domingo, 30 de março de 2008

Lista dos melhores livros

"Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de livraria"


Jorge Luis Borges (escritor argentino)




A pedido de alguns alunos, deixo aqui várias propostas de leitura. Tentei não limitar as escolhas à língua portuguesa, apresentando sugestões da literatura universal. Remeto, através de um artigo do Público, para uma lista de obras exclusivamente portuguesas, da autoria de Fernando Pinto do Amaral; para uma lista promovida pela revista TIME e uma outra, mais comercial, elaborada pela FNAC. Naveguem pelos endereços sugeridos. Encontrarão vários caminhos... E fico à espera da vossa própria lista...


Antes porém, deixo um testemunho muito interessante de José António Gomes, e muito pessoal, que tomei a liberdade de transcrever: é a lista de um professor universitário do Porto que dedicou a sua actividade académica à literatura portuguesa. Pode ser uma referência e mais um caminho:



"Construir uma lista de «10 livros da minha vida»… e ficar a lamentar-me por não poder acrescentar outros tantos! Muitos mais: Safo e as Cantigas de Amigo galaico-portuguesas, os sonetos de Camões e os haikus de Bashô, o Jorge Manrique das Coplas por la Muerte de Su Padre e o Padre António Vieira do Sermão de Santo António aos Peixes. Ou o Stendhal de O Vermelho e o Negro, a Madame Bovary de Flaubert, o Camilo das Novelas do Minho e da trilogia «realista», o Marx do Manifesto, Os Maias de Eça, os contos e aforismos de Oscar Wilde e as Elegias de Duíno de Rilke. Mais os livros nucleares de Pessoa e C.ª heteronímica. E o Lorca, o Cernuda e o Ramón Gómez de la Serna. O Aquilino de O Malhadinhas e a maioria dos contos de Torga. Os livros da adolescência: As Vinhas da Ira do Steinbeck, Um Rapaz da Geórgia de Caldwell, Por quem os Sinos Dobram de Hemingway e mais uns tantos norte-americanos. O Fogo e as Cinzas do Manuel da Fonseca, o Malraux de L’Espoir, o Primo Levi de Se Isto É um Homem. E os poemas de Brecht, Neruda e Paul Celan. O Giorgio Bassani de O Jardim dos Finzi-Contini, o Sartre de As Palavras, o Kerouac de On the Road e o García Marquez dos Cem Anos de Solidão. O Octavio Paz, o Giorgos Seferis e o Drummond. Os Trinta e Três Nomes de Deus de Marguerite Yourcenar. O Roland Barthes de O Prazer do Texto. O Brodsky da Marca de Água. A Directa do Nuno Bragança, o Levantado do Chão do Saramago e o A-Ver-O-Mar de Luísa Dacosta. A Poesia Toda do Herberto Hélder e o Ciclo do Cavalo do Ramos Rosa. Os Olhos de Ana Marta de Alice Vieira, e todos os outros que gostaria de ter incluído na lista: Baudelaire, Michaux e Guillevic, Pavese e Ungaretti, o Cesário, o Pessanha e o Nobre, a Irene Lisboa, a poesia de Sena, Cesariny, Ruy Belo e Eugénio de Andrade, a de Fiama e Luiza Neto Jorge, o Mário de Carvalho de Um Deus Passeando na Brisa da Tarde…). Em suma, os «10 livros de uma vida» nem sempre são as melhores obras que lemos (aos treze lia com desvelo A Família Inglesa do Júlio Dinis e, aos dezassete, lia e relia o Howl and Other Poems de Ginsberg!). Algumas talvez não mereçam sequer uma releitura. Mas, provavelmente, são obras que determinaram mudanças na nossa vida (pelo menos, na nossa vida de leitores). Livros em que nos (re)encontrámos. Ou livros em que nos perdemos – para, em seguida, tomarmos novo rumo. Que é sempre um caminho pontuado por descobertas ao virar de cada esquina. Por isso, quando passarem alguns anos sobre esta lista, os «10 livros da minha vida» serão porventura outros. Ou talvez não. Aí ficam, então, os dez de agora. Sem hierarquia, pela ordem alfabética do apelido do autor.

