sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Estrelas em papel - 7ºAno

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Fruto da cooperação entre as disciplinas de Ed. Visual e de Língua Portuguesa, as turmas de 7ºAno expuseram os seus trabalhos de ilustração e de Oficina de Escrita, no âmbito do estudo do conto "A Estrela" de Vergílio Ferreira.
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Aqui ficam algumas imagens:
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quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Feira do Livro Usado

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Colégio Luso-Francês (de 15 a 18 de Dezembro)
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Tem sido comovente assistir à venda dos livros usados. Reunimos mais de 2000 volumes e já vendemos largas centenas em apenas dois dias. É uma experiência surpreedentemente tocante a de ver crianças de 5 anos a pedir aos pais para comprar um livro para ajudar os meninos de Moçambique. Agradecemos o empenho, o carinho e o tempo de todos quantos têm ajudado a tornar esta experiência possível. Neste caso, não podemos de forma alguma falar de lucro ou de dinheiro... pelo contrário, enquanto arrumávamos e catalogávamos e vendíamos, a nossa imaginação atravessava dois oceanos e dois continentes para junto daqueles que ainda não têm o que ler. E esse lucro é inestimável e imensurável...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Estrelas em papel - 7ºAno

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fotografia retirada do sítio http://www.olhares.com/
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Mais um texto sobre A Estrela de Vergílio Ferreira:


7b


No cimo de uma montanha encontrava-se uma igreja, no cimo da igreja, uma torre, e, no cimo da torre, um galo de ferro que, apesar de não sair do sítio, se movia e vigiava o vale ao sabor do vento. As casas pequenas e brancas que as famílias habitavam estavam dispersas na parte superior do monte. A parte inferior era revestida por longas tiras de vinhas. Uma rua rasgava a montanha, desde a porta da igreja à aldeia mais próxima que ficava, aproximadamente, a onze quilómetros dali.
Já tinha passado, aproximadamente, um ano desde a morte de Pedro, um ano de tristeza entre as pessoas. As suas faces estavam pálidas e frias. As colheitas tinham sido fracas, os animais só emagreciam, as galinhas não punham ovos e o sol só se vira duas ou três vezes. A montanha estava cinzenta como o Inverno, apesar de estarem no Verão. Era estranho como é que a falta de um simples rapaz influenciara tanto a vida quotidiana dos habitantes.
Certo dia, a mãe de Pedro olhou para o céu e viu a estrela que se realçava no imenso escuro, por ser tão brilhante e bonita. Não costumava olhá-la, estava sempre ocupada a trabalhar ou a queixar-se do trabalho. A certa altura, estranhou o aumento gradual da intensidade do brilho da estrela que, realmente, não era normal. Chegou a um ponto que quase a cegara. Da luz, surgiu uma silhueta estranha. Era difícil identificá-la com os olhos semi-cerrados pelo brilho. Acordou num sobressalto e berrou:
- Pedro! Ele estava ali! O brilho! Eu vi. Eu sei que o vi. O nosso filho…
O pai, acordado pelo barulho, perguntou, obviamente, o que é que se passara. Ela, ainda confusa, continuou a dizer que vira o seu filho. Passados alguns segundos, apercebeu-se que fora só um sonho e encostou, muito triste, a cabeça de novo na almofada, mas não adormeceu.
No dia seguinte, a mãe caminhava calmamente pela aldeia. As olheiras destacavam-se no rosto pálido do frio e da tristeza. As pessoas cumprimentavam-na, mas ela não respondia; não por má educação, talvez por estar com sono ou ainda a pensar no sonho da noite anterior.
Na semana a seguir, foi verificar o lume, para não pegar fogo, como na noite em que descobrira quem havia raptado a estrela. Também como nessa noite, viu uma luz vinda por debaixo do quarto de Pedro. Ainda não o tinham arrumado, diziam que não tinham tempo. Na verdade, o que não tinham era coragem para entrar lá outra vez. Contudo, a casa podia a estar a ser assaltada. Então esqueceu o medo e entrou no quarto com um bastão na mão. Foi a maior surpresa do mês, e já tinha tido muitas, quando viu o seu filho a segurar a estrela. Era uma autêntica repetição do passado. A luz saía das mãos do menino que se sentava em cima da sua cama com os lençóis do Pato Donald. De Pedro, só ouviu uma palavra: “Esquece.”. No mesmo momento que sorria para a mãe, desapareceu. Agora, esta não chamou a atenção de ninguém. Quer essa cena tivesse acontecido ou não, ela retirou daí uma mensagem.
Desde então, nunca mais chorou outra vez por Pedro. Na manhã seguinte, as flores desabrocharam, as árvores deram frutos, as vinhas deram uvas e as nuvens afastaram-se, para deixar o sol brilhar, tudo num período de tempo muito curto.

