domingo, 4 de outubro de 2009

O prazer de ler...

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Imagem retirada de: www.olhares.com
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Seguem-se os textos que os alunos de 11ºAno produziram na primeira semana de aulas, a partir do excerto do romance de Sepúlveda, O vellho que lia romances de amor. O objectivo era tentarem evidenciar a surpresa, a emoção, a cumplicidade que a leitura de um livro nos desperta... São vários os testemunhos...
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Uma a uma, quando incrédula terminei a leitura das páginas desta obra, as luzes do livro extinguiram-se na distância e compreendi que já tinha começado a recordar, a esculpir uma recordação na minha memória, sabendo-me afortunada por ter saboreado os seus segredos. Observava aquela Barcelona abandonada, confusa, turbulenta, criminosa, como que obcecada por um amor que não era meu, não correspondido, em que a minha existência era feita de ausências, sem outro nome ou presença que não as de um estranho. Era apenas demasiado tarde para parar, desistir, sabia-o! Barcelona estendia-se nos sonhos de um escritor, num cemitério dos livros esquecidos, através de um labirinto de segredos e fascínios, de cumplicidades e traições. “Cidade dos malditos” foi como lhe ouvi chamar, onde as páginas são mais que memórias, mas simples suspiros, últimos, que se apagam. Foi também num último suspiro que percebi que tudo não passou de um jogo do anjo, de Zafón, tão perfeito, inigualável, “um céu azul cor da sorte e uma brisa limpa com cheiro a mar”.
Tatiana, 11º A
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Sinto-me inquieta. Ao pisar páginas tão delicadas, com palavras tão frágeis, sinto-me realmente inquieta. Como se transportada para um mundo paralelo, ou talvez com a alma mesmo a resvalar para esse mundo. Distante, ao sol, longe da penumbra, desinstalo-me intrinsecamente. Umas palavras ficam, outras desaparecem. As que ficam deixam marcas profundas, porque relembram, ou comparam, ou relativizam... Porque permanecem. E mudam-nos. A minha inquietude justifica-se aqui, com esta inconstância de sentidos que irrompem, ou simplesmente acontecem, que me aprisionam e me tomam como deles. Domam em definito o meu coração, tornando mágica a leitura das suas páginas. Processo divino, onde a luz permanece...
Sara Cardoso, 11ºD

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O papa começou a relatar uma história do seu tempo na guerra. A tentativa de atentado ao comboio falhara e eles tinham sido descobertos. Ao meu lado não havia agora senão uma floresta imersa no mais intenso véu de negrume e uma cabana onde estavam a ser atacados os “assassini”. Não conseguia descolar os olhos das páginas. As palavras corriam, sôfregas, atropelando-se na entrada para a minha mente. Em toda aquela explosão de acontecimentos quase que me perdia, mas a percepção de uma morte trouxe-me de volta. Só agora me tinha apercebido da chuva de “fogo” na qual me encontrava. Sob ataque, iniciei a fuga. Eu era, neste momento, o pequeno di Mona e fugia, meio atrapalhado no meio do escuro, com o meu chefe. Estava a ficar sem fôlego, e parecia que me tinha caído uma bigorna no coração – para trás ficavam os meus amigos, já sem vida. Corria e corria e, então, de repente… Olho à minha volta e vejo a mesa do quintal da minha avó, o limoeiro, a roseira. O meu irmão chamava-me, mesmo junto a mim. Tinha voltado à realidade.
José Nuno Silva, 11ºA

