quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Cronicando - 10ºAno

Mais crónicas. Desta vez, do 10ºano. É fruto de uma oficina de escrita em turma, realizada na sequência da análise de uma crónica de Rui Moreira.


Portugal ou “Lisbogal”


A rivalidade entre Lisboa e as restantes cidades do país parece ser intemporal. A constante ocorrência de grandes eventos na capital desde sempre incomodou os portugueses e, em especial, os portuenses que viram, a passos largos, transferidos os poderes para a grande metrópole.
De facto, para o desenvolvimento da capital, os vários governos sempre enveredaram todos os seus esforços na criação de infra-estruturas capazes de suportar essa megacidade, enquanto que o resto do país, pateticamente, continua a assistir, impotente, ao crescimento de um “Lisbogal”.
Presenciamos um novo cerco, desta vez não é Lisboa que está sitiada, mas o resto do país, sufocado pelos caprichos centralistas e centralizadores. É preciso estar atento aos desequilíbrios, porque os lisboetas, pobres “coitados”, são os mais beneficiados. A polémica construção do novo aeroporto na Ota, aliás, em Alcochete, perdão, na Portela + 1, parece ter, afinal, lugar em “Alcochete Jamé” (ainda não se sabe exactamente onde vai ser, apenas se sabe que é para servir Lisboa). A construção de uma sofisticada linha de TGV, que irá servir uma escassa minoria de lisboetas, peço desculpa, portugueses, não faz esquecer o facto de que o governo vai esbanjar milhões de euros, que não deveria dar-se ao luxo de despender.
Se pararmos para reflectir, constatamos que o maior interesse dos dirigentes do país é divulgar, desenvolver e assemelhar Lisboa às outras capitais europeias, esquecendo o resto de Portugal: os montes do Alentejo, as praias do Algarve, as encostas do Douro, berço do famoso vinho do Porto que, um dia destes, por uma iluminada decisão governamental, passará a ter a denominação de “Vinho de Lisboa”.
O contraste entre a megacidade e o resto da “paisagem” não é apenas evidente na diferença das inovações e da qualidade das infra-estruturas. Ele gera, por si só, situações de desequilíbrio, marcadamente perigoso, ao instalar a pobreza, a criminalidade e a discriminação em zonas sobrepovoadas que funcionam como verdadeiros “guetos” sociais.Será que um país que outrora foi um grande império deseja, agora, caminhar para a criação de uma metrópole isolada – “Lisbogal”? Pelo andar da carruagem, qualquer dia estaremos todos fechados em Lisboa (ela também encerrada na sua torre de marfim), onde se acorda quando o governo se levanta e irradia a sua luz, que apenas dá segurança aos sorrisos arrogantes, remetendo o resto do país para o abandono e esquecimento.
10º A
Mãe, posso ser lisboeta? Não é por mim, é por ELA...


Habitualmente, tudo o que escorre é de cima para baixo e o dinheiro não constitui excepção. Escorrega sempre de norte para sul. E quem faz referência ao dinheiro não pode excluir outros factores que são indispensáveis ao desenvolvimento e crescimento de uma cidade como Lisboa.
Vejamos, a título de exemplo, o que acontece com a oferta de actividades culturais. Tudo converge à capital. Até os cavalos parecem preferi-la: “Cavália” tem estadia única em Lisboa, no Passeio Marítimo de Algés. “Pobres” lisboetas, tão martirizados pelo fascínio da centralização! Todos os caminhos vão dar a Lisboa, mas apenas um passa pelo Porto. E quem do Porto quiser apreciar estas acrobacias cavalares (ou outras) sempre poderá utilizar o mediático TGV… Nem que tenha que o ir apanhar a Madrid.
Lisboa abraça o dia com um sorriso de superioridade. Lisboa basta-se com banquetes e regala-se em festas sumptuosas. Lisboa vibra numa montanha russa de oportunidades e emoções sociais. Lisboa passeia-se narcisistamente.
O Porto refugia-se na sombra da insignificância, face a tamanho espelho nacional. O Porto recolhe as migalhas e tenta manter-se com o pouco que lhe é dado. O Porto continua ocupado na manutenção dos “carris” que asseguram a adrenalina.
Afinal, o que existe assim de tão único na capital para além de ela ser isso mesmo, a capital?! Exceptuando os pastéis de Belém e os fados do Bairro Alto, que mais tem Lisboa que outra cidade do país não a possa igualar? Não será também o vinho do Porto uma iguaria nacional?! Se casássemos o “pastelinho” com o cálice de vinho do Porto… não refinaríamos o nosso paladar? Porém, insistimos em privilegiar alguns sabores em detrimento de outros.
Lisboa continua a pugnar pelo estatuto de metrópole. O “Gil” ficou-se por Lisboa, o CCB impôs a sua volumetria e o aeroporto já lá fez a sua reserva. Não estará para breve a estreia de um novo bilhete de identidade nacional? Um bilhete de identidade que descrimine o resto do país, reafirmando a importância da “República Lisboeta”? Não estaremos nós, com estas permanentes clivagens e descriminações, a criar uma nova geração que, dentro em breve, exija o carimbo de cidadão lisboeta?
Não levará muito tempo até que as crianças questionem: Mãe, posso ser lisboeta?
10º D/E

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