segunda-feira, 31 de março de 2008

Poesia

Deixo um vídeo de uma versão de "Poeta Aprendiz" de Vinicius de Moraes. A simplicidade e o génio do poeta brasileiro na voz de Adriana Calcanhoto.

domingo, 30 de março de 2008

Lista dos melhores livros

"Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de livraria"


Jorge Luis Borges (escritor argentino)




A pedido de alguns alunos, deixo aqui várias propostas de leitura. Tentei não limitar as escolhas à língua portuguesa, apresentando sugestões da literatura universal. Remeto, através de um artigo do Público, para uma lista de obras exclusivamente portuguesas, da autoria de Fernando Pinto do Amaral; para uma lista promovida pela revista TIME e uma outra, mais comercial, elaborada pela FNAC. Naveguem pelos endereços sugeridos. Encontrarão vários caminhos... E fico à espera da vossa própria lista...


Antes porém, deixo um testemunho muito interessante de José António Gomes, e muito pessoal, que tomei a liberdade de transcrever: é a lista de um professor universitário do Porto que dedicou a sua actividade académica à literatura portuguesa. Pode ser uma referência e mais um caminho:



"Construir uma lista de «10 livros da minha vida»… e ficar a lamentar-me por não poder acrescentar outros tantos! Muitos mais: Safo e as Cantigas de Amigo galaico-portuguesas, os sonetos de Camões e os haikus de Bashô, o Jorge Manrique das Coplas por la Muerte de Su Padre e o Padre António Vieira do Sermão de Santo António aos Peixes. Ou o Stendhal de O Vermelho e o Negro, a Madame Bovary de Flaubert, o Camilo das Novelas do Minho e da trilogia «realista», o Marx do Manifesto, Os Maias de Eça, os contos e aforismos de Oscar Wilde e as Elegias de Duíno de Rilke. Mais os livros nucleares de Pessoa e C.ª heteronímica. E o Lorca, o Cernuda e o Ramón Gómez de la Serna. O Aquilino de O Malhadinhas e a maioria dos contos de Torga. Os livros da adolescência: As Vinhas da Ira do Steinbeck, Um Rapaz da Geórgia de Caldwell, Por quem os Sinos Dobram de Hemingway e mais uns tantos norte-americanos. O Fogo e as Cinzas do Manuel da Fonseca, o Malraux de L’Espoir, o Primo Levi de Se Isto É um Homem. E os poemas de Brecht, Neruda e Paul Celan. O Giorgio Bassani de O Jardim dos Finzi-Contini, o Sartre de As Palavras, o Kerouac de On the Road e o García Marquez dos Cem Anos de Solidão. O Octavio Paz, o Giorgos Seferis e o Drummond. Os Trinta e Três Nomes de Deus de Marguerite Yourcenar. O Roland Barthes de O Prazer do Texto. O Brodsky da Marca de Água. A Directa do Nuno Bragança, o Levantado do Chão do Saramago e o A-Ver-O-Mar de Luísa Dacosta. A Poesia Toda do Herberto Hélder e o Ciclo do Cavalo do Ramos Rosa. Os Olhos de Ana Marta de Alice Vieira, e todos os outros que gostaria de ter incluído na lista: Baudelaire, Michaux e Guillevic, Pavese e Ungaretti, o Cesário, o Pessanha e o Nobre, a Irene Lisboa, a poesia de Sena, Cesariny, Ruy Belo e Eugénio de Andrade, a de Fiama e Luiza Neto Jorge, o Mário de Carvalho de Um Deus Passeando na Brisa da Tarde…). Em suma, os «10 livros de uma vida» nem sempre são as melhores obras que lemos (aos treze lia com desvelo A Família Inglesa do Júlio Dinis e, aos dezassete, lia e relia o Howl and Other Poems de Ginsberg!). Algumas talvez não mereçam sequer uma releitura. Mas, provavelmente, são obras que determinaram mudanças na nossa vida (pelo menos, na nossa vida de leitores). Livros em que nos (re)encontrámos. Ou livros em que nos perdemos – para, em seguida, tomarmos novo rumo. Que é sempre um caminho pontuado por descobertas ao virar de cada esquina. Por isso, quando passarem alguns anos sobre esta lista, os «10 livros da minha vida» serão porventura outros. Ou talvez não. Aí ficam, então, os dez de agora. Sem hierarquia, pela ordem alfabética do apelido do autor.

