Deixamos o testemunho do
João Ramalhão, da turma 12º B, após a sua visita a Paris, no âmbito do projeto
Comenius “Urbanscape”, em outubro de 2012.
Paris
2012 14 outubro – 20 outubro
Sempre me
disseram que é pelo início que se começa. Assim o farei. Início esse que teve
por localização temporal um final de manhã de Julho, em que o meu telefone
tocou mostrando um número desconhecido. Atendi, no meu quarto. Um convite para
passar uma semana em Paris. Aceitei. Os meus pais aceitaram. Feliz pela oportunidade,
até ao último domingo compensei os momentos maus com o pensamento de que tinha
uma semana garantida (então) numa das melhores cidades deste planeta.
Partimos a 14 de
outubro, o sol ainda dormia enquanto levemente entrávamos no avião. A minha
irmã mais pequena tinha feito anos no dia anterior. Mala cheia de espaço, para
mais vivências, mais amigos que não tinha pressa de fazer.
Paris! Pousámos
por entre nuvens de incerteza, sem saber para onde íamos nem quem iríamos
encontrar. Leclercq, pai e filho, no aeroporto, a sorrir, prontos para nos
levar. Acolhidos no luxo da classe média-alta parisiense, recebemos uma
família. Recebi duas irmãs, um grande irmão, um pai tenista e uma mãe com quem
partilhei projetos de vida. Aos poucos, fomos percebendo o terreno que
pisávamos, cada vez mais sólido. Muito bem recebidos, ouvidos e respeitados,
fomos decorando vozes e sorrisos de culturas pouco experienciadas. Deram-nos
alimentos para vivermos com eles e alimento para conseguir sobreviver.
Dos subúrbios ao
centro. Primeiro dia. Há menos de 15 horas em Paris, saímos do metro no centro
da cidade. Noite escura, iluminada pela agitação de 10 milhões de pessoas.
Caminhámos na rua, em frente. Edifícios erguem-se incansavelmente acima de nós.
Silêncio. E depois euforia, controlada, romântica, repentina. Cabeças rodam,
corpos rodam, olhares centram-se num só ponto. Ao longe lá está ela.
Ornamentada pelas luzes da sua estrutura, a sua silhueta brilha até ao meu
olhar. Arrepio-me. Respiro. Fecho os olhos. Abro. Continua lá. Não é um sonho.
Está ali, cada pedaço de metal diante dos meus olhos. A mais bela torre do
mundo a pintar a minha vida com emoções impercetíveis a quem não está no
cenário. Maravilham-se os olhos, explode a alma de alegria na expectativa de
uma semana cujo mote é a Torre Eiffel.
Foram passando
as horas, poucas a dormir, um grande cansaço acumulado. Cruzam-se as culturas,
pouco a pouco, aprendemos palavras, ensinamos outras, às vezes mentindo quanto
à sua verdadeira definição, o que mais tarde levou a gargalhadas atrapalhadas
por um braço turco à volta do meu pescoço.
Vamos
encontrando portugueses, na escola ou no café, toda a gente a querer o melhor
para nós e nós a querer partilhar a nossa experiência. Noites de euforia,
convívio, partilha e felicidade das quais ninguém ficava à margem.
Trabalhámos num
projeto educativo, mas sobretudo trabalhámos o projeto que somos nós como
pessoas, fazendo-nos perceber que o mundo é mais do que nós e que é um lugar
onde as pessoas são boas, em detrimento daquilo que nos querem fazer entender.
Ter o privilégio
de pisar as ruas de Paris é uma sensação sem preço. As ruas são ladeadas por
edifícios imponentes, com uma arquitetura clássica que nos reduz a pequenos
grãos numa cidade tão grandiosa. Visitámos museus, parques, monumentos, lojas
(algumas que são autênticos monumentos). Nunca sós, sempre acompanhados de boa
disposição de quem decidiu mudar a sua vida por uma semana.
Navegámos pelo
Sena, envoltos na magia de uma tarde cuja chuva limpa qualquer mau sentimento
existente. Partilhamos tradições, comida, pontos de vista, sorrisos e
experiências. A minha família sempre atenta e preocupada prepara tudo para que
o meu dia seja genial e está sempre disposta a ajudar a resolver qualquer
problema.
De Versailles à
Ópera, até ao ringue de patinagem e às paragens de metro, todos esses locais
têm algo de meu, de nosso. Foi neles que durante uma semana percebi que não
importa a cor do cabelo, a religião, as tradições, somos todos humanos, todos
sentimos, todos queremos sentir e ter alguém com quem o fazer. E às 23h15 da
noite do dia 19 de outubro, algures em França, havia uma pista de patinagem a
ferver de emoções, com despedidas emotivas, todos igualmente carentes e
igualmente calorosos. Alguns choravam por fora, mas todos o faziam por dentro.
Fomos a Paris
apresentar um projeto: fizemo-lo. Mas
voltámos com mais do que isso. Voltámos com vontade de voltar a uma semana, em
que, mais do que respeito mútuo, havia amor, amor esse que ultrapassou qualquer
barreira étnica.
João Ramalhão,
12º B
Sem comentários:
Enviar um comentário