Duarte Magano

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

60ºAniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos

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Hoje, foi esta a nossa Oração da Manhã no Colégio:
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Em nome dos que choram,
Dos que sofrem,
Dos que acendem na noite o facho da revolta
E que de noite morrem,
Com esperança nos olhos e arames em volta.
Em nome dos que sonham com palavras
De amor e paz que nunca foram ditas,
Em nome dos que rezam em silêncio
E falam em silêncio
E estendem em silêncio as duas mãos aflitas.
Em nome dos que pedem em segredo
A esmola que os humilha e os destrói
E devoram as lágrimas e o medo
Quando a fome lhes dói.
Em nome dos que dormem ao relento
Numa cama de chuva com lençóis de vento
O sono da miséria, terrível e profundo.
Em nome dos teus filhos que esqueceste,
Filho de Deus que nunca mais nasceste,
Volta outra vez ao mundo!

José Carlos Ary dos Santos, Kyrie

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Palavras que tocam...

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Destaque do Cabaz de Natal
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«Quando eu morrer não se esqueça de mim». A memória esvai-se. Quero-me lembrar da expressão, do sorriso límpido, de uma beleza despovoada como o deserto. Da tua juventude. Não tinhas vinte anos, isso é seguro. «Não se esqueça de mim!» Lembro-me da combina: «Só quero durar até ao Natal». Porquê o Natal, Deus meu? Tu que irias ter com os anjos todos os dias, e contar coisas da Terra e dos homens, tu que fazes já parte do paraíso e sempre fizeste. «Até ao Natal, doutor», depois pare as torneirinhas que regam as minhas veias, tentando manter o verde da vida, das plan­tas com viço que no meu jardim, à míngua de seiva, soluçam em tons de castanho. «Não se esqueça de mim». Não me esqueço de ti meu menino Jesus feito menina. Tu só querias viver até ao dia em que nasceu aquele que dá sentido às coisas. Porquê meu Deus? Cumpri a minha parte e tu cumpriste a tua. Não mais qui­mioterapia depois do Natal, só a tranquilidade dos que têm fé e sobem, devagarinho, perante nós. «Não se esqueça de mim». Como te posso esquecer? És só uma voz, uma esperança, um fio de coragem, coisa pequena, apenas regato. E no entanto, amo-te como a uma visão, uma miragem que deixasse uma marca de pri­vilégio por ter tocado a tua mão. Tenho a memória exacta do can­cro. Começava no pescoço. Devagarinho subia através da nuca, silencioso, determinado como fera no capim. Penetrava o osso, abria o embrulho que esconde e protege a tua alma, e em tons de branco e cinzento, devagarinho, corroía o cérebro. Primeiro encostou-se, depois embuste, como erva daninha, começou a ali­mentar-se do teu sangue, sorveu a tua vida, entrou sem pedir licença. Conheci-te porque ao tocar o teu íntimo, a doença, cal­cula, fazia-te ver estrelas. Pequeninas, brilhantes e fugazes. Estra­nhas, contudo, porque surgiam durante o dia. «Doutor, não se esqueça de mim». Não me esqueço, nem do remorso pela pirueta de artista amestrado que se enche de orgulho pelo diagnóstico certeiro, ainda que seja o de uma flecha implacável que marca o destino. As estrelas que vê, minha querida, não habitam o céu, são fogo de artifício da doença que a consome. Coisa estranha a epilepsia. O cérebro invadido cria por momentos a ilusão de um firmamento. Eu vou tratá-la, quero dizer, trazer as estrelas à terra e apagá-las com um sopro. Como velas em dia de anos. Ao mesmo tempo, minha querida, apagar a ilusão. Eu próprio bate­rei palmas ao golpe de mágica que faz desaparecer as estrelas como te afastasse, te adiasse o Céu que no fundo desejavas. «Até ao Natal, doutor, e depois, não se esqueça de mim».
Agora, onde estiveres, de certeza que há Mar. Brincas com o Menino Jesus que querias conhecer, a cuja festa de anos não que­rias faltar, menina que espera o nascimento do irmão. Escavam na areia crateras que a maré enche. Ouvem o adeus das ondas e sentem o abraço do seu retorno. De certeza que discorrem sobre coisas de somenos importância, quem sabe disputam pás e anci­nhos, clamando pela Nossa Senhora que ponha ordem naquela disputa. Estou certo que levaste a melhor, e o menino Jesus, a cujos anos não querias faltar, faz carranca e beicinho. Nossa Senhora irá decerto lembrar a generosidade que é necessário te: com quem se convida para os anos.» Deixa a menina brincar». «Só até ao Natal, doutor, e não se esqueça de mim». Não te esqueças tu de mim. Onde estás lembra-te de que cumpri a minha parte, lutei contra a besta que te consumia e de mim te apartava, apa­guei as luzes que pareciam estrelas e criei a ilusão de adiar a eternidade. Como se fosse possível, meu Deus, haver vida para além do Natal.
Nuno Lobo Antunes