1. Livro Sexto de Sophia de Mello Breyner Andresen
2. Seis Propostas para o Próximo Milénio de Italo Calvino
3. O Homem dos Lobos e Totem e Tabu de Sigmund Freud
4. Poemas e Prosas de Konstandinos Kavafis
5. Jogo de Espelhos de David Mourão-Ferreira
6. Trabalho Poético de Carlos de Oliveira
7. Em Busca do Tempo Perdido – Do Lado de Swann de Marcel Proust
8. Até Amanhã, Camaradas de Manuel Tiago
9. A Arte de Viver para as Novas Gerações de Raoul Vaneigem
10. Sapato de Fogo e Sandália de Vento de Ursula Wölfel"

José António Gomes




. As escolhas de Fernando Pinto do Amaral em 100 Livros Portugueses do Século XX






"Queria que os leitores reconhecessem uma série de livros que já tinham lido e que não fosse uma lista demasiado subjectiva, baseada no meu gosto pessoal. É claro que, em certos casos, não abdiquei disso, assumo um lado mais subjectivo, como por exemplo a obra da Maria Gabriela Llansol, uma autora conhecida por pouca gente, ou outros casos de autores mais antigos que não são muito lembrados, como o poeta Afonso Duarte."



Exemplo de escolhas baseadas no impacto histórico são as obras "Gaibéus", de Alves Redol, "na altura, um livro emblemático para o neo-realismo" - o autor escreveu outro "claramente superior", "Barranco de Cegos", sublinha - ou "Retalhos da Vida de Um Médico", uma obra de que Pinto do Amaral gosta menos do que de outras de Fernando Namora, mas o número elevado de edições, as adaptações à televisão e ao cinema tornaram-na incontornável. Há ainda o caso de "A Selva", de Ferreira de Castro, traduzido em diversas línguas e "um dos mais lidos na geração dos nossos pais ou dos nossos avós, embora haja quem tenha muitas reservas quanto ao mérito literário de Ferreira de Castro".



E há escolhas polémicas? "Algumas obras não são muito óbvias. Por exemplo, o romance 'A Origem', de Graça Pina de Morais, é belíssimo, mas sinto que pode ser uma escolha polémica na medida em que não é evidente."



Quanto às obras excluídas, Pinto do Amaral afirma: "Há tantas...! É muito fácil dizer que há livros que poderiam estar aqui e não estão, mas é mais difícil apontar o livro que saía para esse entrar..."



A selecção abre com "A Cidade e As Serras", de Eça de Queirós - obra escrita ainda no século XIX, editada, postumamente, em 1901, mas que Pinto de Amaral quis incluir como homenagem a Eça - e fecha com "Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura", de António Lobo Antunes. Não há antologias colectivas, nem repetições de um mesmo autor - Fernando Pessoa é representado pelo ortónimo e heterónimos. Há, no entanto, uma excepção: Maria Velho da Costa, que está representada com "Maina Mendes", obra "incontornável", e com "Novas Cartas Portuguesas", de que é co-autora com Isabel Barreno e Maria Teresa Horta, "um livro sui generis, ímpar", que "não poderia deixar" de estar na lista.



Poucos são os livros datados do início do século XX, porque a maioria ainda surge colada ao espírito do século anterior. Também não foram incluídas obras de jovens autores (Clara Pinto Correia, nascida em 1960, é a escritora mais nova, representada com "Adeus, Princesa"). "Nos últimos anos houve grandes revelações, e de pessoas muito novas, mas ainda não há distância suficiente", refere Pinto do Amaral.Os textos são curtos, contêm informações essenciais sobre obras e autores, houve alguma preocupação didáctica mas este livro não foi concebido a pensar em eruditos, académicos: o objectivo é a divulgação da literatura portuguesa, quer internacionalmente, quer nacionalmente (a primeira edição, de1400 exemplares, é em português e inglês, está a ser feita uma segunda de mais de quatro mil, e estão previstas edições bilingues em castelhano e francês). "Procurei escrever textos para que o leitor ficasse com uma ideia de cada um dos 100 livros, não tive a preocupação de dar bibliografia acessória, estudos, etc. No fundo, é também um livro lúdico."
Jornal "Público" de 27 de Abril de 2002
. A lista da revista TIME: http://www.time.com/time/2005/100books/

terça-feira, 18 de março de 2008

Oficina de Escrita 12ºAno

O Lusografias alargou o seu âmbito a outras turmas e a outros anos. Hoje, é a vez da estreia do 12ºAno.

