quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Estrelas em papel - 7ºAno

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fotografia retirada do sítio http://www.olhares.com/
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Mais um texto sobre A Estrela de Vergílio Ferreira:


7b


No cimo de uma montanha encontrava-se uma igreja, no cimo da igreja, uma torre, e, no cimo da torre, um galo de ferro que, apesar de não sair do sítio, se movia e vigiava o vale ao sabor do vento. As casas pequenas e brancas que as famílias habitavam estavam dispersas na parte superior do monte. A parte inferior era revestida por longas tiras de vinhas. Uma rua rasgava a montanha, desde a porta da igreja à aldeia mais próxima que ficava, aproximadamente, a onze quilómetros dali.
Já tinha passado, aproximadamente, um ano desde a morte de Pedro, um ano de tristeza entre as pessoas. As suas faces estavam pálidas e frias. As colheitas tinham sido fracas, os animais só emagreciam, as galinhas não punham ovos e o sol só se vira duas ou três vezes. A montanha estava cinzenta como o Inverno, apesar de estarem no Verão. Era estranho como é que a falta de um simples rapaz influenciara tanto a vida quotidiana dos habitantes.
Certo dia, a mãe de Pedro olhou para o céu e viu a estrela que se realçava no imenso escuro, por ser tão brilhante e bonita. Não costumava olhá-la, estava sempre ocupada a trabalhar ou a queixar-se do trabalho. A certa altura, estranhou o aumento gradual da intensidade do brilho da estrela que, realmente, não era normal. Chegou a um ponto que quase a cegara. Da luz, surgiu uma silhueta estranha. Era difícil identificá-la com os olhos semi-cerrados pelo brilho. Acordou num sobressalto e berrou:
- Pedro! Ele estava ali! O brilho! Eu vi. Eu sei que o vi. O nosso filho…
O pai, acordado pelo barulho, perguntou, obviamente, o que é que se passara. Ela, ainda confusa, continuou a dizer que vira o seu filho. Passados alguns segundos, apercebeu-se que fora só um sonho e encostou, muito triste, a cabeça de novo na almofada, mas não adormeceu.
No dia seguinte, a mãe caminhava calmamente pela aldeia. As olheiras destacavam-se no rosto pálido do frio e da tristeza. As pessoas cumprimentavam-na, mas ela não respondia; não por má educação, talvez por estar com sono ou ainda a pensar no sonho da noite anterior.
Na semana a seguir, foi verificar o lume, para não pegar fogo, como na noite em que descobrira quem havia raptado a estrela. Também como nessa noite, viu uma luz vinda por debaixo do quarto de Pedro. Ainda não o tinham arrumado, diziam que não tinham tempo. Na verdade, o que não tinham era coragem para entrar lá outra vez. Contudo, a casa podia a estar a ser assaltada. Então esqueceu o medo e entrou no quarto com um bastão na mão. Foi a maior surpresa do mês, e já tinha tido muitas, quando viu o seu filho a segurar a estrela. Era uma autêntica repetição do passado. A luz saía das mãos do menino que se sentava em cima da sua cama com os lençóis do Pato Donald. De Pedro, só ouviu uma palavra: “Esquece.”. No mesmo momento que sorria para a mãe, desapareceu. Agora, esta não chamou a atenção de ninguém. Quer essa cena tivesse acontecido ou não, ela retirou daí uma mensagem.
Desde então, nunca mais chorou outra vez por Pedro. Na manhã seguinte, as flores desabrocharam, as árvores deram frutos, as vinhas deram uvas e as nuvens afastaram-se, para deixar o sol brilhar, tudo num período de tempo muito curto.

Duarte Magano

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