quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Livro é muito mais do que a antologia corrente da existência


Póvoa de Varzim, 22.02.2014 - Sete escritores debruçaram-se sobre o desafio da frase “Cada livro é a antologia corrente da existência”.

 
 
 
 
 
Chegou-se à conclusão de que cada livro não é a antologia corrente da existência, aliás, Miguel Sousa Tavares considera que “é muito mais do que isso”.

A Mesa 5 do Correntes d’Escritas voltou a exceder a expetativa de público, que lotou o Centro de Congressos do Axis Vermar, esta noite de sexta-feira, dia 21. O painel moderado por Michael Kegler contou com as explanações de Carlos Quiroga, Joana Bértholo, Manuel da Silva Ramos, Manuel Jorge Marmelo, Miguel Sousa Tavares, Ondjaki e Rui Zink.

O primeiro a abordar o tema foi o galego Carlos Quiroga, que realizou um trabalho de campo prévio, indo às livrarias perguntar se tinham “Antologia corrente da existência”, no que foi entendido nalguns casos como um ato provocatório. Recebeu como resposta algumas perguntas de surpresa total: “Corrente como? Da existência de quem?”

Apesar de todo o esforço, Carlos Quiroga não deu o trabalho totalmente por perdido, pois da “conversa com o último fulano, veio a ideia do cruzamento com a propaganda que há algum tempo recebia: trata-se do anúncio de um revolucionário conceito de tecnologia de informação chamada de Local de Informações Variadas Reutilizáveis e Ordenadas – L.I.V.R.O.. Um avanço fantástico, sem fios nem circuitos elétricos nem pilhas, não requer que se conete ou ligue a nada e é tão fácil de usar que até uma criança o pode utilizar”…

Joana Bértholo estreou-se no Correntes e como resposta ao desafio resolveu contar a sua experiência de “fazedora de livros” num projeto social na Argentina (Cartonera), em que cada livro era feito à mão por artistas e artesãos, numa comunhão de esforços que resultava num objeto único. Deixou a reflexão – “um livro está para a existência como uma flor está para um jardim”.

Manuel da Silva Ramos contou a reflexão que realizou para responder à questão colocada por esta Mesa “Cada livro é a antologia corrente da existência”. O autor resolveu olhar para os seus 18 livros publicados e, através deles, olhar para o passado “com olhos de lince discreto”. E, facilmente, vê a sua vida passada, com as transformações e etapas de homem, com uma sensação estranha: “tão poucos livros para tão grande vivência”.

O premiado deste ano do Correntes d’Escritas, Manuel Jorge Marmelo afirmou que não percebia muito bem a frase proposta. A dificuldade começa logo na expressão corrente, “para a qual existem para cima de 20 significados possíveis; existência é uma daquelas palavras totalitárias que facilmente inclui a vida e a realidade inteiras. E antologia tanto pode ser uma simples coleção atualizada de textos como o estudo das flores. Supondo ainda assim que a expressão antologia corrente da existência designa uma coleção atualizada da vida ou da realidade e que esta seleção transitará para cada livro que escrevo, creio que acabaríamos por não concluir grande coisa”.

Marmelo afirmou ainda que “os livros de ficção que escrevo são de algum modo a tal antologia corrente da existência, mas ao mesmo tempo não o são de modo nenhum”. É que a ficção cria uma realidade paralela.

Ondjaki considerou que “cada vida é uma antologia à solta” e resolveu apresentar ao público do Correntes a biografia do seu vizinho. Na história apresentada pelo escritor angolano, o seu vizinho é que é o autor dos seus livros, as suas histórias são a ficção criada pelo vizinho, afinal, ele nunca escreveu nada.

Rui Zink confessou que não esperava que estivessem 600 pessoas a assistir à sessão e saudou o “milagre das Correntes”, que conseguiu reunir mais pessoas que os “446 partidos de esquerda, que se formaram nas últimos 48 horas, para unir a esquerda”.

Rui Zink concorda com a frase de título da Mesa 5: “parece óbvio, já que tudo o que eu escrevo tem uma ligação direta ao quotidiano, e numa daquelas coincidências espantosas, tudo o que eu leio também tem tudo a ver com o que estou a viver”. Zink afirmou que com o livro “A instalação do medo” (de capa cinzenta) quis salvar Portugal, entretanto a corrente de salvação do escritor estende-se para outro livro de capa “rosa chiclete” – “A metametamorfose e outras fermosas morfoses” – com o qual quis salvar o Mundo.

