domingo, 28 de março de 2010

27 de Março - Dia do Teatro

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Programas especiais e entradas gratuitas nos Teatros de todo o país.
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terça-feira, 23 de março de 2010

Dia da Poesia II

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Hoje é dia da poesia. Vi no telejornal, entre as notícias das eleições no PSD, a corrida em Lisboa e o relato do que foi ontem um grande esforço por parte de muitos dos voluntários que ajudaram a limpar Portugal. Vi hoje nas notícias, em letras gordas e salientes: DIA DA POESIA. E lá estavam eles, os “Poetas”, a ler, a juntar quase forçadamente as palavras, dando-lhes entoação, projectando a voz que as empurrava contra as paredes, agredindo-as, ferindo-as violentamente.
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Lembrei-me de trazer o assunto para o almoço, iríamos discutir Poetas, iríamos discutir a quantidade infindável de veias poéticas existentes em Portugal. Iríamos percorrer as prateleiras corridas das livrarias, nomeando, destacando, citando versos, palavras intrinsecamente ligadas, adjectivos desconhecidos, mensagens descodificáveis. Parece fácil, parece fácil ser Poeta. Talvez porque a generalização de o ser tirou o protagonismo aos que verdadeiramente o são. Tornou a capacidade banal, desculpem, não foi a capacidade que se tornou banal, mas sim os leitores menos exigentes, arrisco dizer quase mais ignorantes, apreciando a beleza de uma obra poética numa série de palavras, algemadas com correntes de aço, a única forma de não caírem por entre os versos, de não fugirem da página, de não se esconderem de vergonha. Além disso, com a taxa de desemprego em níveis elevadíssimos, os senhores compreendem, que, entre jardineiros, economistas, porteiros, cabeleireiros, há-de ser mais fácil ser artista, ser Poeta. Há-de ser mais fácil não se submeter a critérios rigorosos, a rendimentos ao fim do mês, a percentagens numéricas, a lucros; enfim, a todos os dados de natureza matemática. Há-de ser mais fácil reger-se por critérios subjectivos. Porquê? Sim, por critérios subjectivos, com sorte ainda passamos por intelectuais, com sorte a nossa escrita (que escrita?) ainda surge aos olhos dos editores como uma revolução literária, um novo género de poesia.
Depois, somos lançados no “mercado”, já nem me custa chamar mercado às livrarias, já tão fragmentadas em sectores (não de temas, que a abundância destes torna difícil a distinção), mas de cores (variando com a capa), com a edição, com o protagonista da história. Se falta o nome artístico, não faz mal, arranja-se, acrescenta-se algo de estrangeiro, as pessoas gostam, vai ver que lhe dá outro status. Fica composto, arranje-se para a fotografia, as peças estão unidas, as palavras algemadas, a única forma de não caírem por entre os versos, de não fugirem da página, de não se esconderem de vergonha… Parabéns, é “Poeta”!
Teresa Stingl, 11 A

segunda-feira, 22 de março de 2010

Dia Mundial da Poesia - 21/03

A voz dos poetas...