“É este mundo um teatro: os homens as figuras que nele representam , e a história verdadeira dos seus sucessos uma comédia de Deus, traçada e disposta maravilhosamente pelas ideias de sua Providência.”
Pe. António Vieira


Esta é a realidade do presente, do séc. XVII, preconizada por Pe. António Vieira .
Pressuposto: Para interpretar a afirmação de Pe. António Vieira à luz destes tempos actuais é imperativo ultrapassar a visão de Deus como uma entidade suprema - e unicamente Cristã - e encará-lo como uma realidade metafísica e ontológica indissociável do Homem. De outra maneira, é impossível identificar e reconhecer o nosso presente na expressão supracitada.
O mundo em que vivemos é, sem dúvida alguma, um teatro em que cada um de nós desempenha um papel que segue um enredo específico, definido, e quase predestinado, pelos muitos deuses que escolhemos para regerem a nossa vida: sim, porque contrariamente ao referido na afirmação, estes tempos parecem não ser os da Graça de Deus, mas os da Desgraça do Paganismo. Estamos numa era de falsas idolatrias - da adoração do Deus-do-Dinheiro, da veneração exacerbada do Deus-do-Conhecimento, do culto a um Deus-Egocêntrico - , numa época que é de preocupação com o acessório e ilusório e não com o essencial e estrutural.
Estamos cegos.
E deixamos de ser actores nesse teatro que é a vida para sucumbirmos às mãos desses deuses ex-machina, que fazem de nós marionetas, completamente impotentes à sua mercê.
Mas acredito também que, no dizer do André Malraux, “O século XXI será religioso, ou não será”. Acredito que Pe. António Vieira não estava errado em preconizar um tempo em que todos os homens se acolham no regaço de um Deus-Universal. E acredito, acima de tudo, no Homem e na sua capacidade incondicional de amar.
Francisco Silva
12ºB


***

António Vieira compara o mundo a um teatro onde os homens são marionetas comandadas por Deus. Esta comparação é aplicável ao Homem seiscentista, que ainda cometia atrocidades que eram facilmente justificáveis com Deus – com raciocínios, por vezes, bastante criativos. Mas, na sociedade da globalização, do telemóvel e da Internet, Deus não tem espaço.
O século XX, acabado há pouco, não gostava nada de Deus. De facto, de há uns séculos para cá que Deus já não serve de razão para a barbárie humana, pelo que foi posto de parte. O século XX viu mais de um milhar de razões para justificar os cem anos mais sangrentos da História – entre genocídios, duas Guerras Mundiais e muitas mais locais, bombardeamentos nucleares, atentados terroristas e privações de liberdades básicas, inúmeras razões foram esgrimidas pelos homens numa tentativa (vã?) de legitimar os seus actos. De todas estas, só uma se revelou verdadeiramente universal. Uma apenas estava sempre presente, e era escondida pelas restantes. Refiro-me ao dinheiro, a riqueza. E a ganância humana não conhece limites, pelo que o século XX viu o crescimento da economia até esta assumir o papel mais importante de qualquer sociedade – o que é comprovado pelo crash da bolsa americana que teve repercussões em todo o Mundo; ou pelas inúmeras guerras cometidas em nome do petróleo e de outros recursos.
No alvorecer do novo século, a Humanidade confronta-se com uma decisão difícil. Uma vez mais, é preciso trocar de razão universal para justificar a barbárie. Desta vez, não é porque a riqueza já não serve para justificar. Não. O Homem tem de olhar a atrocidade como atrocidade, como acto desumano, sem justificação. Tem de parar de se justificar, lavar a cara e deitar mãos à obra. O ser humano já provou ser capaz de cometer os maiores crimes contra a Natureza, contra as sociedades, contra si próprio. E já provou também que consegue redimir-se. Já fechou o buraco da camada de ozono. Já reconstruiu a Europa das cinzas das Guerras Mundiais. Já salvou espécies animais, já usa energias renováveis. Mas esta geração será conhecida como a Geração da Ressaca, se continuar a fazer pouco, a mostrar-se desinteressada, enquanto à sua volta a História se afunda lentamente. Ou então, será a Geração da Recuperação, pronta a resolver qualquer problema, tentando restabelecer a ordem mundial com base em valores morais e éticos. Que se cumpra o V Império!
Daniel Braga
12º B

***




Da vida de Fernando Pessoa, nada de extraordinário se realça. O que se destaca verdadeiramente (ao ponto de continuar a impressionar quem o lê) é a magnitude e a beleza singular da sua obra literária. Pessoa, enquanto poeta, não é só o ortónimo metódico e melancólico dividido entre o real vivido e o real imaginado; é o Reis estóico e epicurista que imbui as suas “Odes” da tão característica demissão da vida; é o Caeiro bucólico que não quer da vida nada mais que as sensações da Natureza; é o Campos caótico, torrencial , ousado, mas ao mesmo tempo sensacionista e confessional; é o Bernardo Soares que, no “Livro do Desassossego”, esgota tudo o que pensou da vida.
É esta a magia do “reinventor do Português Moderno”: a capacidade de olhar para dentro de si próprio mais do que outro homem alguma vez ousou e de descobrir, no seu íntimo, infinitas realidades torna-o um ícone da Literatura.
Francisco Silva
12º Ano B

Oficina de Leitura 10º Ano (Diário)

Deixo uma sugestão de que já tinha falado nas aulas. Um filme inspirado numa história real e que traz à tela uma reflexão sobre a escrita diarística. Há a referência, aliás,a um diário emblemático que gravou as memórias do Holocausto e da experiência da Segunda Guerra Mundial...






