segunda-feira, 28 de setembro de 2009

"Diáspora", de José Rui Teixeira


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Na última sexta (25 de Novembro), o poeta, amigo e colega José Rui Teixeira apresentou Diáspora, testemunho de uma década de poesia. Não pude estar presente num momento que considero decisivo para a sua poética, uma vez que marca um separador temporal importante, fixando, no fundo, a legitimidade da sua periodização e a sua afirmação enquanto "poesia pós-moderna" (não que as classificações hermenêuticas tenham muita importância...). Sei que o Zé Rui contou com a presença dos amigos mais cúmplices e de todos os que caminham com ele, sei que foi um instante único de cumplicidade e de partilha. E, embora não estivesse lá, sei que a noite tocou o inefável no seu manto intimista de carinho e de amizade profundos.
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Deixo as palavras da Drª Auxília Ramos, que teve o privilégio de estar presente:
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Sexta-feira, à noite, a capela de Fradelos, no Porto, voltou a ser “abrigo” para um grande número de amigos que se reuniram em volta do trabalho poético de José Rui Teixeira. A apresentação da sua mais recente publicação “Diáspora” esteve a cargo de Fernando de Castro Branco que, engenhosamente, urdiu um discurso em torno da vida e morte, de lugares, de caminhos, de imagens e metáforas, da sobreposição de memórias, de incursões bíblicas, de terra, água, ar e fogo, de jardins com magnólias, da figura materna, de tessituras verbais que resistem à tentação da ausência de luz, do vazio semântico...
Para mim, bastava-me “um coração cheio de milagres”…
“Diáspora” reúne, de forma depurada, o trabalho poético de uma década, mas inova com “Ataúde”, um inédito trabalhado entre 2008-2009 – “ Fala-me secretamente das magnólias, do modo/como caem as pétalas sobre a terra nos últimos dias”…
Uma década, assinalou José Rui, acrescentando que a História se faz por décadas. Uma década desde a primeira publicação do seu trabalho poético. Não sei se a noite de sexta, na capela de Fradelos, foi um acontecimento histórico, mas foi, certamente, um momento especial para muitos. Ao ouvir a palavra “década” na boca do Zé Rui, recuei vertiginosamente no tempo e revisitei vários momentos passados: a biblioteca do CLF no dia em que homenageamos o poeta/colega pela publicação de “Vestígios” (a primeira), a primeira apresentação pública em Fradelos, “um lugar que habitamos juntos”, talvez não tão povoado como sexta-feira, mas, seguramente, tão ou mais cúmplice de um amigo, de um poeta, de um peregrino que assume que “partimos sempre mais do que chegamos.", a inclusão em manuais escolares de alguns dos seus poemas, a “encomenda” de um inédito para ilustrar, poeticamente, os pensamentos de Maria Bárbara, a princesa de “Memorial do Convento”…
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“Nasceste numa manhã como se fosse um lugar branco
e as mãos entranharam-se em ti para te dar à luz.
mas não te deram asas no dia em que nasceste.
nem te deram luz. Deram-te uma ferida e um coração
de carne e tiveste que aprender a ver através das
superfícies. (…)”
(inédito, 16 de Dezembro de 2004)

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Foi um serão de memórias. De gratidão. Um serão em que, uma vez mais, a poesia do José Rui nos desinstalou, nos fez protagonistas de uma diáspora, nos convidou a partir em busca dessa “essencialidade”, apenas pressentida nas páginas dos seus livros: Vestígios, Quando o verão acabar, Para morrer, Melopeia, O fogo e outros utensílios da luz, Assim na terra, Oráculo e Zerbino.
"Começa o tempo onde se une a vida/ à nossa gratidão." - Herberto Hélder
Auxília Ramos

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