quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Eduardo Prado Coelho - 2 anos

...


...
Eduardo Prado Coelho nasceu em Lisboa, a 29 de Março de 1944, e faleceu na mesma cidade a 25 de Agosto de 2007.
Licenciou-se em Filologia Românica, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e doutorou-se em 1983, na mesma Universidade.
Em 1984, passou para a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Em 1988, foi para Paris ensinar no Departamento de Estudos Ibéricos da Sorbonne - Paris 3.
Entre 1989 e 1998 foi conselheiro-cultural na Embaixada de Portugal em Paris e, em 1997, director do Instituto Camões, nesta cidade.
Colaborou sempre em jornais e revistas, nomeadamente no suplemento literário do Público, Mil Folhas, que saía ao sábado, escrevendo também uma crónica diária, mais pessoal, no mesmo jornal.
Autor de uma ampla bibliografia universitária e ensaística, onde se destacam um longo estudo de teoria literária, "Os Universos da Crítica", vários livros de ensaios "O Reino Flutuante", "A Palavra sobre a Palavra", "A Letra Litoral", "A Mecânica dos Fluídos", "A Noite do Mundo", ganha o Grande Prémio de Literatura Autobiográfica da Associação Portuguesa de Escritores, em 1996, com o diário, em dois volumes, "Tudo o Que Não Escrevi". Em 2004, foi-lhe também atribuído o Grande Prémio de Crónica João Carreira Bom. "Nacional e Transmissível" foi o último livro que publicou.

Ler - Setembro

...


"A maior flor do mundo", de Saramago

...

...
Segue-se o link para a curta metragem A Maior Flor do Mundo, baseada na obra homónima para crianças escrita por José Saramago e narrada apelo autor. Trata-se de um filme que ganhou um prémio no festival de cinema ecológico de Tenerife. Para os nossos meninos e meninas.
http://flocos.tv/curta/a-flor-mais-grande-do-mundo/
Auxília Ramos

sábado, 22 de agosto de 2009

Ilhas de bruma

...
S.Miguel ergue-se na bruma, adormecido sobre as águas do Atlântico. Sinto sempre o mesmo deslumbramento quando sobrevoo a ilha encoberta e vislumbro a costa que se precipita no mar, depois de percorrer uma manta imensa de retalhos verdejantes. Ignorados por tanta gente, os Açores são caravelas perdidas que se transformaram em ilhas místicas pintadas de verde e semeadas no imenso oceano azul .
...
...
Desço do avião e um bafo intenso, uma humidade impiedosa, invade-me e consome-me a pele e as entranhas... Percorrer toda a ilha é atravessar séculos de povoamento e sentir um silêncio avassalador e ancestral. O litoral acidentado derrama-se pelo mar, invadindo o infinito em abruptos rendilhados. Cachalotes brancos esfarelam-se pelos céus e repousam nos picos. As lagoas mágicas guardam enigmas indecifráveis e a terra transpira vapores fortes e inóspitos.
...
...
A natureza brota em todo o seu esplendor nas nascentes férreas, nas poças transparentes, nos campos fecundos, na vegetação pletórica e luxuriante. O verde sufocante apodera-se dos trilhos limpos e acertados e das manadas lentas que pastam dolentemente pelas encostas.
Já subi vezes sem conta à lagoa do fogo; de cada vez o mesmo êxtase e o mesmo arrepio de descobrimento. O tempo pára e paira sobre este gigante intocado que parece ter derramado lágrimas inconsoláveis no seu regaço solitário.
...
...
...
O Nordeste é uma peregrinação obrigatória; pelo silêncio e pela calma que desce dos céus e emana da terra fértil. É o santuário do priolo, um pássaro em vias de extinção que fez da Tronqueira o seu derradeiro lar.
...
Nas Furnas, ouço a respiração da terra, expelindo furiosamente enxofre do seu ventre. Dos miradouros vislumbra-se o vale salpicado de casas modestas, esquecidas no longe, alvejando na distância. Sigo para a lagoa. A Igreja de José do Canto é o guardião sombrio das margens. Melancólicos chalets contemplam as águas cristalizadas que mimetizam os céus. É uma moldura onírica, como se pertencesse ao tempo dos gnomos, das fadas e dos duendes...
...
..
...
Filas de hortênsias limitam as fronteiras dos campos retalhados, são soldados floridos que guardam as portas do paraíso. O exército alinha-se: as gigantes criptomérias, as perfumadas conteiras e os informes fetos pontilham os caminhos rurais.
...
...
No regresso pelo litoral, as casas roubadas aos penhascos rochosos, em equilíbrio sobre o mar. O lastro da pobreza acentua-se no falar carregado e acentuado das gentes do mar. Famílias inteiras na soleira da porta, vendo o dia passear na rua; as barbearias carregadas de calendários e troféus desportivos, as tascas, as lojas, com o álcool e a imagem do Senhor Santo Cristo lado a lado, as mercearias esquecidas, os putos nas bicicletas, vociferando brutamente, os cavalos das arribas cultivadas clandestinamente, os burros abandonados a pastar o crepúsculo... Esta gente dura, disforme, bruta e feia... Esta gente genuína que enfrenta o mar e a ausência, a morte e a pobreza...
...
...
E lembro-me por fim que foi essa gente dura, disforme, bruta e feia; essa gente genuína, que a literatura açoriana tão bem reproduziu nas obras de Vitorino Nemésio ou de João de Melo. Lembro-me que é esta paisagem que inspira o erotismo e a força de Natália Correia. Lembro-me que é esta melancolia que perpassa a poesia de Antero de Quental. E tantas outras vozes ecoam esquecidas por este arquipélago abençoado pela mão de Deus...
...
Todas as imagens foram retiradas de www.olhares.com

