir de onde vinham, até que … dez guerreiros me agarraram bruscamente. Nestor refugiou-se e apressadamente foi pedir auxílio. Eu estava meio inconsciente, não tinha noção do local onde me encontrava e só via guerreiros em meu redor. Havia um que se distinguia pela sua envergadura. Dirigi-me a ele e, sem demora, cravei-lhe uma faca no coração. Nunca fui amigo da guerra mas estava desesperado! A guerra começara ali, com a morte do chefe inimigo. Lembro-me de que matei dezassete pessoas para sairmos vitoriosos. Sentia-me desumano, ouvia ruídos de sofrimento e imaginava como seria perder o meu filho e a minha doce mulher. Contudo, como era chefe, tinha que dar o exemplo e foi o que fiz. Preparámo-nos e retomámos a viagem rumo a Ítaca.
José Pedro Melo (7D)
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A Ilha-tartaruga
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Na viagem de regresso à Grécia, eu e os meus marujos enxergámos uma pequena ilha com uma forma extravagante. Pedi ao capitão que tomasse o seu rumo, para podermos explorar esta ilha supostamente desconhecida.
Quando nos aproximámos, pudemos verificar que o ilhéu era esverdeado e em forma de concha. Algumas míseras árvores habitavam no local. Porém, os seres-vivos eram raríssimos.
Acostámos e descemos, prontos para a aventura. A incomum terra esverdeada era extraordinariamente dura. Resolvemos dividir-nos em quatro grupos para pesquisarmos a ilha em diferentes direcções. O meu grupo foi para Oeste, precisamente a direcção oposta à do nosso barco. Julgámos que tudo era estranho, especialmente o solo. Quando chegámos à costa, comentei com os outros marinheiros que a corrente do mar fazia parecer que a ilha se estava a movimentar.
Repentinamente, um grito de socorro soou por toda a ilha. Era o capitão, que tinha ficado no barco e, sabe-se lá como, o barco desprendera-se e estava a afastar-se da ilha, ou melhor, a ilha é que se estava a afastar. Mas como é que isso era possível? Já o barco tinha desaparecido, surgiram os mareantes encarregados de irem em direcção a Sul, afirmando terem visto emergir uma ilhota bastante junta a esta. Corremos para lá e verificámos que era verdade.
De súbito, ambas as ilhas estremeceram violentamente e começaram a afundar lentamente. Então, observámos que tudo isto não passava de uma gigante tartaruga a descer às profundezas da água. Não tínhamos salvação, já que também não tínhamos nenhum meio de fuga. Quando a ilha – perdão – a tartaruga imergiu totalmente, as correntes, as marés e as vagas arrastavam-me para o fundo. Já não conseguia regressar à superfície, e mais vinte segundos sem respirar sufucar-me-íam. Dezanove segundos e meio depois, aconteceu algo inteiramente inesperado...
Um trovão acordou-me! Tudo tinha sido um sonho, nada mais! Subi lá para cima, para conversar com os meus colegas. Estávamos todos debruçados sobre o mar quando avistei, e desta vez era realidade, a ilha do meu so... pesadelo! Este podia, afinal, ter sido um aviso, por isso, antes que alguém a visse, sugeri irmos para baixo jogar cartas. Todos acharam uma boa idea.
Ainda bem que ninguém, excepto eu, é claro, sequer “sonhou” que estávamos a passar por uma ilha-tartaruga, ou, talvez, uma tartaruga-ilha. Depois, o resto da viagem decorreu sem incidentes.
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fim...
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«Como fim? Sou o melhor amigo de Ulisses, e fui nesta viagem. Só vos quero contar um pormenor: o resto da viagem não foi totalmente sem incidentes. Aconteceu que, quando já estávamos a chegar, ele viu uma pequena tartaruga bebé e, com o susto, deu um salto e acertou com a cabeça em cheio no mastro, desmaiando.»
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Bom, depois deste pormenor, que eu preferia não ter contado para o bem da minha reputação, penso que já poderei dizer, então, a palavra
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Fim!!!
Filipe Rocha (7B)
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Sinto-me só! Os meus pés quase que são sugados pela gélida neve branca, as mantas que cobrem os meus ombros já não me aquecem e estou cheio de fome. O céu encontra-se crepuscular, não havendo, assim, nenhuma luz na grande floresta. No entanto, o cheiro das esguias árvores alimenta a coragem e abstraem-me das desesperantes saudades que tenho de Penélope e do meu filho.
Subitamente, ouço um barulho, quase como o som de um lobo a uivar. No entanto, não tenho a certeza. Tento seguir o ruído até que me deparo com uma pequena casa. Esta está rodeada de pinheiros muito elegantes e coberta de neve. É feita de madeira escura cortada em grossas tábuas que completam as paredes. As pequenas janelas quadradas mostram as paredes cor de laranja da sala de estar.
Decido deixar o barulho para trás e bato à porta daquele amável lar. Um senhor, andrajosamente vestido, com apenas uns trapos no corpo, abre-me a porta. Vendo os meus joelhos trémulos e os meus lábios roxos, diz apressado:
- Oh, meu Deus! Entre, entre senhor. Maria, arranja sopa para este pobre homem.
Estou chocado com a hospitalidade que este casal e o seu filho me dão. Vou passar a noite neste confortável lar e, em princípio, partirei amanhã, mas quem sabe? Hoje pensava que estaria com os meus companheiros de guerra e aqui estou eu, perdido mo meio da floresta.
Gabriela Nascimento (7B)
Textos enviados pelo Dr. Hélder Moreira