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É fácil ter livros, toda a gente os tem, também é fácil ler livros, toda a gente os lê, o que é difícil é viver o livro. É penetrar nas suas páginas, é fazer de cada palavra, de cada acento, de cada adjectivo o ambiente que nos rodeia. É desconstruir o que conhecemos, nem que seja por uns momentos, para aprender um novo século, para viver o que até aqui apenas tínhamos imaginado. É levar-nos a perder a identidade, é não sabermos ao certo quem é o protagonista e o leitor, é envolvermo-nos de tal forma que os carros passam a carruagens, as estradas ganham terra e poeira, as calças de ganga dão lugar aos vestidos compridos que combinam com os sapatos de salto alto, vermelhos ou pretos, bem brilhantes, que fazem um barulho elegante ao subir a escadaria do teatro, anunciando claramente a chegada de uma Raquel Cohen. É lermos os elogios e recebê-los como nossos, é apoderarmo-nos dos maridos, dos amantes, dos amigos, das profissões, das qualidades e dos defeitos. E tudo nos parece tão familiar, tão assustadoramente normal, que aumenta a ilusão. E mesmo quando a travessia parece difícil, é raro escapar sem uma comparação, sem um único desejo, a mínima inveja, (ou o que lhe quiserem chamar), de um dia ser também uma Maria Monforte, um Carlos da Maia ou um Ega. Um livro tem este efeito sobre nós, só é preciso encontrá-lo.
Teresa Stingl, 11ºA
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Mil e uma imagens me surgiam e mais não fazia do que ler uma e outra e ainda outra página daquele fascinante livro. Miguel Sousa Tavares, num conjunto perfeito de palavras, descreve ao pormenor cada paisagem, cada povo, cada cultura em todas as suas avassaladoras viagens. Tudo para mim era novo: os costumes e tradições, a população proveniente de cada lugar, a própria forma de viver. O entusiasmo de uma recente descoberta parecia resvalar em cada sorriso em mim despertado. Por momentos, confundia-me totalmente com um daqueles habitantes de raça negra, sempre com uma alegria tremenda, uma simplicidade estonteante de quem pesca e caça o seu próprio alimento, se entretém a observar a beleza singular de uma borboleta, ou que esquece o mundo e cerra os olhos à luminosidade, numa artesanal cama de rede. De todas as viagens, havia sempre as que mais me emocionavam, que me davam vontade de permanecer um pouco naquela tão díspar realidade, por vezes até em condições inóspitas, mas onde resplandecia um contentamento único e incomensurável de puramente estar vivo, quer sob um calor infernal característico de zonas desérticas, quer sob a chuva incessante e grossa que nos assombra nas zonas equatoriais.
Joana Nunes, 11A

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No Perfume de Patrick Süskind senti, inexplicavelmente, os cheiros que se libertam dos livros. Senti-me transportada de forma intensa para Paris medieval, onde os cheiros nauseabundos ganharam o poder de se entranhar fortemente nas minhas narinas. Diante de cada palavra, uma nova sensação: flores, peixe, fumo, esgotos, essências, frutos, brisas… De todas elas exalava um perfume único. Mesmo os sentimentos da personagem, que, apesar de incompreendida por todos, era compreendida por mim, como se partilhássemos um segredo, tornaram-se meus. Juntos, atingimos o clímax, com todos os sensores olfactivos em alerta máximo. Mas, também juntos, acabámos por alcançar a exaustão. O fim trágico do meu companheiro, levei-o comigo, com todo o seu poder… até à realidade.
Matilde Horta, 11ºE

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Conheci o medo e o amor nas suas formas originais e encontrei-me presa nos parágrafos que dão vida a esta história. À medida que relia e sondava os olhares profundos e indiscretos, era capaz de sentir o peso das decisões tomadas em defesa da vida, que repetidas vezes oscilava no auge do perigo. Deparei-me com a paixão escondida em almas que não se permitiam amar nem conhecer um sentido único. Ansiei que se juntassem e me escrevessem uma nova história que me voltasse a aprisionar nas páginas do seu amor. Voei e morri com personagens enigmáticas que imaginei reais e que me deixaram saudade quando virei a última página.
Ana Luísa e Ana Rita, 11º D/E
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(Trabalhos enviados por Auxília Ramos)
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