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Quando soube da notícia da morte de Rosa Lobato Faria, tive vontade de resgatar alguns dos seus romances escondidos, em segunda fila, nas estantes os meus livros. E percorri-os, então, num deslizar de páginas, ressuscitando relatos intimistas, em que a casa, a família, o amor, a paixão, a vingança, a morte, a solidão, a memória de vozes, de sabores, de cheiros se cruzam e confundem com a vida real. Relatos em que, indubitavelmente, se pressente uma voz feminina. Deixo-vos alguns ecos:
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“Sento-me abraçada aos joelhos, pousando o queixo no conforto dos jeans e penso na avó Júlia, na sua estranha aparição no meu sonho de véspera. Vi o seu sorriso, ouvi a sua voz, a sua gargalhada, eu que não a conheci. Quererá dizer-me alguma coisa, ajudar-me a encarar com simplicidade a minha nova situação, a aceitar a vida como ela vem?” – in O Sétimo Véu
“Sento-me abraçada aos joelhos, pousando o queixo no conforto dos jeans e penso na avó Júlia, na sua estranha aparição no meu sonho de véspera. Vi o seu sorriso, ouvi a sua voz, a sua gargalhada, eu que não a conheci. Quererá dizer-me alguma coisa, ajudar-me a encarar com simplicidade a minha nova situação, a aceitar a vida como ela vem?” – in O Sétimo Véu
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“Acordámos de manhã com o cantar alvoroçado dos pássaros, pensámos que tínhamos sonhado, mas o salgueiro lá estava com um ramo partido e do chão apanhei uma meia-lua de prata que até hoje nunca mais larguei de usar comigo, tanto que a minha filha nasceu com um sinal em forma de meia-lua no rosto e por isso lhe chamámos Luna de Santa Maria – in Romance de Cordélia
“Acordámos de manhã com o cantar alvoroçado dos pássaros, pensámos que tínhamos sonhado, mas o salgueiro lá estava com um ramo partido e do chão apanhei uma meia-lua de prata que até hoje nunca mais larguei de usar comigo, tanto que a minha filha nasceu com um sinal em forma de meia-lua no rosto e por isso lhe chamámos Luna de Santa Maria – in Romance de Cordélia
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“ Não era raro, nas nossas deslocações na carroça do tio Zebra, a Diamantina pedir-lhe que parasse, atraída por um matiz surpreendente, uma corola impudica, uns estames sedutores. Passava-lhes de leve o dedo, estudava-lhes a forma e o aroma, analisava as folhas e decidia se queria levá-las. Hesitava muitas vezes. Para mim uma flor é uma flor, mas para a Diamantina uma flor era um motivo, uma obra de arte geradora de mais arte e não as colhia indiscriminadamente, respeitava-as demasiado para se permitir uma abordagem leviana.” – in Os Pássaros de Seda
“ Não era raro, nas nossas deslocações na carroça do tio Zebra, a Diamantina pedir-lhe que parasse, atraída por um matiz surpreendente, uma corola impudica, uns estames sedutores. Passava-lhes de leve o dedo, estudava-lhes a forma e o aroma, analisava as folhas e decidia se queria levá-las. Hesitava muitas vezes. Para mim uma flor é uma flor, mas para a Diamantina uma flor era um motivo, uma obra de arte geradora de mais arte e não as colhia indiscriminadamente, respeitava-as demasiado para se permitir uma abordagem leviana.” – in Os Pássaros de Seda
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“Antes de partir voltei-me para um último olhar e, não sei porquê, vieram-me à lembrança dois versos de Eugénio de Andrade, a casa dorme, sonha no vento a delícia súbita de ser mastro, e ocorreu-me que talvez Rio de Anjo, na sua verdade de pedra, livre das fraquezas humanas, fosse uma aldeia feliz.” – in O Prenúncio das Águas
Auxília Ramos
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