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O que me faz escrever este poema
não são as coisas: terra céu astros.
A saber: estendo a mão: e
o mundo reconhece-a encontra a
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memória onde repousa e se transforma.
Pequena questão de valor cósmico. Insisto:
elo que liga bruma e fumo
felicidade de imagens nome inamistoso.
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Não sonho palavra sonho barco.
Imóvel aprendo a não esquecer:
aspecto mineral do corpo
um destino de mica qualquer coisa
que não cessa de bater.
João Miguel Fernandes Jorge, in "Vinte e Nove Poemas" E a voz das palavras...
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A um Poema
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A meio deste inverno começaram
a cair folhas demais. Um excessivo
tom amarelado nas imagens.
Quando falei em imagem
ia falar de solo. Evitei o
imediato, a palavra mais cromática.
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O desfolhar habitual das memórias é
agora mais geral e também mais súbito.
Mas falaria de árvores, de plátanos,
com relativa evidência. Maior
ou menor distância, ou chamar-lhe-ei
rigor evocativo, em nada diminui
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sequer no poema a emoção abrupta.
Tão perturbada com a intensa mancha
colorida. Umas passadas hesitantes,
entre formas vulgares e tão diferentes.
A descrição distante. Sobretudo esta
alheada distância em relação a um Poema.
Fiama Hasse Pais Brandão, in "Nova Natureza"
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Do Poema
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O problema não é
meter o mundo no poema; alimentá-lo
de luz, planetas, vegetação. Nem
tão-pouco
enriquecê-lo, ornamentá-lo
com palavras delicadas, abertas
ao amor e à morte, ao sol, ao vício,
aos corpos nus dos amantes
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— o problema é torná-lo habitável, indispensável
a quem seja mais pobre, a quem esteja mais só
do que as palavras
acompanhadas
no poema.
Casimiro de Brito, in "Canto Adolescente"
......
oz
Liberdade
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O poema é
A liberdade
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Um poema não se programa
Porém a disciplina
— Sílaba por sílaba —
O acompanha
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Sílaba por sílaba
O poema emerge
— Como se os deuses o dessem
O fazemos
Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"
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A Leitora
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A leitora abre o espaço num sopro subtil.
Lê na violência e no espanto da brancura.
Principia apaixonada, de surpresa em surpresa.
Ilumina e inunda e dissemina de arco em arco.
Ela fala com as pedras do livro, com as sílabas da sombra.
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Ela adere à matéria porosa, à madeira do vento.
Desce pelos bosques como uma menina descalça.
Aproxima-se das praias onde o corpo se eleva
em chama de água. Na imaculada superfície
ou na espessura latejante, despe-se das formas,
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branca no ar. É um torvelinho harmonioso,
um pássaro suspenso. A terra ergue-se inteira
na sede obscura de palavras verticais.
A água move-se até ao seu princípio puro.
O poema é um arbusto que não cessa de tremer.
António Ramos Rosa, in "Volante Verde"
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E na Fnac do Norteshopping
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ENTRE A PROSA E A POESIA
Com valter hugo mae e José Rui teixeira
DOM
17H00
NorteShopping
Valter Hugo Mãe é escritor, músico e artista plástico. Publicou recentemente o romance A Máquina de Fazer Espanhóis, um livro bastante aclamado pela critica. José Rui Teixeira é editor da Cosmorama e poeta com obra publicada. Esta tarde a Prosa e a Poesia são o mote para uma conversa com o público
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quarta-feira, 17 de março de 2010

Ajude-(n)os a Acreditar!

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Os alunos do 12º Ano, turma A, do colégio Luso-Francês, no âmbito da disciplina de Área de Projecto, decidiram ajudar a instituição Acreditar, associação de pais e amigos de crianças com cancro.
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Todos os anos aparecem em hospitais, como o IPO do Porto, 350 novos casos de vítimas de doenças oncológicas. Instituições de voluntariado são fundamentais no apoio a estas pessoas e às respectivas famílias.
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A causa sensibiliza-nos, toca-nos e obriga-nos a não desistir… Como tal, no próximo dia 27 de Março, primeiro sábado de férias de Páscoa, pelas 17h, até às 20h, realizar-se-á um leilão de peças de arte, em que todos os fundos angariados reverterão a favor da instituição Acreditar.
Contamos ainda com a presença, em palco, de Avenue Blues Band e de Pedro Abrunhosa.
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Precisamos da sua ajuda!
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Podemos contar consigo?
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Vale a pena Acreditar!
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segunda-feira, 15 de março de 2010

Poetas e Poéticas II

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Por José Rui Teixeira...

