sábado, 20 de dezembro de 2014

Em jeito de oratória

Os alunos do 11.º ano desenvolveram, no final do estudo do "Sermão de Santo António aos Peixes", de Padre António Vieira, uma proposta de reescrita do primeiro parágrafo do texto, sublinhando a sua dimensão alegórica. Eis três resultados:


*
Vós, diz professor, mestre nosso, falando com os alunos, sois os livros do pensamento, e chama-lhes os livros da razão, porque quer que façam na razão o que fazem os livros. O efeito dos livros é impedir a ignorância; mas quando na razão se vê tão ignorante como está a nossa, havendo tantos com o ofício de livro, qual será, ou qual pode ser a causa desta tamanha ignorância? Ou é porque os livros não informam, ou porque na razão se não deixa informar. Ou é porque os livros não informam, e os alunos não alimentam a razão com a verdadeira sabedoria; ou porque o pensamento se não deixa informar, e a razão prefere a ignorância que a outra cousa que lhe deem. Ou é porque os livros não informam, e os alunos aprendem uma coisa e fazem outra; ou porque a razão não se deixa informar, e prefere seguir o livro à letra ignorando o seu verdadeiro conteúdo. Ou é porque os livros não informam, e os alunos alimentam-se a si e não à razão; ou porque o pensamento não se deixa informar, e a razão prefere interiorizar o que lhe convém em vez de aquilo que deve ser interiorizado. Não é isto tudo verdade? Não sabeis? Então lede, lede! Ainda mal!
Afonso Azevedo, 11.º A



*
Vós, diz Cristo, senhor nosso, falando com os alunos, sois a luz da terra: e chama-lhes luz da terra, porque quer que façam na terra o que faz a luz. O efeito da luz é iluminar; mas quando a terra se vê tão escura como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de luz, qual será, ou qual pode ser a causa desta escuridão? Ou é porque a luz não ilumina, ou porque a terra se não deixa iluminar. Ou é porque a luz não ilumina, e os alunos não se esforçam por aprender; ou porque a terra se não deixa iluminar, e os homens não garantem condições de aprendizagem aos alunos. Ou é porque a luz não ilumina, e os alunos julgam que sabem tudo; ou porque a terra se não deixa iluminar, e os homens julgam que os alunos não sabem nada. Ou é porque a luz não ilumina, e os alunos não põem em prática aquilo que aprendem; ou porque a terra se não deixa iluminar, e os homens não dão valor aos alunos. Não é tudo isto verdade? Ainda mal!
Sara Cunha, 11º A



*
Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os alunos, sois o nascer do Sol de um novo dia: e chama-lhes nascer do Sol, porque quer que façam no dia o que faz o Sol. O efeito do Sol é dar início à esperança e à alegria, mas quando o dia se vê tão escuro e triste como os nossos, havendo tantos nasceres do Sol, qual será, ou qual pode ser a causa desta tristeza? Ou é porque o Sol verdadeiramente não nasce ou porque o dia não deixa o Sol nascer. Ou é porque o Sol não nasce, e os alunos não se esforçam, ou porque o dia não deixa o Sol nascer, e a sociedade, não ouvindo os alunos, menospreza o seu contributo futuro. Ou é porque o Sol não nasce, e os alunos imitam a sociedade atual, ou porque o dia não deixa o Sol nascer, e a sociedade se conforma sem qualquer mudança. Ou é porque o Sol não nasce, e os alunos ambicionam o bem e não o concretizam, ou porque o dia não deixa o Sol nascer, e a sociedade não instrui devidamente os alunos, manipulando-os por interesses próprios. Não é tudo isto verdade? Ainda mal!
Manuel Rocha, 11.º A