quarta-feira, 1 de maio de 2013

Comenius "urbanscape" em Paris - um testemunho


Deixamos o testemunho do João Ramalhão, da turma 12º B, após a sua visita a Paris, no âmbito do projeto Comenius “Urbanscape”, em outubro de 2012.

 

 

Paris 2012 14 outubro – 20 outubro

Sempre me disseram que é pelo início que se começa. Assim o farei. Início esse que teve por localização temporal um final de manhã de Julho, em que o meu telefone tocou mostrando um número desconhecido. Atendi, no meu quarto. Um convite para passar uma semana em Paris. Aceitei. Os meus pais aceitaram. Feliz pela oportunidade, até ao último domingo compensei os momentos maus com o pensamento de que tinha uma semana garantida (então) numa das melhores cidades deste planeta.

Partimos a 14 de outubro, o sol ainda dormia enquanto levemente entrávamos no avião. A minha irmã mais pequena tinha feito anos no dia anterior. Mala cheia de espaço, para mais vivências, mais amigos que não tinha pressa de fazer.

Paris! Pousámos por entre nuvens de incerteza, sem saber para onde íamos nem quem iríamos encontrar. Leclercq, pai e filho, no aeroporto, a sorrir, prontos para nos levar. Acolhidos no luxo da classe média-alta parisiense, recebemos uma família. Recebi duas irmãs, um grande irmão, um pai tenista e uma mãe com quem partilhei projetos de vida. Aos poucos, fomos percebendo o terreno que pisávamos, cada vez mais sólido. Muito bem recebidos, ouvidos e respeitados, fomos decorando vozes e sorrisos de culturas pouco experienciadas. Deram-nos alimentos para vivermos com eles e alimento para conseguir sobreviver.

Dos subúrbios ao centro. Primeiro dia. Há menos de 15 horas em Paris, saímos do metro no centro da cidade. Noite escura, iluminada pela agitação de 10 milhões de pessoas. Caminhámos na rua, em frente. Edifícios erguem-se incansavelmente acima de nós. Silêncio. E depois euforia, controlada, romântica, repentina. Cabeças rodam, corpos rodam, olhares centram-se num só ponto. Ao longe lá está ela. Ornamentada pelas luzes da sua estrutura, a sua silhueta brilha até ao meu olhar. Arrepio-me. Respiro. Fecho os olhos. Abro. Continua lá. Não é um sonho. Está ali, cada pedaço de metal diante dos meus olhos. A mais bela torre do mundo a pintar a minha vida com emoções impercetíveis a quem não está no cenário. Maravilham-se os olhos, explode a alma de alegria na expectativa de uma semana cujo mote é a Torre Eiffel.

Foram passando as horas, poucas a dormir, um grande cansaço acumulado. Cruzam-se as culturas, pouco a pouco, aprendemos palavras, ensinamos outras, às vezes mentindo quanto à sua verdadeira definição, o que mais tarde levou a gargalhadas atrapalhadas por um braço turco à volta do meu pescoço.

Vamos encontrando portugueses, na escola ou no café, toda a gente a querer o melhor para nós e nós a querer partilhar a nossa experiência. Noites de euforia, convívio, partilha e felicidade das quais ninguém ficava à margem.

Trabalhámos num projeto educativo, mas sobretudo trabalhámos o projeto que somos nós como pessoas, fazendo-nos perceber que o mundo é mais do que nós e que é um lugar onde as pessoas são boas, em detrimento daquilo que nos querem fazer entender.

Ter o privilégio de pisar as ruas de Paris é uma sensação sem preço. As ruas são ladeadas por edifícios imponentes, com uma arquitetura clássica que nos reduz a pequenos grãos numa cidade tão grandiosa. Visitámos museus, parques, monumentos, lojas (algumas que são autênticos monumentos). Nunca sós, sempre acompanhados de boa disposição de quem decidiu mudar a sua vida por uma semana.

Navegámos pelo Sena, envoltos na magia de uma tarde cuja chuva limpa qualquer mau sentimento existente. Partilhamos tradições, comida, pontos de vista, sorrisos e experiências. A minha família sempre atenta e preocupada prepara tudo para que o meu dia seja genial e está sempre disposta a ajudar a resolver qualquer problema.

De Versailles à Ópera, até ao ringue de patinagem e às paragens de metro, todos esses locais têm algo de meu, de nosso. Foi neles que durante uma semana percebi que não importa a cor do cabelo, a religião, as tradições, somos todos humanos, todos sentimos, todos queremos sentir e ter alguém com quem o fazer. E às 23h15 da noite do dia 19 de outubro, algures em França, havia uma pista de patinagem a ferver de emoções, com despedidas emotivas, todos igualmente carentes e igualmente calorosos. Alguns choravam por fora, mas todos o faziam por dentro.

Fomos a Paris apresentar um projeto: fizemo-lo.  Mas voltámos com mais do que isso. Voltámos com vontade de voltar a uma semana, em que, mais do que respeito mútuo, havia amor, amor esse que ultrapassou qualquer barreira étnica.

João Ramalhão, 12º B

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