domingo, 25 de setembro de 2011

Livro do mês - setembro


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Clicar na próxima imagem, para aceder à descrição da obra, feita pelo próprio autor, Valter Hugo Mãe:

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Inédito de Saramago publicado em outubro


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A clarabóia, romance de juventude de José Saramago, chega às livrarias no dia 15 de outubro. Aqui fica, através da FJS, um pequeno excerto com as primeiras linhas:

domingo, 18 de setembro de 2011

António Lobo Antunes no Teatro São Luiz





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"Deste viver aqui neste palco escrito"
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Foram três dias (de 15 a 17 de setembro) de festa literária, com um programa multifacetado e preenchido: o espetáculo de Maria de Medeiros; o filme de Solveig Nordlund; a leitura posta em som por José Neves; o lançamento de Facts and Fictions of António Lobo Antunes, do centro de Cultura e Estudos Portugueses da Universidade de Massachussetts, e uma mesa redonda, moderada por Maria Alzira Seixo e que contou com a participação de João Lobo Antunes e Eduardo Lourenço.

O jardim de inverno do São Luiz, mergulhado na poalha de luz do crepúsculo, encheu-se de mesas atentas e de um silêncio nervoso e suspenso. Num ambiente intimista e informal, que contou com a presença do escritor homenageado, Maria Alzira Seixo conduziu a conversa sobre a obra e os temas antonianos.



Phillip Rothwell referiu-se, na sua intervenção, à importância da memória nas crónicas e nos romances de Lobo Antunes. Segundo este investigador, a imaginação do autor é uma forma de organização da própria memória. De facto, embora parta de um campo referencial autobiográfico, o escritor parece despersonalizar-se e apagar a noção de individualidade da escrita, desconstruindo-se, numa temporalidade íntima que se converte em intemporalidade e desejo de posteridade. Um dos aspetos mais interessantes que o especialista fez notar prende-se com a omnipresença da imagem do relógio, numa intrigante reconfiguração do próprio texto e confirmando a suspeita de que a memória é a principal matéria da narração.


Seguiu-se João Lobo Antunes, irmão do escritor, que se deteve especialmente sobre o caráter autopatográfico do livro Sôbolos rios que vão. É uma narrativa, quase tchekhoviana, da doença que enfrentou em 2009, urdida ao longo de uma diacronia caótica, de coerência tensa, abundante em personagens e em alusões autobiográficas. O herói é o narrador que se refugia nas memórias da infância, nos fragmentos do património familiar. Neles encontra a principal matéria para a rede metafórica sobre a qual se funda a linguagem do romance. João Lobo Antunes, o médico, ressalta o poder de imagens como a do "ouriço", a que o autor recorre para se referir ao "cancro", ou a da "peça teatral" para designar a doença, ou ainda a do "nevoeiro" para a anestesia. Metáforas biológicas inusitadas e inaugurais. Conclui, comparando António, o irmão mais velho, a Ulisses e a D.Quixote, e a doença à viagem. Depois de errar durante muito tempo, Ulisses regressa a Ítaca e a Penélope, encontrando finalmente o porto tranquilo...





Maria Alzira Seixo, por seu turno, centrou-se na exegese literária, desenvolvendo o topos da vacilação/proliferação. De ressonância camiliana, a linguagem antoniana é um terreno fértil em mutação, em hesitação. O discurso abre brechas, a sintaxe afetiva é notória: frases curtas, suspensas, cortadas, apenas completadas nas páginas seguintes; um labirinto que requer a paciência e sageza do leitor. A investigadora e especialista destaca, como obra-prima, Boa tarde às coisas aqui em baixo, a prova de que Lobo Antunes soube ler bem os clássicos e reinterpretá-los, inovando.