8ºAno - O Diário do Gato Malhado


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23 de Janeiro de 1920

Faz agora 48 horas que deixei o parque, em direcção do Fim do Mundo. Ah! O parque! Terra tão bonita em que costumava viver. Todos os dias o sol nascia no horizonte. Laranja, o preguiçoso, acordava os seres mais madrugadores do parque, como os galos, as galinhas, as borboletas, os insectos e a maioria dos pássaros. Quatro horas mais tarde, o sol erguia-se já no céu, forte e radioso, despertando os cães, os patos, as vacas, as ovelhas, e todos os outros animais. Por fim, ao meio-dia, atingia o ponto mais alto do céu, acima das nuvens e da lua. Na sua máxima glória, iluminava todos os pequenos e discretos recantos do parque. Nessa altura, acordava eu. Espreguiçava-me durante mais de uma longa hora e depois levantava-me. Podia apreciar toda a beleza florida do jardim. As flores, espalhadas por longos campos, jogavam jogos de cores durante todo o dia. Lírios, rosas, margaridas e tulipas brincavam umas com as outras, atirando pétalas e pólen pelo ar. As árvores, vestidas com volumosos trajes de folhas, albergavam a mais diversa quantidade de seres curiosos. No lago nadavam os patos e milhares de peixes coloridos e saborosos. No céu pairavam todo o tipo de aves, desde das majestosas águias a pequenos passaritos, como andorinhas. Andorinhas leves e graciosas que enchiam o céu de alegria. Andorinhas como a minha querida Sinhá, que traiu o meu coração fingindo que me amava. No dia do seu casamento, provou decisivamente que não queria saber de mim, condenando-me a caminhar para o mais longínquo lugar do planeta, pois eu não suportaria vê-la mais tempo ao lado daquele Rouxinol.
Hoje cheguei a esta terra inóspita e deserta. Não se avista nada em redor, para além de monótonas poeiras de terra negra. Não há vegetação a cobrir o solo. Não há água a para humidificar a terra. Não há sol para iluminar o dia. Não há sequer a mínima manifestação de vida, para além de mim e da maldita cascavel que passa a vida debaixo do chão. No entanto, prefiro passar o resto dos meus dias a apodrecer neste inferno, do que observar Sinhá a levar uma vida feliz, sem mim.
Gato Malhado

(Duarte Magano, 8B)
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5 de Maio de 1920

Querido Diário,

Hoje o meu dia começou com uma ida ao lago para refrescar os bigodes e um passeio matinal pelo parque e depois deitei-me ao sol para aquecer e, quando dei por mim, estava a pensar na Andorinha Sinhá. Não me saía da mente o seu riso contagioso, o seu espírito jovem e inocente, o seu olhar atrevido, o seu pairar no ar tão suave como uma pena a esvoaçar ao sabor do vento. O espírito da Andorinha atrai-me. Sinceramente, não sei o que me deu para ver um ser tão perfeito como um diamante cristalino. Talvez esteja a ficar doente. Bem! Não há-de ser nada, mas o que é certo é que a Andorinha está a alimentar a minha felicidade, por isso deve estar a curar-me, qualquer que seja a minha doença, acho eu …
Não consegui contentar-me com o meu pensamento, tive de ir vê-la com olhos reais. Quando cheguei lá, a minha felicidade ficou satisfeita. Ela chamou-me de feio, mas cá para nós, acho que era inveja da minha beleza felina.
E aqui estou eu a olhar para as estrelas e para o luar, a ver no horizonte o rosto elegante da Andorinha Sinhá. Céus! Devo estar mesmo a ficar doente… tudo o que faço faz-me lembrar a Andorinha. Acho que amanhã vou consultar a Coruja.
Obrigado por seres o meu eterno e fiel ouvinte. Adeus e até amanhã.
Gato Malhado
(Inês Pinto, 8B)
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3 de Agosto de 1920