sábado, 15 de agosto de 2009

i - Os livros que os "famosos" levam na mala...

...
LÍDIA JORGE Está a ler Love De Toni Morrison
...
"É uma história poderosa sobre a vida de várias mulheres em torno de um homem. Apresenta muito bem o mundo das mulheres negras dos EUA, com os seus problemas de ascensão. Tem um fundo de humanidade muito profundo." Para além deste aconselha outros três "que tem em cima da secretária": Golpe de Misericórdia, de Marguerite Yourcenar, Nada, de Carmen Laforet, e O Amante, de Marguerite Duras.
...
...
INÊS CASTEL-BRANCO Está a ler Criadores De Paul Johnson
...
Criadores é uma compilação de várias biografias de artistas, como Picasso, Verdi ou Shakespeare, e estou a gostar muito.” Para as férias, a actriz aconselha Sputnik, Meu Amor, de Haruki Murakami: “Foi o livro que li antes deste. Gostei muito, é uma história de amor não correspondido, com um desaparecimento pelo meio, e passa-se na Grécia. É engraçado ver a visão que um japonês tem da Europa.”
...
...
MÁRIO CRESPO Está a ler O Homem de Sampetersburgo De Ken Follett
...
Estas férias já deram para o jornalista ler dois livros: Diário de Um Mau Ano, de Coetzee, e Waiting for the Barbarians, do mesmo autor. “Recomendo o Diário de um Mau Ano, porque é um livro belíssimo. Tornou-se um dos livros da minha vida. É daqueles livros que, mesmo quando fazia uma pausa, estava sempre a pensar nele e desejoso de voltar à leitura. O final é absolutamente sublime.”
...
...
JÚLIA PINHEIRO Está a ler Afastado De Sadie Jones
...
A apresentadora lê vários livros por semana e ao mesmo tempo. Na semana passada leu Leite Derramado, de Chico Buarque, o policial A Semelhança, de Tana French, e O Regresso, de Bernhard Schlink, que recomenda: “É um livro extraordinário, que traz as questões relacionadas com a guerra e o pós-guerra, a culpa alemã que leva pessoas a perderem-se de outras, o ter de lidar com aquele legado fortíssimo.”
...
...
CINHA JARDIM Está a ler Enquanto Salazar Dormia De Domingos Amaral
...
Cinha tem sempre um livro à mão. Para além deste, que “é um livro belíssimo, aconselho a toda a gente, é fantástico”, já tem na mala de viagem Buyology – A Ciência do Neuromarketing, de Martin Lindstrom. “Já dei uma vista de olhos e é um livro muito actual, muito prático. Denuncia as estatísticas, diz que elas mentem e explica o que é que nos leva a comprar: que no fundo é o cérebro.”
...
...
TERESA CAEIRO Está a ler Diário de Um Ano Mau De J. M. Coetzee
...
A deputada do CDS/PP gosta de ler vários livros ao mesmo tempo. Para além de Coetzee, está a ler My Name is Red de Orhan Pamuk. “É um mistério que gira em torno da morte de uma pessoa. É magnífico e emocionante. É um livro de ficção muito cativante. Ele descreve Istambul de uma forma soberba e como estive lá há pouco tempo estou a gostar muito de ler as descrições. Recomendo vivamente.”
...
...
MÁRIO LAGINHA Está a ler Leite Derramado De Chico Buarque
...
Este não é o primeiro livro que o pianista lê do músico brasileiro: “Já tinha lido o Budapeste e gostei muito. Acho que ele é um genial escritor de letras de canções, mas não só.” Para as férias recomenda policiais de duas escritoras: Patricia Highsmith e Agatha Crhistie. “Os amigos com quem estou de férias trouxeram policiais para ler e fiquei a pensar que também devia ter trazido. Divirto-me sempre com o suspense.”
...
...
JOAQUIM LETRIA Está a ler Murder of Quality De John Le Carré
...
Joaquim Letria não está de férias, mas nem por isso deixa de ler: “Estou a reler dois livrinhos do John Le Carré que me dão o prazer único de reencontrar quem escreve maravilhosamente. São eles: The Looking Glass War e, muito especialmente, o Murder of Quality. Recomendo-lhes! Além do mais, dão-me a sensação de estar de férias e refrescam o meu inglês que, graças a Deus, nada tem de técnico!”
in jornal i

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Livro(s) do mês

...

