segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Ler e (re)criar

  Mais um trabalho de (re)criação literária, desta vez de uma aluna do 10ºano, na sequência do segundo contrato de leitura, dedicado aos textos memorialistas, diarísticos, epistolares e biográficos.

 Os documentos apresentados testemunham e ilustram a leitura intertextual do livro de Lobo Antunes "D’este viver aqui neste papel descripto" – Cartas da Guerra  e o seu cruzamento com o espólio familiar da aluna Ana Lídia Neves, através de cartas, memórias e fotografias. A prova de que os livros ganham vida dentro de nós...

  Aqui ficam as suas próprias palavras:

   No âmbito do segundo “Contrato de Leitura”, foi-nos sugerida a leitura de livros com registos diarísticos e memorialísticos. Assim sendo, a minha escolha incidiu sobre o livro de António Lobo Antunes, D’este viver aqui neste papel descripto – Cartas da Guerra.

   Ao longo da leitura, fui descobrindo que esta obra tinha muitos pontos em comum com a minha família. Tal como o meu avô Álvaro, António esteve em Angola, na Guerra Colonial. Ambos deixaram em Portugal as suas amadas e a escrita funcionava como elo de ligação, que era feita através de cartas, postais e aerogramas. A leitura destas cartas mostra-nos o estilo de linguagem utilizada nesta época e a forma como um namorado/um marido se dirigia ou se despedia da sua namorada ou da sua noiva.  Nos documentos apresentados, podemos verificar as semelhanças entre a forma como era feita a comunicação nos anos 60 e 70. A distância e a   ausência de tecnologias não permitiam outra forma de contacto.


 *


17-12-1961
Minha querida noiva,



Ofereço-te este cartão de Boas Festas como prova e testemunho dos meus votos a Deus para que tenhas um Natal Feliz e um Ano Novo Próspero.



Minha querida assino com toda a consideração e estima.



Com um aperto de mão.
O teu noivo,



Álvaro dos Santos Ferreira



                       
*

                  22-12-1971



Meu Amor,



Acabo de receber o melhor presente de Natal que poderia desejar: o Batalhão vai para Malange, mas os médicos ficam. A crueldade a injustiça disto são de tal modo horríveis, que não vale a pena acrescentar mais nada.



A propósito do Natal, minha Paulinha Boghese, o João e a Lídia, ou inversamente, mandaram-me um cartão de Boas Festas.



Desculpa-me, mas nem consigo escrever. Perdoa-me.



Muitos beijos do teu marido que te adora.



António

Ana Lídia, 10A
Enviado por Auxília Ramos




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