Teixeira de Pascoaes
[1877-1952]
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Sempre que regresso a Pascoaes, sinto-me de regresso aos caminhos, aos trilhos que rasgam os montes, a uma realidade híbrida que corremos o risco de confundir com o “país real”, mas que perpassa os lugares, as pessoas, que habita uma aragem que vagueia pelos antigos povoados, pelos bosques a que perdemos o nome, pelos trilhos a que perdemos o rasto, pelas serras e planícies que em Portugal estão profundamente impregnadas de uma qualquer vertigem de mar.
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Pascoaes, o Poeta, é um “lugar”. O seu pensamento poético, traduzido não apenas em poemas, é algo telúrico, profundo, ancestral; simultaneamente étnico e universal, com a cor de punhados de terra ainda misturada com raízes e uma longínqua sensação de maresia; simultaneamente granítico e penhascoso, anímico e imaterial. Pascoaes, o Poeta, é um “lugar” demoradamente exposto ao horizonte desenhado pelo Marão; excessivamente nocturno, vagamente iluminado pela escassez própria da luz nas noites de inverno; algo profundamente entregue ao silêncio das mãos nos trilhos obscuros do alfabeto; ele, o Poeta, é um “lugar” insólito e misterioso, espectral e fantasmático, infinitamente próximo porque interior e interior por uma espécie de cartografia de comunhão com tudo o que emerge da terra na direcção do sidéreo rumor das estrelas.
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A sua poesia, tudo o que lhe escorria das mãos, é um dos mais impressionantes tesouros do património cultural e espiritual dos portugueses. Nela se desenha o mapa da nossa identidade, o esquisso de um futuro a cumprir, a descrição anímica e nevoenta da Saudade que é, nas palavras do Poeta, “A vida dum novo Sentimento.../ A nova Religião adivinhada,/ Por ignoto sentido, que alvorece,/ No mais remoto e fundo de nós próprios”. Metáforas de uma Portugalidade que se há-de cumprir na Era Lusíada. Pascoaes sabia-o no seu quarto – “No meu quarto sombrio onde medito, a sós” –, donde espreitava, ao longe, a montanha – “Lá, na Montanha, a existência é quietação, meditação, sonho vago em que a alma se dispersa, abrangendo o céu e a terra”.
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Jacinto do Prado Coelho disse que Pascoaes “foi português, amante e interprete da terra portuguesa, com suas fontes, seus outeiros, seus caminhos, suas «alminhas» e seus regatos murmurosos”. Esse Portugal que Miguel Torga disse “assombrado, patético, que o padre benze e a bruxa defuma, com ex-votos nas sacristias, demónios nas encruzilhadas, calvários, ermidas e nichos alumiados, que só quem teve a fortuna, como o Poeta, de nascer e ficar na aldeia, junto da natureza e do povo, merece e conhece. Para esse Portugal de viagem e torna-viagem, de adeuses e expectação, de desejo e lembrança, de Deus e de Satã, que pulsa ainda ao ritmo das seivas e dos sinos, e mede o tempo no relógio das estações e dos astros, sistematizou Teixeira de Pascoaes uma das mais audaciosas interpretações anímicas. A ancestralidade e o destino colectivo plasmados no condão de uma palavra. A saudade a crismar o mistério de uma raça perpetuamente a morrer e a ressuscitar. A pátria num estado de alma. Mas é como seu verbo encarnado, caudaloso, sem poder escapar a si próprio, que eu o amo e o futuro certamente o amará”.Como escreveu Jaime Cortesão, em Portugal, a terra e o homem: “Depois atinge-se Amarante debruçada sobre o rio, vila antiga e solarenga dum santo e dum poeta, de São Gonçalo e de Teixeira de Pascoaes. Poetas como este, por vezes mais que os santos, santificam a vida”.
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Quem és tu? De onde vens?
Na tua fronte
Paira o vago crepúsculo infinito
Da distância...
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[...]
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Caminhante nocturno, erma figura,
Gerada no silêncio e na tristeza...
Ó luso peregrino da Aventura,
Atrai-me a tua voz enlouquecida!
O teu próprio delírio me seduz...
Essa atitude anímica e nevoenta,
Que toca nas estrelas, onde a luz,
Para voar, voar, se veste de asas.
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Há nas tuas palavras um abismo.
Ouvindo-as logo sinto uma vertigem,
E, em sobressalto, chora e se lastima
O que, em mim, é vedado, oculto e virgem.
A parte indefinida do meu ser
Ama a sombra espectral em que desvairas...
E nem, ao menos, posso compreender
Esta força amorosa que me leva
Para a tua loucura!
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Marános [1911]

quinta-feira, 11 de março de 2010

Última aula de José Gil


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O português revê-se no pequeno, vive no pequeno, abriga-se e reconforta-se no pequeno: pequenos prazeres, pequenos amores, pequenas viagens, pequenas ideias. (…) Pequenos mundos: daí a visão curta, a repulsa instintiva pelos projectos a médio e longo prazo, a territorialização gregária.
Mas como em muitos outros domínios, estamos a viver tempos de mudança.
(…)
De que tamanho somos? Que se levante a questão significa que ainda não ajustámos a nossa estatura real à imagem que dela possuímos.
(…)
Deixaremos finalmente de perguntar «de que tamanho somos nós, portugueses?», porque deixaremos de ter problemas de identidade.
José Gil, Portugal, Hoje – O Medo de existir, ed. Relógio d´Água, 2004

