terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Pessoa(s) - 12ºAno

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Ainda Fernando Pessoa (Oficina de Escrita: Pessoa visto pelos alunos)
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Um homem enchapelado e de vestes negras senta-se à secretária de cigarro na mão. Na sua face lê-se uma expressão algo enigmática, e na folha que repousa sobre a mesa adivinha-se um poema. O bigode curto e negro e os óculos de míope inveterado não deixam dúvidas: é Fernando Pessoa. Deixou-nos Almada Negreiros esta imagem de um homem que, ou pelo interesse pela literatura, ou pela força de frequentes encontros casuais com a sua figura e com o seu nome, a todos nos é familiar. De facto, Fernando Pessoa é um nome que desde logo se impõe como sendo pertencente a uma personalidade lapidarmente impressa na literatura e espírito nacionais. Conquanto não tenha conhecido qualquer projecção em vida, tendo sido recebido com desprezo pela maioria do público, Pessoa enfileira hoje, de forma incontestável, entre os maiores poetas de todos os tempos.
Aquilo que sei sobre ele deriva, pois, de uma espécie de consciência nacional, a mesma que me leva a reconhecer a Torre dos Clérigos ou o Mosteiro dos Jerónimos como parte integrante de um património profundamente português. Sei-o múltiplo, ecléctico, paradoxal, anglómano e predicante de ideais de teor patriótico, sebastianista e regenerador. Invejo-lhe a imaginação, e a capacidade de continuamente recriar os mundos quiméricos de que se fazia rodear. Encontro nele uma nova forma de conceber a literatura como linguagem e uma relação desconcertante entre autor e obra, que tanto se aparta da tradicional. Muitos são aqueles que nos seus poemas e romances dão vida a personagens fictícias, delineando-lhes a biografia e a personalidade, mas ninguém como Pessoa se apodera dos caracteres físicos e psíquicos das suas criações, fazendo-os seus. Campos, Caeiro e Reis são personagens que poderiam figurar num qualquer romance, mas a quem Pessoa empresta o corpo e a pena. É sublime poder testemunhar as permanentes metamorfoses a que se submete, é verdadeira poesia!
Seria maluco? Ouve-se por aí dizer que o era, mas quem o não é? “De poeta e louco, todos temos um pouco”: assim postula a sabedoria popular, a mesma a quem tantas vezes ouvimos dizer “Primeiro estranha-se, depois entranha-se!” ou ainda “Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena!”.


Inês Homem de Melo Marques
12B

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