terça-feira, 3 de maio de 2011

Matilde - "Felizmente há luar!"







Na voz de Matilde habitam as ideias e os valores do General Gomes Freire de Andrade, mas delimitados pelos contornos a que o próprio amor obriga. A voz de Matilde é o eco de uma voz ausente que protagoniza toda a peça. É na voz de Matilde que se partilha os ideais do General Gomes Freire de Andrade e é também na voz de Matilde que nasce o carácter heróico do general.

Esboça-se assim uma personagem que reúne fragmentos de coragem, de justiça, que deseja um movimento inquietantemente sincero e grita liberdade. Uma personagem a quem o amor por amor ilude, e faz dos ideais nobremente defendidos, vigaristas que balançam ora para lá, ora para cá - " Não seria mais humano, (...), ensiná-los, de pequeninos, a viverem em paz com a hipocrisia do Mundo". Perde (por momentos) a vontade de acreditar em valores honrosos, porque foram eles que fecharam as portas da cela em S.Julião da Barra. Mas não é por isso que perde a voz e grita: " O meu homem, o meu homem". Perde a vergonha, para que outros governadores do reino a utilizem contra ela, e suplica clemência. Mas continua: " O meu homem, o meu homem". Desafia o Deus que a terra criou "pois que vá abrir as do forte de S.Julião da Barra, se é capaz", dispõe-se a mendigar, pede ao povo o que um dia o povo lhe pediu a ela, chora. Mas continua: " O meu homem, o meu homem". Ouviu chamarem-lhe amante. Assistiu à morte aproximar-se e aprendeu que ela não lhe trazia o fim, mas lhe dava o braço do General, um olhar à saia verde, e um início de mudança.

Matilde de Melo, mulher do General Gomes Freire de Andrade, perdeu quase tudo (e não foi na guerra), mas entre a violência dos homens.

Teresa Stingl

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