Querido diário,

Mais uma vez, venho desabafar nas tuas páginas, as boas e más vivências, pelas quais a minha vida é constituída.
Estava um dia lindo. O sol, bem lá no alto, aquecia e iluminava todas as pequenas e engraçadas criaturas que, infelizmente, à minha passagem, se escondiam na sombra e na penumbra dos grandes e imponentes carvalhos.
Mais uma vez me encontrei com a esguia e bonita Sinhá. Finalmente, pela primeira vez na vida, não me sinto triste e excluído por quem me rodeia e sinto que alguém gosta de mim.
Hoje, ia eu a dar um pequeno passeio pela floresta após o delicioso e recheado almoço, e reparei ao longe, no Rouxinol, que estava acompanhado pela minha querida Andorinha Sinhá. O quanto me irrita o Rouxinol! Esse pequeno animal, que só dá nas vistas, com as suas grandes cantorias… Odeio-o tanto, que por vezes, só tenho vontade de o entregar de bandej, à inimiga de longa data, Cobra Cascavel, que, com grande audácia e bravura da minha parte, expulsei.
Cheguei-me à beira deles. Imediatamente, o medroso do Rouxinol, pôs-se a longas milhas dali, e eu fiquei a sós com a minha adorada.
Envolvemo-nos numa pequena discussão, que, como sempre, acabou em risos e abraços.
Em conversas infindáveis, sobre todo o tipo de matérias, o tempo foi passando rapidamente, e enquanto acompanhava a andorinha a casa, apareceram os pais desta, que entre sermões e ralhetes, a levaram para longe de mim. E assim fiquei eu, sozinho, enquanto os via a desaparecer pelo meio da floresta.
Este pode não ter sido um dos meus melhores dias, mas qualquer dia passado com a Andorinha Sinhá é bom.
Gato Malhado
(Tiago Simões, 8B)
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15 de Junho de 1920

Querido Diário,

Hoje passei o melhor dia da minha vida com a minha bela, jovem e adorável Andorinha Sinhá.
De manhã, ao acordar, espreguicei-me e vi o sol num tom alaranjado que irradiava luz e pureza naquele dia maravilhoso. Posteriormente fui lavar-me ao lago dos cisnes. Depois de lavar as minhas patas e o meu focinho, penteei o meu pêlo para a minha amada me ver bem arranjado….
Após me ter aprontado, deparei-me com a passagem do casal de patos, sempre bem organizados com a Pata Branca e o Pato Negro à frente do bando, seguidos pelos seus filhotes.
Cumprimentei – os, mas eles desataram a fugir de mim. Com certeza não foi pela minha magnífica beleza, um gato tão elegante e bonito como eu!...
Só a minha Andorinha me compreende. Estas estranhas criaturas do parque não sabem quem eu sou. Dizem por aí que só sirvo para afastar a cobra Cascavel do parque.
Vou-me deixar de lamentações e vou passar à acção.
Sentia – me só e por isso fui procurar a Andorinha. Encontrei-a a sair da aula de canto com o Rouxinol, o que não me deixou muito contente. Fiz – lhe o nosso sinal – um miar esganiçado que mais parecia um uivo, e ela percebeu logo que eu estava por perto.
O Rouxinol levantou as asas e voou de medo.
Eu saí do meu esconderijo e cumprimentei-a.
Ela sugeriu que fôssemos dar um passeio pelo parque e eu concordei.
Fomos até ao famoso lago dos patos com vários nenúfares, rodeado por tufos de erva alta e que, por acaso, àquela hora não tinha nenhum pato.
A Andorinha, como sempre, acompanhava – me uns 3 ou 4 metros acima da minha cabeça, pois apesar de ela saber que eu a amava, ainda não confiava totalmente em mim.
Deitei-me ao sol, enquanto ela pousou num ramo de um sobreiro.
Conversámos durante a tarde inteira sobre as nossas diferenças, os nossos gostos, o nosso amor impossível, os habitantes do parque, o que os pais da Andorinha achavam de mim. Enfim, um pouco de tudo.
Quando, ao cair da noite, chegou a hora da despedida, chegou também a hora do momento mais feliz da minha vida.
Ela desceu a voar e tocou-me ao de leve com a sua asa esquerda e eu pude ouvir os batimentos do seu pequeno e puro coração. Depois, ela ganhou altura e lá no alto ainda me vislumbrou de relance.
Acho que aquele gesto é como se fosse um beijo.
Acho que ela gosta de mim!
Agora vou dormir para amanhã voltar a conversar com a Andorinha.
Boa noite, diário.
Gato Malhado
(João Pedro Silveira, 8B)
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Textos enviados pela Drª Ascenção Rocha

Musicografias

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Este mês voltamos ao Brasil.
Disse em Dezembro passado que não podíamos entender o Brasil como um deserto cultural e até citei alguns nomes ligados à cultura brasileira. Ficou, no entanto, por referir a riquíssima cultura mais popular, mas nem por isso menos interessante.
Este mês trago-vos uma música de Jorge Aragão. "Sambista"- palavra que só é bonita se for lida com sotaque brasileiro - compôs e compõe para os mais importantes artistas desse estilo musical. Apesar disso, a minha escolha não recaiu sobre um original dele, mas sim sobre um arranjo de uma música dita erudita - o Ave Maria de Bach/Gounod - arranjo este em "jeito" de samba e que me parece translúcido da alma brasileira, festiva, alegre, e em muita coisa muito distante da alma saudosista lusitana.
Joaquim Santos Silva
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