segunda-feira, 3 de maio de 2010

8ºAno - O Diário do Gato Malhado


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23 de Janeiro de 1920

Faz agora 48 horas que deixei o parque, em direcção do Fim do Mundo. Ah! O parque! Terra tão bonita em que costumava viver. Todos os dias o sol nascia no horizonte. Laranja, o preguiçoso, acordava os seres mais madrugadores do parque, como os galos, as galinhas, as borboletas, os insectos e a maioria dos pássaros. Quatro horas mais tarde, o sol erguia-se já no céu, forte e radioso, despertando os cães, os patos, as vacas, as ovelhas, e todos os outros animais. Por fim, ao meio-dia, atingia o ponto mais alto do céu, acima das nuvens e da lua. Na sua máxima glória, iluminava todos os pequenos e discretos recantos do parque. Nessa altura, acordava eu. Espreguiçava-me durante mais de uma longa hora e depois levantava-me. Podia apreciar toda a beleza florida do jardim. As flores, espalhadas por longos campos, jogavam jogos de cores durante todo o dia. Lírios, rosas, margaridas e tulipas brincavam umas com as outras, atirando pétalas e pólen pelo ar. As árvores, vestidas com volumosos trajes de folhas, albergavam a mais diversa quantidade de seres curiosos. No lago nadavam os patos e milhares de peixes coloridos e saborosos. No céu pairavam todo o tipo de aves, desde das majestosas águias a pequenos passaritos, como andorinhas. Andorinhas leves e graciosas que enchiam o céu de alegria. Andorinhas como a minha querida Sinhá, que traiu o meu coração fingindo que me amava. No dia do seu casamento, provou decisivamente que não queria saber de mim, condenando-me a caminhar para o mais longínquo lugar do planeta, pois eu não suportaria vê-la mais tempo ao lado daquele Rouxinol.
Hoje cheguei a esta terra inóspita e deserta. Não se avista nada em redor, para além de monótonas poeiras de terra negra. Não há vegetação a cobrir o solo. Não há água a para humidificar a terra. Não há sol para iluminar o dia. Não há sequer a mínima manifestação de vida, para além de mim e da maldita cascavel que passa a vida debaixo do chão. No entanto, prefiro passar o resto dos meus dias a apodrecer neste inferno, do que observar Sinhá a levar uma vida feliz, sem mim.
Gato Malhado

(Duarte Magano, 8B)
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5 de Maio de 1920

Querido Diário,

Hoje o meu dia começou com uma ida ao lago para refrescar os bigodes e um passeio matinal pelo parque e depois deitei-me ao sol para aquecer e, quando dei por mim, estava a pensar na Andorinha Sinhá. Não me saía da mente o seu riso contagioso, o seu espírito jovem e inocente, o seu olhar atrevido, o seu pairar no ar tão suave como uma pena a esvoaçar ao sabor do vento. O espírito da Andorinha atrai-me. Sinceramente, não sei o que me deu para ver um ser tão perfeito como um diamante cristalino. Talvez esteja a ficar doente. Bem! Não há-de ser nada, mas o que é certo é que a Andorinha está a alimentar a minha felicidade, por isso deve estar a curar-me, qualquer que seja a minha doença, acho eu …
Não consegui contentar-me com o meu pensamento, tive de ir vê-la com olhos reais. Quando cheguei lá, a minha felicidade ficou satisfeita. Ela chamou-me de feio, mas cá para nós, acho que era inveja da minha beleza felina.
E aqui estou eu a olhar para as estrelas e para o luar, a ver no horizonte o rosto elegante da Andorinha Sinhá. Céus! Devo estar mesmo a ficar doente… tudo o que faço faz-me lembrar a Andorinha. Acho que amanhã vou consultar a Coruja.
Obrigado por seres o meu eterno e fiel ouvinte. Adeus e até amanhã.
Gato Malhado
(Inês Pinto, 8B)
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3 de Agosto de 1920