Outra sugestão, para os mais corajosos: um diário muito especial que retrata a visão de um estrangeiro sobre o Portugal salzarista dos anos 40:




Era o único diário de Eliade que, por vontade do autor, só podia ser publicado depois da sua morte e "o único manuscrito", o que criou "dificuldades de transcrição e algumas incorrecções", disse à agência Lusa o tradutor, o jornalista romeno Corneliu Popa.
Trata-se de uma obra de cerca de 300 páginas, publicada pela editora Guerra & Paz, e inclui um estudo de um sobrinho de Eliade, o crítico literário Sorin Alexandrescu, que virá a Portugal em Abril para apresentar o livro.
Mircea Eliade (1907-1986), autor de "O Mito do Eterno Retorno", "Tratado da História das Religiões" e "O Sagrado e o Profano", foi adido de imprensa e adido cultural da embaixada da Roménia em Lisboa entre 1941 e 1945.
O autor estava em Portugal quando terminou a II Guerra Mundial: "Salazar, que tinha cometido a `gaffe` de ordenar luto pela morte de Hitler e tinha sido injuriado na imprensa anglo-americana, corrigiu o erro rompendo as relações com a Alemanha, fechando a Legação e congelando os fundos alemães", anotou Eliade no seu diário, no dia 10 de Maio de 1945.
O escritor romeno conheceu pessoalmente Salazar, que retrata com simpatia ("É menos rígido visto de perto").

Eliade ficou "fascinado" com a poesia de Camões e "o charme indescritível" de Sintra e apreciava "Os Maias", de Eça de Queiroz, realça também o tradutor. Contudo - acrescenta - "o Portugal que ele descreve é um país bastante atrasado, muito rural e até triste".
"Não sei porquê, Portugal parece-me cada vez mais triste. Prestes a morrer. É um passado sem glória", escreveu Eliade no dia 3 de Outubro de 1943.
A passagem do autor por Portugal ficou também marcada pela morte da sua mulher, em 1944.
Fonte: Agência Lusa



quarta-feira, 12 de março de 2008

Oficina de Leitura 10º Ano (Diário)

Encontrei no youtube um vídeo dos Excertos dos diários de Adão e Eva. Recomendo vivamente. Não posso reproduzi-lo aqui, pois tal não é permitido pelo autor. No entanto, deixo o endereço:

http://www.youtube.com/watch?v=NMIzhxcXnxA
http://www.youtube.com/watch?v=5Wh-JckS5Rs
http://www.youtube.com/watch?v=2RnSoS6NNlM

Cada endereço corresponde a uma parte diferente.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Sugestão de leitura 10ºAno



Acabadinho de sair...
Deixo as palavras do autor, retiradas de www.asa.pt

A primeira conversa feita com os que o conheceram foi sempre difícil. E se me apresentava como jornalista pior ainda, portanto, à terceira foi de vez e a partir daí deixei de mencionar esta parte da identificação. Não sei se todos os que com quem falei, amigos da roda mais íntima de Miguel Torga, desgostam assim tanto daqueles que fazem perguntas e jornais como acontecia com o poeta, mas se assim não era bem o imitavam. Mas, a vontade de refazer a imagem do homem e do escritor era mais forte do que as recusas iniciais, que obrigatoriamente eram contornadas com palavras e compromissos de que o diálogo respeitaria a vontade do autor em manter-se no mesmo anonimato com que vivera e convivera, e a investigação lá foi andando. Relembro as justificações do padre Valentim que logo anunciou uma viagem à Alemanha para o dia em que queria encontrá-lo; o aviso de que não daria nenhum depoimento feito pela filha Clara; o recolhimento da vizinha Conceição que me remetia constantemente para um texto seu; a recusa do meu colega João Fonseca em aparecer...
Mas as conversas foram tendo lugar, a persistência foi definindo o retrato de um poeta que se confunde com o homem e, nos seus lugares de eleição, foi-se reencontrando o que os escritos descreviam de si e do País que tanto gostou. Foi-se fazendo uma longa viagem por milhares de páginas de uma obra de características muito particulares, sobrepondo-a às visões que capturou no território onde nasceu e fez questão de viver, tendo como cenário principal os capítulos do seu livro Portugal. Um percurso realizado em camadas sucessivas como fazia Miguel Torga ao aprimorar os seus originais – há quem contasse onze versões até à final –, numa vontade de fundir a sua produção literária com o sentir, o pensar e a vivência que tanto sentiu, pensou e viveu.
Durante o governo de Salazar, ter um diário era correr um perigo acrescentado à contestação ao regime. Se o facto de o escrever já colocava em perigo a vida do autor, publicá-lo era colocar a cabeça no cepo. A coragem necessária para pôr em letra redonda – “a forma material máxima que se pode dar a um escrito” como referia Miguel Torga – não existiu em muitos portugueses que viveram essa época, tanto assim que ainda hoje os relatos desses tempos são poucos e praticamente memórias saídas na última década, muitos anos depois do 25 de Abril de 1974. Os sucessivos diários de Torga colocaram ao alcance do leitor uma reflexão sobre a situação portuguesa e o testemunho sobre realidades sociais e económicas que ninguém comentava, poucos criticavam ou ainda menos se opunham. Que o escritor registava em páginas de acusações directas às autoridades ou por meio das descrições do atraso de Portugal face a outros países, em livros custeados pelo seu próprio bolso e que mal chegavam às livrarias eram bastantes vezes apreendidos ou banidos. Não era preciso Torga escrever a palavra liberdade para o livro entrar na lista negra, bastava ser lúcido nos seus apontamentos para incomodar. Nem que fossem sobre a cultura: “Morreu Fernando Pessoa. Mal acabei de ler a notícia no jornal, fechei a porta do consultório e meti-me pelos montes a cabo. Fui chorar com os pinheiros e com as fragas a morte do nosso maior poeta de hoje, que Portugal viu passar num caixão para a eternidade sem ao menos perguntar quem era”.
João Céu e Silva