quarta-feira, 10 de março de 2010

Ordem do Desassossego

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Para os meus alunos de 12ºAno (ainda hoje citámos Cleonice...):
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A Casa Fernando Pessoa organiza, hoje, na sede do Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro, às 19 horas, uma sessão de homenagem à professora Cleonice Berardinelli e à cantora Maria Bethânia, pelos “seus trabalhos em prol da divulgação da obra de Fernando Pessoa”. A directora da Casa Fernando Pessoa, Inês Pedrosa, outorgará às homenageadas a medalha da Ordem do Desassossego, uma medalha de prata criada pela Casa Fernando Pessoa, com design de Jorge Colombo.
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A sessão incluirá um debate sobre a importância de Fernando Pessoa no Brasil, com a participação das homenageadas e do poeta e filósofo Antônio Cícero, bem como a gravação vídeo de poemas de Pessoa ditos por mais de 30 figuras da cultura brasileira (Adriana Calcanhotto, Caetano Veloso, Chico Buarque, Fernanda Montenegro, Gilberto Gil, João Ubaldo Ribeiro, Luís Fernando Veríssimo, Malu Mader, Tony Bellotto, Zuenir Ventura, entre muitos outros).

Via LER

Acordo ortográfico

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"Andam à nora por causa do acordo ortográfico? Na Internet já há ferramentas capazes de nos ajudarem. Uma delas é o Conversor para o Acordo Ortográfico da FLIP - Ferramentas para a Língua Portuguesa, da Priberam. É um serviço gratuito on-line, um conversor para o Acordo Ortográfico, tanto para português europeu quanto para português do Brasil.A partir da janela disponível no ecrã, o utilizador pode digitar as palavras ou as frases (até ao limite de 3000 caracteres) que pretende converter. Pode também seleccionar a variedade de português em que estas estão escritas (Brasil ou Portugal) e visualizar as modificações propostas.
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Dizem que se trata de uma versão de demonstração e que não apresenta todas as funcionalidades do conversor incluído no FLiP 7, o software que a empresa vende com ferramentas linguísticas. Mas já é uma ajuda. Avisam que os critérios do FLiP relativamente ao Acordo Ortográfico estão disponíveis para consulta e que quem quiser pode ir à secção online sobre o Acordo Ortográfico de 1990 e a sua aplicação. Aí podemos ficar a saber várias coisas sobre os ditongos, por exemplo: “Os ditongos orais, que tanto podem ser tónicos/tônicos como átonos, distribuem-se por dois grupos gráficos principais, conforme o segundo elemento do ditongo é representado por i ou u: ai, ei, éi, ui; au, eu, éu, iu, ou; braçais, caixote, deveis, eirado, farnéis (mas farneizinhos), goivo, goivar, lençóis (mas lençoizinhos)1, tafuis, uivar; cacau, cacaueiro, deu, endeusar, ilhéu (mas ilheuzito), mediu, passou, regougar.” E outras coisas mais.
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Fizemos uma experiência. Fomos buscar uma crónica de Alexandre O’Neill publicada no livro “Já cá não está quem falou” da Assírio & Alvim que tem por título “Senhor conde, estarei a sumir em português de lei?” e colocámos no Conversor para o Acordo Ortográfico.“O policiamento da língua é uma bonita actividade; a denúncia das transgressões cometidas à Sociedade de Língua Portuguesa é o cúmulo do zelo. Agora que o senhor conde chame às histórias de quadrinhos uma praga é que é insuportável. As histórias de quadrinhos têm ajudado muita gente a aprender português, senhor! Mais ainda: têm ajudado muito homem a aprender a ’ser’ português!” E lá veio o texto corrigido: “O policiamento da língua é uma bonita (actividade) atividade (…)” e por aí fora.
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Está também on-line um corrector ortográfico e o corrector sintáctico (apenas com sugestões, sem explicação gramatical dos erros) para português europeu, para português do Brasil e para espanhol (em ambas as variedades da língua portuguesa é possível usar as versões com e sem o Acordo Ortográfico de 1990).
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Outro dos sites imprescindíveis é o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa da equipa de José Mário Costa.O cibernauta pode escolher no canto superior direito se quer ler o texto de acordo com a ortografia de 1945 ou de acordo com a de 1990, seleccionando a opção correspondente. O Ciberdúvidas está a publicar os textos em dupla grafia desde 15 Janeiro. Contam que o escritor José Eduardo Agualusa está a escrever um romance cuja “história passa pelos diferentes países de língua oficial portuguesa, e o pano de fundo é o Acordo Ortográfico”.“Este Acordo dava um romance”, escrevem. Pois dava."
Isabel Coutinho, in Ciberescritas
(crónica publicada no suplemento ípsilon do jornal PÚBLICO de 26 de Fevereiro de 2010)
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FLIP
Ferramentas para a Língua Portuguesa
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Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Alda do Espírito Santo