Querido diário,

Mais uma vez, venho desabafar nas tuas páginas, as boas e más vivências, pelas quais a minha vida é constituída.
Estava um dia lindo. O sol, bem lá no alto, aquecia e iluminava todas as pequenas e engraçadas criaturas que, infelizmente, à minha passagem, se escondiam na sombra e na penumbra dos grandes e imponentes carvalhos.
Mais uma vez me encontrei com a esguia e bonita Sinhá. Finalmente, pela primeira vez na vida, não me sinto triste e excluído por quem me rodeia e sinto que alguém gosta de mim.
Hoje, ia eu a dar um pequeno passeio pela floresta após o delicioso e recheado almoço, e reparei ao longe, no Rouxinol, que estava acompanhado pela minha querida Andorinha Sinhá. O quanto me irrita o Rouxinol! Esse pequeno animal, que só dá nas vistas, com as suas grandes cantorias… Odeio-o tanto, que por vezes, só tenho vontade de o entregar de bandej, à inimiga de longa data, Cobra Cascavel, que, com grande audácia e bravura da minha parte, expulsei.
Cheguei-me à beira deles. Imediatamente, o medroso do Rouxinol, pôs-se a longas milhas dali, e eu fiquei a sós com a minha adorada.
Envolvemo-nos numa pequena discussão, que, como sempre, acabou em risos e abraços.
Em conversas infindáveis, sobre todo o tipo de matérias, o tempo foi passando rapidamente, e enquanto acompanhava a andorinha a casa, apareceram os pais desta, que entre sermões e ralhetes, a levaram para longe de mim. E assim fiquei eu, sozinho, enquanto os via a desaparecer pelo meio da floresta.
Este pode não ter sido um dos meus melhores dias, mas qualquer dia passado com a Andorinha Sinhá é bom.
Gato Malhado
(Tiago Simões, 8B)
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15 de Junho de 1920

Querido Diário,

Hoje passei o melhor dia da minha vida com a minha bela, jovem e adorável Andorinha Sinhá.
De manhã, ao acordar, espreguicei-me e vi o sol num tom alaranjado que irradiava luz e pureza naquele dia maravilhoso. Posteriormente fui lavar-me ao lago dos cisnes. Depois de lavar as minhas patas e o meu focinho, penteei o meu pêlo para a minha amada me ver bem arranjado….
Após me ter aprontado, deparei-me com a passagem do casal de patos, sempre bem organizados com a Pata Branca e o Pato Negro à frente do bando, seguidos pelos seus filhotes.
Cumprimentei – os, mas eles desataram a fugir de mim. Com certeza não foi pela minha magnífica beleza, um gato tão elegante e bonito como eu!...
Só a minha Andorinha me compreende. Estas estranhas criaturas do parque não sabem quem eu sou. Dizem por aí que só sirvo para afastar a cobra Cascavel do parque.
Vou-me deixar de lamentações e vou passar à acção.
Sentia – me só e por isso fui procurar a Andorinha. Encontrei-a a sair da aula de canto com o Rouxinol, o que não me deixou muito contente. Fiz – lhe o nosso sinal – um miar esganiçado que mais parecia um uivo, e ela percebeu logo que eu estava por perto.
O Rouxinol levantou as asas e voou de medo.
Eu saí do meu esconderijo e cumprimentei-a.
Ela sugeriu que fôssemos dar um passeio pelo parque e eu concordei.
Fomos até ao famoso lago dos patos com vários nenúfares, rodeado por tufos de erva alta e que, por acaso, àquela hora não tinha nenhum pato.
A Andorinha, como sempre, acompanhava – me uns 3 ou 4 metros acima da minha cabeça, pois apesar de ela saber que eu a amava, ainda não confiava totalmente em mim.
Deitei-me ao sol, enquanto ela pousou num ramo de um sobreiro.
Conversámos durante a tarde inteira sobre as nossas diferenças, os nossos gostos, o nosso amor impossível, os habitantes do parque, o que os pais da Andorinha achavam de mim. Enfim, um pouco de tudo.
Quando, ao cair da noite, chegou a hora da despedida, chegou também a hora do momento mais feliz da minha vida.
Ela desceu a voar e tocou-me ao de leve com a sua asa esquerda e eu pude ouvir os batimentos do seu pequeno e puro coração. Depois, ela ganhou altura e lá no alto ainda me vislumbrou de relance.
Acho que aquele gesto é como se fosse um beijo.
Acho que ela gosta de mim!
Agora vou dormir para amanhã voltar a conversar com a Andorinha.
Boa noite, diário.
Gato Malhado
(João Pedro Silveira, 8B)
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Textos enviados pela Drª Ascenção Rocha

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