Gabriel García Márquez

Oficina de Leitura
O Amor em Tempos de Cólera
Motivação para a leitura. Mesmo sabendo que o livro é sempre melhor...

domingo, 9 de março de 2008

Explora novos mundos. Lê.

Campanha da Biblioteca do Congresso dos EUA no lançamento do site www.literacy.gov para promover a leitura através de jogos interactivos. Fonte: www.bibliotequices.blogspot.com


sexta-feira, 7 de março de 2008

Aviso à navegação

Exames Nacionais 9º e 12º Anos

Já se encontra no site do GAVE a informação relativa ao exame de 2008 de Língua Portuguesa (9ºAno). Atenção! HÁ ALTERAÇÕES EM RELAÇÃO AOS ANOS ANTERIORES!
Consulta disponível no endereço:

O mesmo se passa com o Secundário. Alterações no Exame Nacional de Português de 12ºAno. Para os interessados, deixo também o endereço:http://www.gave.min-edu.pt/np3content/?newsId=164&fileName=IE_portugues_639_08.pdf

Um soneto muito especial... 10ºAno

Hoje, o 10ºD/E teve o privilégio de ouvir a Celeste declamar o soneto camoniano "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades". Ficámos todos muito orgulhosos e admirados com o talento que só agora descobrimos... Obrigada, Celeste, mais uma vez. Foi um momento muito especial...
Em jeito de homenagem e de agradecimento simbólico, deixo aqui a composição lírica com que encerrámos o estudo de Camões:

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já foi coberto de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Luís de Camões

quinta-feira, 6 de março de 2008

Há barcas no cais...


. Caracterização do Frade

A entrada em cena do clérigo é frequente na obra vicentina. Comprometido com a Igreja (fez votos de castidade e de pobreza), este frade é, afinal, um libertino que canta e dança, e surge comprometido, sim, mas com uma Moça, Forença.
Também os seus elementos cénicos são pouco próprios de um homem de igreja, revelando o seu carácter cortesão e a subversão moral deste suposto homem santo. A espada e o escudo, bem como a Moça, representam os pecados que o Frade cometeu e os votos que quebrou.
Apresentando como argumentos de defesa a sua (falsa) devoção (“com tanto salmo rezado?”) e o seu próprio estatuto religioso (“E est’hábito no me val?”), o Frade não é sequer digno das palavras do Anjo, para quem a própria presença de Florença constitui um insulto à fé cristã. O Diabo recorre à ironia e ao sarcasmo com frequência nesta cena (“Devoto padre marido”), expressando bem a euforia que sempre o acompanha quando detecta potenciais candidatos ao fogo infernal.
A linguagem desta personagem está carregada de termos religiosos, No entanto, o seu comportamento é totalmente mundano, revelando dissolução moral e relaxação dos costumes.
Durante toda a cena, é possível observar os vários tipos de cómico. O cómico de linguagem é introduzido ora pelo Parvo (“Furtaste o trinchão, frade?”), ora pelo Diabo, que criticam com ironia e humor as acções do Frade em vida. O cómico de situação e de carácter é perceptível durante a lição de esgrima, quando a personagem brame a sua espada e revela um carácter folião e divertido.
Esta cena e esta personagem constituem, como é aliás apanágio de Mestre Gil, uma crítica feroz ao Clero de então (“Eles fazem outro tanto”). Note-se, por fim, a simbologia do nome da Moça (Florença), que remete para a cidade italiana e para o país da Reforma.
Alexandra Sousa