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Alda do Espírito Santo, poetisa são-tomense e uma das vozes poéticas mais destacadas da África lusófona, faleceu ontem.
Em jeito de homenagem,deixo a sua biografia, o testemunho de outros escritores e um poema:
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Nascida a 30 de Abril de 1926 na cidade de São Tomé, Alda Graça do Espírito Santo, combatente da luta pela independência nacional, instruiu a nova geração pós-independência e, pelas suas mãos de poetisa, nasceram versos e rimas que sustentam o orgulho da República Democrática fundada em 1975. Uma referência nacional, que rejeita vanglórias e com humildade continua a batalhar pela conquista do progresso do país soberano.
Desde a juventude que Alda Graça do Espírito Santo viv[ia] na mesma residência na Chácara, arredores da capital São Tomé. Segundo ela, só deixa[ria] aquele lugar quando fo[sse] chamada para o eterno descanso no cemitério do alto São João.
Foi professora da geração de são-tomenses que gritou pela independência nacional.
Criou a primeira geração de jornalistas do país, e como poetisa imortalizou o massacre de 1953 no poema TRINDADE, que, desde a independência nacional, é recitado todos os anos e de forma arrepiante por uma voz feminina.
A poder poético de Alda está presente todos os dias, e em todos os momentos de São Tomé e Príncipe. O grito pela independência nacional, a unidade do povo no coro da esperança é reflectido na letra do hino nacional de que ela é autora.
Membro do Governo de transição, como Ministra da Educação, Alda do Espírito Santo foi também ministra da informação e cultura. Fez dois mandatos como Presidente da Assembleia Nacional Popular.
Criou a União dos Escritores e Artistas são-tomenses, onde continua a trabalhar na criação de novos valores para cultura literária.
Abel Veiga
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«A Alda Espírito Santo foi, num determinado momento (anterior às independências dos países de língua portuguesa), das poucas pessoas que já sabia o caminho a seguir, porque, sobretudo através da poesia, ia indicando aos mais novos qual era o caminho, o caminho da luta, da dignidade dos povos, da independência.»
Pepetela
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Ilha nua

Coqueiros e palmares da Terra Natal
Mar azul das ilhas perdidas na conjuntura dos séculos
Vegetação densa no horizonte imenso dos nossos sonhos.
Verdura, oceano, calor tropical
Gritando a sede imensa do salgado mar
No deserto paradoxal das praias humanas
Sedentas de espaço e devida
Nos cantos amargos do ossobô
Anunciando o cair das chuvas
Varrendo de rijo a terra calcinada
Saturada do calor ardente
Mas faminta da irradiação humana
Ilhas paradoxais do Sul do Sará
Os desertos humanos clamam
Na floresta virgem
Dos teus destinos sem planuras...
Alda Espírito Santo

domingo, 7 de março de 2010

Musicografias

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Se é verdade que em qualquer povo há uma diversidade cultural e, consequentemente, musical muito grande, mais verdade o é em povos insulares. No mês passado, soou-nos a "morna", de Cabo Verde, estilo amoroso e melancólico. No entanto, não nos podemos esquecer que há muitos mais artistas e estilos interessantíssimos em Cabo Verde. Por contraste, lembrei-me de vos apresentar este. Ou esta voz, para ser mais preciso - Cesária Évora. Tem uma voz naturalmente escura e em palco canta habitualmente descalça, enraizada numa força, numa intensidade que nasce da terra e flui para o exterior. Mundialmente, é conhecida principalmente pela sua interpretação de "Besame Mucho", que foi usada na banda sonora de um filme de Almodóvar, e pela morna "Sodade". Preferi trazer um ritmo e um estilo mais alegre através da música "Carnaval de S. Nicolau". Desta vez, não é para ouvir de olhos fechados, mas de olhos, braços e coração bem abertos e dançar....
Joaquim Santos Silva
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quarta-feira, 3 de março de 2010

