terça-feira, 24 de março de 2015

Morreu Herberto Helder

O maior poeta português da segunda metade do século XX morreu aos 84 anos.

"Quando morre um poeta com a dimensão de Herberto Hélder o que sentimos é que não apenas morreu um poeta mas a poesia", declarou ao PÚBLICO o também poeta madeirense José Tolentino Mendonça, falando de um luto difícil. "Nestes casos o luto torna-se insuportável e, ao mesmo tempo, este luto faz-nos perceber que Herberto Helder é imortal com a sua obra. Daqui a mil anos, se subsistir um falante de língua portuguesa a poesia de Herberto Helder subsistirá".
Entre os muitos poemas do poeta que começou a ler na adolescência, Tolentino Mendonça lembra aquele que começa com o verso "Não sei como dizer-te que a minha voz te procura". É o início de um poema do livro A Colher na Boca, de 1961.
José Tolentino Mendonça lembra que começou muito novo a ler Herberto, e que nessa leitura esteve presente um facto biográfico, "o de também ele ter emergido no contexto insular, na Ilha da Madeira". Isso, continua, "era um vínculo forte para um adolescente que começava também na poesia a procurar razões para a própria vida. E essa descoberta foi a primeira viagem."
Sublinha a insularidade como um traço permanente na poesia de Herberto. Uma insularidade que no seu sentido "está talvez mergulhada a muitas léguas de profundidade do que é essa palavra. Não é uma dimensão muito explícita, mas ler Herberto Helder na Ilha da Madeira tem uma ressonância e uma vitalidade que não se esquece", refere sublinhando um aspecto que considera marcante. "Quando se ouvia Herberto Helder falar, mesmo muitos anos depois de ter saído da ilha, continuava com a pronúncia de um habitante do Funchal. Era um funchalense claramente identificável. E isso era uma nota afectiva de grande impacto."

in Público

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