. Caracterização da Alcoviteira

Por definição, com carga extremamente depreciativa e pejorativa, uma alcoviteira é alguém que se dedica à prostituição. Nesta cena, a personagem denuncia a degradação moral da sociedade.
Brízida Vaz apresenta como elementos cénicos “as moças que vendia” e um armário, que traduzem os seus pecados: a prostituição, o roubo (“furtos alheos”), a feitiçaria (“três arcas de feitiços”) e a mentira (“seiscentos virgos postiços”, “três almários de mentir”, “dois coxins de encobrir”). O facto de trazer o armário consigo denota uma certa esperança na continuidade da sua actividade post-mortem.
A linguagem utilizada por esta personagem é extremamente ambígua. Por um lado, recorre ao vocabulário religioso, de forma hipócrita e descarada, proclamando-se “apostolada”, “angelada e martelada”, ou seja, uma mártir, comparável a Santa Úrsula pelas moças que “converteo”; por outro lado, adopta um registo de sedução (perante o Anjo): “meus olhos”, “Anjo de Deos, minha rosa”, “meu amor, minhas boninas / olho de perlinhas finas”, tentando criar uma certa proximidade com o interlocutor e persuadi-lo a deixá-la embarcar.
Nesta cena, é notória a ausência de argumentos de acusação, o que pode ser justificado pelo facto de a própria personagem os referir no seu discurso (“eu sô aquela preciosa / que dava as moças a molhos, / a que criava as meninas / pêra os cónegos da Sé…”). Visto o Anjo recusar embarcá-la na Barca Divinal, dirige-se ao Arrais do Inferno, sendo bastante bem recebida pelo último. Note-se, finalmente, como se alarga nesta cena a crítica ao clero (“a que criava as meninas / pera os cónegos da Sé”).
Bárbara Pereira

Gil Vicente evidencia, nesta cena, que quem quer desfrutar dos prazeres carnais e materiais jamais poderá desfrutar dos espirituais: “entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que seguem por ele” (Mateus, 7: 13)
Pedro Cardoso



. Caracterização do Judeu


Semifará traduz a verdadeira marginalização e rejeição de toda uma classe. Cedo Gil Vicente nos remete para os pecados deste Judeu (o apego ao dinheiro e a ganância), através da tentativa de suborno do Diabo (“Passai-me por meu dinheiro”). Destaque-se que o Demo, geralmente ávido por tripulantes, recusa o passageiro (“Oh! que má-hora vieste!). O próprio bode, elemento cénico fulcral, é rejeitado por ser símbolo da sua fé (“Nem eu nom passo cabrões”).
Tentaria igualmente aliciar o Fidalgo (“Ao senhor meirinho apraz? / Senhor meirinho, irei eu?”), o que denota que seria prática corrente a obtenção de favores da nobreza a troco de dinheiro.
Nem as imprecações que lança (“lodo, chanto, fogo, lenha”) conseguem descomprometer o Judeu da sua condição de pecador.
É Joane, na sua intervenção marcada pelo cómico de linguagem, que acusa o Judeu de ter roubado, profanado e desrespeitado o jejum (“mijou nos finados”, “comia a carne da panela / no dia de Nosso Senhor”), alertando para a sua falsa vivência religiosa.
Assim, o Diabo consente a passagem do Judeu, marginalizando-o, no entanto, pois “era mui ruim pessoa” e iria “à toa”, com “o cabrão na trela”.
Mestre Gil denuncia, portanto, a marginalização de que eram alvo os judeus, deixando Semifará de fora, mesmo que do Inferno.
António Cerejo