Miguel Sousa Tavares responde Não à pergunta “Cada livro é a antologia corrente da existência?” O autor considera que se o livro (que contém toda a condição humana) fosse a antologia corrente da existência, seria a “pior exigência que se poderia fazer a um contador de histórias, que era a de lhe retirar o direito essencial à mentira. Um livro, um romance não é nem uma antologia, nem um relatório ou sequer um relato da existência, apenas dá conta de que quem o escreveu estará vivo e essa é a única ligação à existência, a sua própria existência.”
 
Enviado por Auxília Ramos

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Coriolano, até hoje, no Teatro Nacional de São João

Coriolano no Teatro São João, só até Domingo, 16/Fev/2014: 3 horas sem parar para bocejar
Até ao próximo Domingo [hoje], dia 16, está no Teatro São João uma das melhores peças que o Porto viu nos últimos anos.
Sim, é do Shakespeare e dura quase 270 minutos, já incluindo 15 de intervalo.
Mas vale cada minuto para contar a história da coerência de um general romano, entre o campo de batalha e os jogos de poder no Capitólio.
Treze atores desdobram-se em 40 personagens, ora com personalidade própria, ora parte de multidões enfurecidas, desconfiadas, manipuláveis. Albano Jerónimo, no papel do protagonista, Coriolano, tem uma interpretação saída das entranhas, intensíssima; Ana Bustorff, a sua mãe, é elegante e subtil quer na força quer na fraqueza; e num elenco que se apresenta todo em grande nível, destacam-se ainda a raiva de Daniel Pinto e a diplomacia de Pedro Frias.
O cenário depurado, réplica das escadas do Parlamento, é usado com mestria por esta encenação contemporânea; a agressividade do ambiente é reforçada pelas coreografias com reminiscências militares; a fotografia, certamente não por acaso, cria instantes poéticos no meio do turbilhão; o texto, apesar da densidade do vocabulário, confronta-nos com a representação do povo pelos eleitos e a fidelidade a princípios, tão atuais hoje como há 25 e há 4 séculos.
 
Ou o público, que aplaudiu de pé mal caiu o pano, muito se engana, ou é definitivamente uma peça a não perder. Venham mais destas!
Pedro Pardinhas

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Correntes de Escrita 2014

A celebrar 15 anos.













Deixamos o programa:

Aí está, quase definitivo, o programa das Correntes deste ano, entre 20 e 22 de Fevereiro:

Mesa 1 - Quinta-feira, dia 20, 17.30
Tema: Pensamentos não são correntes de ninguém
Participantes: António Gamoneda, Eduardo Lourenço, Gonçalo M. Tavares, Lídia Jorge, Ungulani Ba Ka Khosa
Moderador: José Carlos de Vasconcelos

Mesa 2 - Sexta-feira, dia 21, 10.00
Tema: palavras + correntes = x
Participantes: Afonso Cruz, Helder Macedo, Ivo Machado, Miguel Real, Patrícia Portela, Valério Romão
Moderador: João Gobern

Mesa 3 - Sexta-feira, dia 21, 15.00
Tema: A ficção nos livros é corrente de verdade
Participantes: Ana Margarida de Carvalho, António Mota, Boaventura Cardoso, João Ricardo Pedro, José Ovejero, Michel Laub
Moderador: Francisco José Viegas

Mesa 4 - Sexta-feira, 21, 17.30
Tema: De correntes e cont(r)a-correntes se faz a poesia
Participantes: Ana Luísa Amaral, Golgona Anghel, João Moita, Margarida Ferra, Valter Hugo Mãe
Moderadora: Isabel Pires de Lima

Mesa 5 - Sexta-feira, 21, 22.00
Tema: Cada livro é a antologia corrente da existência
Participantes: Carlos Quiroga, Joana Bértholo, Manuel da Silva Ramos, Manuel Jorge Marmelo, Miguel Sousa Tavares, Ondjaki, Rui Zink
Moderador: Michael Kegler

Mesa 6 - Sábado, 22, 10.00
Tema: Coração de correntes desabitado: a poesia
Participantes: Helga Moreira, Inês Fonseca Santos, Manuel Rui, Pedro Teixeira Neves, Uberto Stabile, Vergílio Alberto Vieira
Moderador: José Mário Silva

Mesa 7 - Sábado, 22, 15.30
Tema: Não são minhas as correntes que escrevo é outro que as escreve em mim
Participantes: Andrés Neuman, Inês Pedrosa, José Rentes de Carvalho, Manuel Rivas, Onésimo Teotónio Almeida
Moderadora: Ana Sousa Dias