Pessoa(s) - 12ºAno

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Ainda Fernando Pessoa (Oficina de Escrita: Pessoa visto pelos alunos)
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Um homem enchapelado e de vestes negras senta-se à secretária de cigarro na mão. Na sua face lê-se uma expressão algo enigmática, e na folha que repousa sobre a mesa adivinha-se um poema. O bigode curto e negro e os óculos de míope inveterado não deixam dúvidas: é Fernando Pessoa. Deixou-nos Almada Negreiros esta imagem de um homem que, ou pelo interesse pela literatura, ou pela força de frequentes encontros casuais com a sua figura e com o seu nome, a todos nos é familiar. De facto, Fernando Pessoa é um nome que desde logo se impõe como sendo pertencente a uma personalidade lapidarmente impressa na literatura e espírito nacionais. Conquanto não tenha conhecido qualquer projecção em vida, tendo sido recebido com desprezo pela maioria do público, Pessoa enfileira hoje, de forma incontestável, entre os maiores poetas de todos os tempos.
Aquilo que sei sobre ele deriva, pois, de uma espécie de consciência nacional, a mesma que me leva a reconhecer a Torre dos Clérigos ou o Mosteiro dos Jerónimos como parte integrante de um património profundamente português. Sei-o múltiplo, ecléctico, paradoxal, anglómano e predicante de ideais de teor patriótico, sebastianista e regenerador. Invejo-lhe a imaginação, e a capacidade de continuamente recriar os mundos quiméricos de que se fazia rodear. Encontro nele uma nova forma de conceber a literatura como linguagem e uma relação desconcertante entre autor e obra, que tanto se aparta da tradicional. Muitos são aqueles que nos seus poemas e romances dão vida a personagens fictícias, delineando-lhes a biografia e a personalidade, mas ninguém como Pessoa se apodera dos caracteres físicos e psíquicos das suas criações, fazendo-os seus. Campos, Caeiro e Reis são personagens que poderiam figurar num qualquer romance, mas a quem Pessoa empresta o corpo e a pena. É sublime poder testemunhar as permanentes metamorfoses a que se submete, é verdadeira poesia!
Seria maluco? Ouve-se por aí dizer que o era, mas quem o não é? “De poeta e louco, todos temos um pouco”: assim postula a sabedoria popular, a mesma a quem tantas vezes ouvimos dizer “Primeiro estranha-se, depois entranha-se!” ou ainda “Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena!”.


Inês Homem de Melo Marques
12B

Cabaz de Natal

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Natal é sempre que um homem ler...
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In Memoriam

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Uma homenagem a António Alçada Baptista (duas sugestões de leitura).