. Caracterização do Corregedor e do Procurador

Ao Cais, após o Judeu, vem um Corregedor carregado de feitos, e, com a sua vara na mão. Estes seus elementos cénicos servem para conceder verosimilhança à sua personagem, à sua profissão. Simbolizam também a corrupção como juiz, assim como os seus pecados, que não se perdem aquando da sua morte (os pecados continuam a ser válidos depois da morte). Mal chega, antecipa tudo e todos para a sua importância social: "Está aqui o senhor juiz". Logo o Arrais Infernal com a sua ironia maliciosa denuncia um dos seus pecados mais marcantes, de uma forma extremamente subtil ("Oh amador de perdiz" – as perdizes funcionavam como um suborno). O Corregedor nega, como é hábito dos condenados, todos os actos de que é acusado. E quando o Demo o avisa do seu destino para o Inferno, muito espanto demonstra ("À terra dos demos/há-de ir um corregedor?"). Logo o Diabo lhe responde com ironia, chamando-o de “Santo Descorregedor”, o que demonstra a sua pecaminosidade, assim como a sua falsa vivência religiosa. Aí, o condenado inicia um discurso em latim, porém, é um latim jurídico, que também confere à cena uma certa verosimilhança (regulae juris). Já o Demo surge com o cómico de linguagem, utilizando um latim macarrónico e deturpado: "Non es tempu". E quando se começa a aperceber da inevitabilidade da sua situação, tenta, como o Judeu, comprar o Fidalgo, pois sabe que este “não diz não ao dinheiro”, isto é, sabe que o conseguiria subornar ("Há’qui meirinho do mar?"). Também demonstra alguma cumplicidade para com o Fidalgo e aqui Gil Vicente avança com o alargamento da crítica a todos os estratos sociais corruptos. Faz-se também alusão aos Judeus – alargamento da crítica – numa das acusações do Arraias Infernal ("E as peitas dos judeus/que vossa mulher levava?"). O Corregedor defende-se dizendo que foram pecados da sua esposa, e verificamos até uma certa ambiguidade no sentido da expressão ligada aos judeus (“Bode Expiatório”), já que, efectivamente, a mulher arca com as culpas do juiz ("Nom som peccatus meus, / pecavit uxore meã"). Mais uma vez o Demo o acusa da sua putrefacção, quando lhe comunica que enriquecia à custa dos lavradores mas nem sequer lhes dava ouvidos. O alargamento da crítica surge novamente, com a censura aos escrivães ("e veres os escrivães/ coma estão tão prosperados"), numa crítica a todo o sistema judicial e aos seus erros.
Chega então o Procurador, carregado de livros que, como no caso do Corregedor, demonstram a continuidade dos seus crimes, além do seu conhecimento e estatuto intelectual. Demonstram ambos uma intimidade extrema quando se vislumbram, comprovando a sua cumplicidade até nos crimes – "Bejo-vo-las mãos, Juiz!". Também o Procurador não tem consciência da inevitabilidade da sua situação, crendo que o Demo está zombando ("Jogatais de zombador?") E surge depois uma das mais importantes críticas da cena, a falsa religiosidade das personagens. O Demo avisa-os de que iram para o Inferno, e o Procurador responde em tom muito seguro que não esperava a morte e por isso não se tinha confessado. Logo o Corregedor afirma que confessou todos os seus pecados, mas tudo quanto roubou encobriu ao confessor. E após este discurso de confissão, ainda está certo da sua salvação, o que revela a sua hipocrisia.
Por fim, a crítica do Anjo e do Parvo tem por base o “peso” dos pecados dos "filhos da ciência", pelo que não embarcaram na Barca da Glória. Ambos resignar-se-ão no final da cena e com Brízida Vaz, conhecida sua, embarcam para a Terra dos Danados…
Ana Isabel Costa

. Caracterização do Enforcado

Mestre Gil introduz nesta cena um enforcado que morreu condenado devido à vida pecaminosa que levou. Como elementos cénicos, traz um “burel” e um “baraço”, denunciadores da sua condição de supliciado e criminoso.
Na verdade, o protagonista apresenta-se como uma personagem ingénua, pois acreditou no discurso erróneo de salvação proferido por Garcia Moniz (“diz que os feitos que eu fiz/ me fazem canonizado”).
Dócil e volátil, após reconhecer a perfídia de quem o julgou, continua crédulo (“mil latins/ mui lindos”), mas já triste e resignado (“E ele leva a devação / que há-de tornar a jentar… / Mas quem há-de estar no ar” e “Não me falou em ribeira / nem barqueiro, nem barqueira,/ senão logo ó Paraíso”), apresentando-se uma vítima da sua própria condenação, já que se insere numa classe marginalizada, razão pela qual o Arrais dos Céus não entra em cena (o enforcado já tinha sido condenado em vida).
Embora simples e vulnerável, revela, tal como a maioria das personagens anteriores, uma falsa religiosidade (“eram horas dos finados / e missas de São Gregório”).
Em suma, Gil Vicente, no seguimento da cena anterior, pretende denunciar as falhas da justiça terrena, alargando a crítica à classe jurídica, já que a verdadeira e única justiça é a divina.
Ana Lúcia Rebelo