1. Livro Sexto de Sophia de Mello Breyner Andresen
2. Seis Propostas para o Próximo Milénio de Italo Calvino
3. O Homem dos Lobos e Totem e Tabu de Sigmund Freud
4. Poemas e Prosas de Konstandinos Kavafis
5. Jogo de Espelhos de David Mourão-Ferreira
6. Trabalho Poético de Carlos de Oliveira
7. Em Busca do Tempo Perdido – Do Lado de Swann de Marcel Proust
8. Até Amanhã, Camaradas de Manuel Tiago
9. A Arte de Viver para as Novas Gerações de Raoul Vaneigem
10. Sapato de Fogo e Sandália de Vento de Ursula Wölfel"

José António Gomes




. As escolhas de Fernando Pinto do Amaral em 100 Livros Portugueses do Século XX






"Queria que os leitores reconhecessem uma série de livros que já tinham lido e que não fosse uma lista demasiado subjectiva, baseada no meu gosto pessoal. É claro que, em certos casos, não abdiquei disso, assumo um lado mais subjectivo, como por exemplo a obra da Maria Gabriela Llansol, uma autora conhecida por pouca gente, ou outros casos de autores mais antigos que não são muito lembrados, como o poeta Afonso Duarte."



Exemplo de escolhas baseadas no impacto histórico são as obras "Gaibéus", de Alves Redol, "na altura, um livro emblemático para o neo-realismo" - o autor escreveu outro "claramente superior", "Barranco de Cegos", sublinha - ou "Retalhos da Vida de Um Médico", uma obra de que Pinto do Amaral gosta menos do que de outras de Fernando Namora, mas o número elevado de edições, as adaptações à televisão e ao cinema tornaram-na incontornável. Há ainda o caso de "A Selva", de Ferreira de Castro, traduzido em diversas línguas e "um dos mais lidos na geração dos nossos pais ou dos nossos avós, embora haja quem tenha muitas reservas quanto ao mérito literário de Ferreira de Castro".



E há escolhas polémicas? "Algumas obras não são muito óbvias. Por exemplo, o romance 'A Origem', de Graça Pina de Morais, é belíssimo, mas sinto que pode ser uma escolha polémica na medida em que não é evidente."



Quanto às obras excluídas, Pinto do Amaral afirma: "Há tantas...! É muito fácil dizer que há livros que poderiam estar aqui e não estão, mas é mais difícil apontar o livro que saía para esse entrar..."



A selecção abre com "A Cidade e As Serras", de Eça de Queirós - obra escrita ainda no século XIX, editada, postumamente, em 1901, mas que Pinto de Amaral quis incluir como homenagem a Eça - e fecha com "Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura", de António Lobo Antunes. Não há antologias colectivas, nem repetições de um mesmo autor - Fernando Pessoa é representado pelo ortónimo e heterónimos. Há, no entanto, uma excepção: Maria Velho da Costa, que está representada com "Maina Mendes", obra "incontornável", e com "Novas Cartas Portuguesas", de que é co-autora com Isabel Barreno e Maria Teresa Horta, "um livro sui generis, ímpar", que "não poderia deixar" de estar na lista.



Poucos são os livros datados do início do século XX, porque a maioria ainda surge colada ao espírito do século anterior. Também não foram incluídas obras de jovens autores (Clara Pinto Correia, nascida em 1960, é a escritora mais nova, representada com "Adeus, Princesa"). "Nos últimos anos houve grandes revelações, e de pessoas muito novas, mas ainda não há distância suficiente", refere Pinto do Amaral.Os textos são curtos, contêm informações essenciais sobre obras e autores, houve alguma preocupação didáctica mas este livro não foi concebido a pensar em eruditos, académicos: o objectivo é a divulgação da literatura portuguesa, quer internacionalmente, quer nacionalmente (a primeira edição, de1400 exemplares, é em português e inglês, está a ser feita uma segunda de mais de quatro mil, e estão previstas edições bilingues em castelhano e francês). "Procurei escrever textos para que o leitor ficasse com uma ideia de cada um dos 100 livros, não tive a preocupação de dar bibliografia acessória, estudos, etc. No fundo, é também um livro lúdico."
Jornal "Público" de 27 de Abril de 2002
. A lista da revista TIME: http://www.time.com/time/2005/100books/

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