domingo, 5 de fevereiro de 2012

Ler e (re)criar

Mais um trabalho de recriação literária, no âmbito da motivação para o estudo do texto poético. Os alunos, tomando contacto com a primeira manifestação literária do lirismo português, escolheram uma cantiga de amigo e imaginaram, a partir dela, uma página de diário ou uma carta, dada a natureza biográfica e intimista das cantigas de amigo galego portuguesas.

  1.
Pois nossas madres van a San Simon
de Val de Prados candeas queimar,
nós, as meninhas, punhemos de andar
con nossas madres, e elas enton
queimen candeas por nós e por si
e nós, meninhas, bailaremos i.

Nossos amigos todos lá irán
por nos veer, e andaremos nós
bailando ante eles, fremosas en cós,
e nossas madres, pois que alá van,
queimen candeas por nós e por si
e nós, meninhas, bailaremos i.

Nossos amigos irán por cousir
como bailamos, e podem veer
bailar moças de bon parecer,
e nossas madres pois lá queren ir,
queimen candeas por nós e por si
e nós, meninhas, bailaremos i.

Pêro de Viviaez, CV 336, CBN 698

 
Portus Cale, 1 de fevereiro de 1342

Querida prima Josefa,

Antes de mais, queria pedir-te perdão pelo incumprimento da minha promessa. Assim que te mudaste para Barcara Augusta, jurámos manter contacto, porém, só agora te escrevo esta carta para te contar todas as novidades e reatar a nossa relação. Tenho estado muito ocupada a tratar das nossas terras e a fazer os vestidos para a Rainha, pelo que não tenho tido oportunidade para te escrever.

Como sabes, no domingo passado, festejou-se o São Simão de Val de Prados, uma romaria muito conhecida por ser um importante ponto de peregrinação. Eu e as minhas amigas fomos à festa, acompanhadas das nossas mães, já que é impensável ir a qualquer lado que seja sem a supervisão da mãe. No entanto, as nossas intenções eram bem distintas. Enquanto as mães pretendiam rezar e cumprir as promessas que haviam feito, acendendo velas aos santos, eu e as minhas amigas tínhamos uma outra intenção, encontrar os rapazes.

Como também sabes, ainda estou solteira e este facto atormenta-me um pouco. Bem, mas, se refletirmos um pouco, posso afirmar que na teoria estou solteira, mas na prática não...

Não estava com grande ânimo para ir à romaria, uma vez que tenho tido muito trabalho e tenho andado estafada. No entanto, o facto de pensar que iria encontrar aquela pessoa que me acelera o coração, restabeleceu-me, de imediato, as forças. Dançar diante dele para me exibir não é coisa que se faça, eu sei bem, mas as minhas amigas incentivaram-me a fazê-lo. Será que fiz mal em dar um passo em frente?

Fico a aguardar uma resposta e espero que também me contes novidades.

Despeço-me com muito respeito e carinho,
Carlota Esteves

Ana Lídia, 10A


2.



Ai madre, ben vos digo,
mentiu-mi o meu amigo,

sanhuda lh’ and’ eu.

,


Do que mh ouve jurado

pois mentiu per seu grado,

sanhuda lh’ and’ eu.
,


Non foi u ir avia,

mais ben des aquel dia

sanhuda lh’ and eu.

,


Non é de mi partido,

mais, por que mi há mentido,

sanhuda lh’ and’ eu.

PERO GARCIA BURGALÊS


Mãe,



Nem acreditará! Sabe o meu amigo? Aquele que iluminou os meus dias mais sombrios, que foi o meu oásis no deserto da solidão? Sim, é esse mesmo em que está a pensar. Ele mentiu-me!

Ando furiosa com o mundo, comigo e com Deus! Jurou-me ser honesto e, agora, traiu a minha confiança! Odeio este sentimento de indignação. Odeio sentir-me não merecedora da sua verdade. Sabe, não me irrita o facto de ter partido, irrita-me, sim, ter mentido sobre para onde ia.

Já não sei nada dele desde aquele dia. Ando preocupada, mas, sempre que me recordo dele, a raiva reaparece.

Preciso de si e das suas palavras tranquilizadoras para a minha alma. Responda-me o quanto antes, por favor.


Da sua querida filha,

Bianca



Enviado por Auxília Ramos


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