Por fim, Eduardo Lourenço, numa intervenção mitogónica e filosófica, apontou As Naus como obra de eleição. Nela diz ter o autor naufragado no luto do império perdido, convertendo essa memória épica em farsa burlesca. Os heróis perdidos são reciclados e o mundo surge sem os fumos da Índia. Já nas suas crónicas, Lobo Antunes, em laivos surrealizantes, constrói imagens como a de uma nuvem com raízes sempre a partir, ou a de um comboio mágico, que refletem um exercício de autocompreensão do seu próprio outro. A infância é o seu paraíso. E, mais uma vez, o papel da memória: o escritor tem o gesto de um deus que se suicidou na sua criação e que, como Deucalião, está em cada fragmento desse caos. O filósofo e ensaísta concluiu descrevendo a escrita de António Lobo Antunes como um "exercício épico da memória numa navegação sem bússola pelo arquipélago da desolação (...), entre o êxtase e o aniquilamento (...), até voltar a um nada de que não nasceu".
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Acordo ortográfico




O Lusografias escreve, a partir de hoje, de acordo com a nova norma ortográfica.

domingo, 11 de setembro de 2011

In memoriam



"Bartolomeu Lourenço de Gusmão - o padre inventor"




“Três, se não quatro, vidas diferentes tem o padre Bartolomeu Lourenço, e uma só apenas quando dorme, que mesmo no sonho foi o padre que sobe ao altar e diz canonicamente a missa, se o académico tão estimado que vai incógnito el-rei ouvir-lhe a oração por trás do reposteiro, no vão da porta, se o inventor da máquina de voar ou dos vários modos esgotar sem gente as naus que fazem água, se esse outro homem conjunto, mordido de sustos e dúvidas, que é pregador na igreja, erudito na academia, cortesão no paço, visionário e irmão de gente mecânica e plebeia em S. Sebastião da Pedreira, e que torna ansiosamente ao sonho para reconstruir uma frágil, precária unidade, estilhaçada mal os olhos se lhe abrem, nem precisa estar em jejum como Blimunda.” (Memorial do Convento, 33ª edição, Caminho).

É assim que, em Memorial do Convento, Saramago nos apresenta a figura de Bartolomeu Lourenço de Gusmão como o “padre voador” que, apesar de ser considerado louco (e “de louco todos temos um pouco”), não abandonou o seu sonho de voar – “Tenho sido a risada da corte e dos poetas, um deles, Tomás Pinto Brandão, chamou ao meu invento coisa de vento que se há-de acabar cedo, se não fosse a protecção de el-rei não sei o que seria de mim, mas el-rei acreditou na minha máquina e tem consentido que, na quinta do duque Aveiro, a S. Sebastião da Pedreira, eu faça os meus experimentos” (Memorial do Convento, 33ª edição, Caminho, p.64). Mais adiante, no romance, o narrador recria o real, através da sua imaginação criadora e relembra o voo experimental da passarola, ao mesmo tempo que se apropria da voz do seu inventor – “e assim pôde ver afastar-se a terra a uma velocidade incrível, já mal se distinguia a quinta, logo perdida entre colinas, e aquilo além, que é, Lisboa, claro está, e o rio, oh, o mar, aquele mar por onde eu, Bartolomeu Lourenço de Gusmão, vim por duas vezes do Brasil, o mar por onde viajei à Holanda, a que mais continentes da terra e do ar me levarás tu, máquina, o vento ruge-me aos ouvidos, nunca ave alguma subiu tão alto, se me visse el-rei, se me visse aquele Tomás Pinto Brandão que se riu de mim em verso, se o Santo Ofício me visse, saberiam todos que sou filho predilecto de Deus, eu sim, eu que estou subindo ao céu por obra do méu génio, por obra também dos olhos de Blimunda, se haverá no céu olhos como eles, por obra da mão direita de Baltasar, aqui te levo, Deus, um que também não tem a mão esquerda, Blimunda, Baltasar, venham ver, levantem-se daí, não tenham medo.” (p.198)

Foi, recentemente, lançado no Brasil o livro “Bartolomeu Lourenço de Gusmão - o padre inventor” que reúne documentação manuscrita existente na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra sobre o referido sacerdote e cientista, bem como documentos da sua própria autoria. A edição exibe fac-símiles desses vários documentos e textos sobre o notável físico português Carlos Fiolhais.
Para alargar os conhecimentos sobre a recente obra publicada e a história deste padre inventor, podem aceder ao link:

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