O
livro não foi escrito para amigo, conhecidos, familiares, não foi escrito para
o próprio autor, foi escrito para a solidão.
João
Tordo guia-nos numa viagem de desconhecimento daquilo que pensávamos que o ser
humano poderia ser. De um modo despiedado, descreve tudo aquilo que o homem
intimamente é, quando se entrega aos gritos da loucura. Nestas páginas, tudo se
reduz à dimensão animalesca, não como justificação para o que de desumano
encontramos, mas por essa ser a verdadeira essência o mundo. Lemos o homem em
estado bruto, e isso não nos ofende, não produz qualquer onda de admiração. É a
constatação de uma realidade que já sabíamos existir no profundo do corpo. Apesar
das negações, sempre tomámos o lugar da loucura em nós como seguro.
O
homem que perdeu a família num incêndio, já conhecia bem os lugares da solidão,
já havia memorizado as entranhas de uma vida desfalcada. Helena amava um homem
que enlouquecera dentro de um abrigo, durante a II Guerra Mundial, e que a
violava repetidamente.
O
caminho para o desprendimento é mais rápido e mais fácil do que aquele que nos
prende a ele. É só esperar e a solidão aparece, na maioria das vezes,
premeditada para nós, desejada com os dias de sol no inverno. A solidão não é
um animal autónomo, não se cria abandonada e se alimenta da vida do homem.
Somos nós que lhe entregamos tudo, pomo-nos à sua disposição, sucumbimos
perante a sua chegada, e depois não queremos mais sair de um purgatório mental,
bem melhor do que o pesadelo que transportamos todos os dias.
O Livro dos Homens sem Luz
avança nas prateleiras livre de comentários. Quem o lê sabe que se trata de uma
imposição de uma parede de tijolos em redor de cada um.
Diana Falcão
(Texto enviado por Hélder Moreira)
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