domingo, 27 de março de 2011

Sem nome de guerra



Hoje vejo as pessoas, na rua, vestidas em muralhas de pedras altas e impenetráveis. Seguem percursos, sozinhas ou em grupo, (e, desculpem-me a ironia, a diferença não há-de ser muita), o cerco posto, a vigia em sentinela, e o conforto da situação é tal que nem dão pelo peso da artilharia, ao pousar o pé no passeio e ao sorrir de leve num “até amanhã” que se lança de alívio.

É uma batalha sem campo próprio nem lugar. E, pior do que isso, é uma batalha invisível e sem nome de guerra. Se se combate é em nome do “Eu”, os aliados perdem força numa sociedade em que de cada um é exigido um individualismo extremo, um culturismo do espaço próprio e pessoal. Que se culpe o egoísmo que alimenta tudo isto e ensina que o “eu” vale sempre mais do que o “vós” (só tenho pena que se esqueça que no “vós” estamos “nós”). Que se culpe esta pressão de “ter de ser o melhor”, de entrar na faculdade, de arranjar emprego, um bom ordenado… A exclusividade torna-nos armas de combate, a abundância leva-nos à mais pura das infâncias. Hoje, vejo as bibliotecas tornarem-se em livros, as salas de estudo em carteiras… vejo a decadência das praças, dos largos, de todos os espaços públicos deitados ao abandono a que o individualismo incita. As pessoas fecham-se nos quartos, de tal modo que o que era das salas deixa de o ser, numa tentativa doentia de aperfeiçoar o espaço pessoal, próprio e fechado. Uma vénia ao “EU”, uma vénia ao “EU”. E pouco importa a Pátria ou a bandeira, pois esta guerra sem nome de guerra afecta o mundo sem darmos conta.

Hoje vejo as pessoas, na rua, vestidas em muralhas de pedras altas e impenetráveis. Procuro um rasto de sangue que justifique tudo isto, uma espada caída por alguém que perdeu o disfarce, procuro rastos de um Iraque e de um campo de batalha. Depois penso: a sociedade está doente e esta é a guerra da modernidade, de seu nome: COMPETIÇÃO.

Teresa Stingl, 12ºAno

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