domingo, 24 de janeiro de 2010

Poetas e Poéticas I

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Numa tentativa de alargar os horizontes do blogue e das suas áreas de interesse, convidei o professor José Rui Teixeira (à semelhança do que já acontecera com o professor Joaquim Santos Silva) para assinar um novo separador, dedicado à poesia. Assim, todos os meses, haverá uma sugestão de leitura poética, juntamente com a biografia e imagem do respectivo poeta. A primeira sugestão é, como não poderia deixar de ser, Guilherme de Faria...
Deixo as palavras do Dr. José Rui Teixeira:
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Guilherme de Faria nasceu no dia 6 de Outubro de 1907, em Guimarães. Em 1919 mudou-se, com a família, para Lisboa. Suicidou-se na Boca do Inferno [Cascais], com apenas 21 anos, no dia 4 de Janeiro de 1929.Publicou sete livros de poesia: Poemas e Mais Poemas [1922], Sombra [1924], Saudade Minha [1926], Destino e Manhã de Nevoeiro [1927] e, editado postumamente, Desencanto [1929]; também póstuma, mas organizada de acordo com as suas indicações, foi a edição da antologia Saudade Minha [1929], reeditada em 2007. Publicou ainda Oração a Santo António de Lisboa [1926] e organizou uma Antologia de Poesias Religiosas [que só seria publicada em 1947].Guilherme de Faria foi poeta e editor, correspondeu-se e relacionou-se com os mais importantes poetas e artistas portugueses da década de 20 do século passado. A sua poesia compreende-se no contexto do Neo-Romantismo Saudosista e do Saudosismo Integralista, e habita o âmago da tradição lírica portuguesa. Poeta de um passadismo nocturno, elegíaco e doce que só se realiza em diálogo com a morte redentora, Guilherme de Faria acabou por ser esquecido, devido à sua morte tão prematura, às especificidades quase anacrónicas da sua poesia e à proximidade ideológica ao Integralismo Lusitano.No centenário do seu nascimento, a descoberta de manuscritos autógrafos, correspondência, fotografias e livros da sua biblioteca pessoal, torna possível reconstituir o seu contexto vital, redescobrir a sua vida e obra e restitui-las à História da Literatura Portuguesa.
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Fim
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Alma, enfim descansa
Na desesperança.
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Alma, esquece e passa:

Dorme, enfim segura
Dessa última graça
Que é toda a ventura.
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E à Saudade em flor

Que o teu sonho lindo
Perfumou de amor,
Diz-lhe adeus, sorrindo…
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Que Ela há-de escutar-te,
Pálida, a entender-te!
E, no espanto enorme,
Sonhando envolver-te,
Triste, há-de embalar-te
– «Dorme… dorme… dorme…»
–Como a adormecer-te.
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Manhã de Nevoeiro, 1927, pp. 35-36.

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