...
Deixo uma sugestão de leitura para quem gosta de narrativas curtas e fantásticas: "O Visconde cortado ao meio" de Italo Calvino. Li o livro no último fim-de-semana, muito rapidamente, não só porque o "roubei" das mãos de um amigo, mas também pelo misterioso enredo que logo me "apanhou".Mais do que uma narrativa de ficção, utilizando uma linguagem simples e inocente, por vezes muito próxima da dos tradicionais contos de fadas, "O Visconde cortado ao meio" é uma espécie de alegoria sobre a natureza humana. O protagonista do romance, Visconde Medardo de Terralba, atingido num campo de batalha por uma bala de canhão que o corta verticalmente a meio, representa a dualidade da natureza humana: as suas duas metades, a "boa" e a "má" sobrevivem independentes uma da outra e regressam, cada uma a seu tempo, à sua terra natal. O regresso das duas metades do Visconde dá origem a uma série de acontecimentos e peripécias que ultrapassam o limiar da realidade e envolvem outras personagens que se vêem divididas entre "a malvadez e a virtude igualmente desumanas" (palavras do narrador).O desenlace desta narrativa histórica, fantástica, ingénua e, subtilmente, filosófica fica para quem se aventurar na leitura de "O Visconde cortado ao meio".
Auxília Ramos

domingo, 9 de agosto de 2009

O primeiro voo foi há 300 anos

...

...
A 8 de Agosto de 1709, o primeiro balão de ar quente subiu até ao tecto da Casa de Índia, no Paço da Ribeira, em Lisboa. O feito marca o ano zero da aeronáutica. Foi há 300 anos.

Padre Bartolomeu Gusmão, luso-brasileiro, decidiu oferecer o invento a D.João V. Numa petição apresentada quatro meses antes, descrevera a sua mítica "Passarola" como um salto para os transportes, útil ao comércio e para novos descobrimentos.

Em Portugal, Gusmão ficou à época conhecido como "burlão e feiticeiro", diz Joaquim Fernandes, autor do livro Os Grandes Portugueses Esquecidos e que vai agora publicar uma biografia inédita do primeiro homem a pensar no céu como um caminho.

"Portugal, o país escolhido para tão heterodoxo desafio ao impossível, não soube valorizar a ousadia, desprezando-a e cedendo a outros europeus - os irmãos Montgolfier, mais de sete décadas depois, a primazia no voo humano", lê-se num excerto da obra.
in jornal i

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Musicografias

...
Desde sempre, para mim, o Verão, mais do que um tempo de festas e andanças, sempre foi um tempo de paragem. De dias grandes, de noites maiores, incrivelmente maiores, quase intermináveis de serenidade. A música que proponho, "A Lua Partida ao Meio", cantada pela Maria João, foi editada num álbum de 2000, chamado "Chorinho Feliz" e deixa-me deitado num relvado fresco, a olhar para o céu. Naqueles dias em que a Lua está tão próxima que queremos mesmo ficar "sentado nela, espiando a terra". Sinto que perdemos esta capacidade quase pueril de olhar para a Lua, olhar para o Céu, por andarmos tão cabisbaixos. Hoje vou avisar os homens altos para terem cuidado...Boas Férias!
Joaquim Silva

Maria João & Mário Laginha - Lua Partida ao Meio

sábado, 1 de agosto de 2009

Livro(s) do mês - Agosto

... ..
. ..
Há muito tempo que não "devorava" um livro assim...
Toda a história se desenvolve em torno de um misterioso e raríssimo livro hebraico, um códice do século XV, salvo da Inquisição, que surge cinco séculos depois, em Sarajevo, em plena guerra.
Geraldine Brooks, correspondente do Wall Street Journal na Bósnia e no Médio Oriente, recebeu por esta obra um Prémio Pulitzer. A autora constrói um intricado novelo que percorre os cinco séculos e caminhos distantes, desde a Espanha de 1492, a Veneza de 1609, Viena de 1894, Sidney, Boston, Londres e Sarajevo de 1996. Uma narrativa de tirar o fôlego e o sono... Entre estas datas e estes lugares tão díspares, um livro e uma conservadora, Hanna. Um fragmento de uma asa de insecto, manchas de vinho, pedras de sal, um cabelo branco - são estes os elementos que conduzirão Hanna até aos mistérios ancestrais que envolvem o livro e que revelarão as histórias dramáticas daqueles que lutaram para o salvar.
Baseado em factos verídicos, é uma viagem pela história da Europa e pelas suas feridas seculares: a Inquisição e as duas Grandes Guerras, o Nazismo, o anti-semistismo, o conflito na ex-Jugoslávia.