segunda-feira, 1 de março de 2010

Correntes de Escrita 2010

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Fonte: Pelouro da Cultura, Câmara Municipal da Póvoa de Varzim
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De forma intervalar, tenho acompanhado as “Correntes d’Escritas” desde 2000. Sábado, tive oportunidade de voltar à Póvoa de Varzim e de assistir, no Auditório, à última mesa da 11ª edição desse evento que reúne escritores, livros, leitores, amantes de palavras, crentes de que “um pedaço de utopia é possível”. Moderada por Maria Flor Pedroso, com a presença de Mário Zambujal, Rui Zink, Onésimo Teotónio de Almeida e dois escritores de língua espanhola, Milton Fornaro e Ricardo Menéndez Salmón, a tertúlia teve por mote “Cada palavra é um pedaço do Universo” e cada um dos oradores usou da palavra, assinalando o modo como entendia a palavra, ou o universo das palavras, ou a representação do universo (macro, ou micro), através das palavras. Para Mário Zambujal, o jornalista, criador das mais apetecíveis crónicas, a palavra é instrumento de trabalho e meio de se aproximar daqueles que o lêem. Rui Zink, num registo jocoso, provocatório, fez-nos remontar ao tempo da mais recuada infância, em que “no início não era o verbo, mas sim o berro”. E, representando o papel da criança que pensa, mas ainda não verbaliza, “desconstruiu” o universo consciente e linguístico do adulto. Onésimo Teotónio de Almeida usou da palavra como só um bom contador de histórias sabe fazê-lo, prendendo o auditório, divertindo-o, numa cumplicidade que decerto lhe garantiu a certeza de que as suas palavras permanecerão, sendo parte integrante do universo. Fiquei curiosa de conhecer a sua prosa literária que, a julgar pelo que dele ouvi, será o resultado de uma espécie de “pensar em voz alta”, em que todos os jogos com e das palavras serão admitidos. Não me atrevo a comentar os oradores de língua espanhola, por razões óbvias, mas não esquecerei o discurso ritmado, ainda que angustiado e angustiante, de Ricardo Menéndez Salmón – “La nada. «Cada palavra é um pedaço do universo». De acuerdo, accepto la mayor.” – uma espécie de refrão que pautou a sua reflexão sobre a literatura como conquista de dignidade e de conhecimento, ultrapassado a angústia do vazio – “la nada”.
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Ir às “Correntes” também é reencontrar velhos amigos, cumprimentar alguns mais recentes conhecidos e deambular pela feira do livro. A última publicação do jornalista brasileiro Zuénir Ventura - “Inveja, mal secreto” - chamou a minha atenção pelo seu destaque. A curiosidade levou-me a pegar no livro, a folheá-lo, a ler apressadamente os textos das abas e da contracapa e, mais pausadamente, o texto assinado por Miguel Sousa Tavares que abre o livro – “Porque é jornalista, repórter, cronista (autor de uma indispensável crónica semanal n’ O Globo) e, aos factos das histórias, alia sabiamente os factos da imaginação próprios do escritor, Zuenir Ventura lançou-se, nesta viagem às profundezas da inveja, numa incrível peregrinação por psicanalistas, antropólogos, meninas perdidas no Rio, terreiro de mãe-de-santo e hospitais onde «me cuidavam da doença, enquanto eu cuidava da inveja». Pela mão de Kátia, a sua personagem-muleta, caminhamos com ele, dois passos atrás dela, e vamos entrando onde ela entra e ele espreita, como se caminhássemos atrás de uma câmara de filmar, com o realizador à frente. E assim vamos desfiando o novelo, seguindo o filme, devassando os labirintos da inveja.”
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Vá lá saber-se porquê, o livro veio comigo...
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E, como no passado dia 11, não pude estar na Biblioteca Almeida Garrett para assistir ao lançamento do último livro do valter hugo mãe, o romance “a máquina de fazer espanhóis” também me fez companhia na viagem de regresso a casa, debaixo de um temporal capaz de desfazer espanhóis e portugueses…
Auxília Ramos