. Caracterização dos Quatro Cavaleiros

Com uma entrada triunfal em cena, “cantando” um hino apoteótico, os Quatro Cavaleiros provam que a salvação apenas é alcançada pela fé (“pelo qual Senhor e acrescentamento de Sua santa fé católica morreram em poder dos mouros”). Além disso, a cena propõe a santificação da guerra (“Absoltos a culpa e pena per privilégio que os que assi morrem têm”).
Convictos da entrada na Barca de Glória, recorrem a uma linguagem exortativa e alegre, dirigindo-se desde logo ao batel divinal, “passando per diante do batel dos danados”, sem se deterem e quase ignorando o Diabo.
O Arrais do Inferno, perplexo com tal actuação, acaba por se submeter aos Cavaleiros, que falam com altivez e dignidade (“Vós, Satanás, presumis? / Atentai com quem falais!”), afirmando que “quem morre por Jesu Cristo / não vai em tal barca como essa!”).
Por fim, caminham até ao Arrais Sagrado, que os recebe e os defende (“que morrestes pelejando / por Cristo, Senhor dos Céos!”; “quem morre em tal peleja / merece paz eternal).
“E assi embarcaram”, salvos pela fé e corroborando a máxima da doutrina cristã “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor de justiça, porque deles é o reino dos Céus".
Finalmente, acrescente-se apenas que esta cena parece assumir-se como moralidade do próprio Auto: “neste rio está a ventura / de prazeres ou dolores!”.
Ana Lúcia Rebelo

terça-feira, 4 de março de 2008

Oficina de escrita 7ºAno

Uma aventura desconhecida de Ulisses... A proposta era simples: criar para a Odisseia uma nova aventura do herói grego antes do seu regresso a Ítaca. O resultado foi este:


Ulisses no Olimpo
7ºA
Depois da partida de Córcira, Ulisses, fascinado pelos deuses e grato a Minerva pela sua preciosa e inesgotável ajuda, decidiu visitar Olímpia.
Intrigado com a densa e perpétua névoa que avistava no cume do monte, Odisseu resolveu explorar o enigmático paraíso, em que nenhum outro mortal até então penetrara.
Dirigiu-se mais uma vez à sua protectora, Minerva, e solicitou-lhe auxílio para subir à morada dos deuses. A deusa concedeu-lhe o seu fiel e sapientíssimo mocho, para lhe indicar o caminho e para o prevenir dos perigos do percurso.
Durante a sua incessante busca, Eolo, sabendo da sua chegada, fez soçobrar perante o herói colossais pedras, que se despenharam pelo dorso da montanha. Esta fúria devia-se ao facto de o odre que ele confiara a Ulisses ter sido descerrado pelos seus companheiros.
Alertado pelo mocho de Minerva, não sofreu o nosso herói qualquer dano, tendo-se abrigado numa gruta lúgubre, cuja entrada ficou selada por uma das informes rochas.
Vagueando pela sinistra caverna, vislumbrou, ao fundo, uma ténue luz que lhe indicou o rumo a seguir. Na outra extremidade, aguardava-o o sumptuoso e inexorável portão dos deuses.
Como que por magia, as portas de Hefesto cederam e permitiram a sua passagem. Louvando a ousadia subtil do rei de Ítaca, Júpiter convidou-o a entrar no palácio. Lá dentro, o êxtase: nuvens macias, néctar espargido pelo ar, ambrósia e outros manjares, grossas colunas de mármore, um chão de jade e um tecto de diamante; enfim, o Olimpo em todo o seu esplendor.
Antes de regressar a Ítaca, Ulisses foi coroado e a sua ousadia tornou-o deus entre os deuses...
Ulisses visita outra dimensão
7ºB
Após a despedida de Córcira, Ulisses partiu para uma nova aventura...
Navegava pacificamente em alto-mar: as ondas dançavam serenamente, os raios lânguidos do sol trespassavam o manto azul, iluminando os cardumes prateados.
Subitamente, Neptuno, enraivecido pelo facto de Ulisses tentar devassar os seus domínios, convocou as forças marinhas e desencadeou uma tenebrosa procela.
Inesperadamente, o ventre do oceano rasgou-se, abrindo uma fenda colossal. Odisseu, sugado pela imensidão do abismo, foi transportado para outra dimensão...
Ao longe, o rei de Ítaca vislumbrou o vulto sinistro de um gigante imponente, que ostentava uma coroa e suportava o peso de uma chama fulgente. Pensou que tinha novamente aportado à Ilha dos Ciclopes. Uma névoa densa encobria o céu azul, como um véu que esmaece os contornos de um rosto. Mais perto, uma floresta cinzenta parecia suportar a abóbada celeste. Sons estridentes, gritos sibilantes e rugidos loucos flutuavam agitadamente, criando uma atmosfera pesada e caótica.
Abandonado e desesperado, o herói subtil implorou ajuda aos deuses. Foi então que a estátua inanimada ganhou vida, emitindo o som melodioso da voz de Minerva.
A deusa protectora indicou o caminho de regresso, erguendo ainda mais a sua chama incandescente e iluminando o percurso de regresso.
A estátua era, afinal, Minerva e a cidade desconhecida era Nova Iorque, numa outra dimensão - a do futuro...