quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O livro do desassossego na Casa da Música

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Ontem, o 12ºAno assistiu a um espectáculo único, na Casa da Música, que concilia a música com as palavras de Fernando Pessoa. A direcção musical foi de Ed Spanjaard e a realização de Michel van der Aa. Uma produção no âmbito da Linz09, Capital Europeia da Cultura.
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No palco, a orquestra contemporânea Remix Ensemble, agrupamento residente na Casa da Música, dividiu o protagonismo da noite com o monólogo impressionante do actor João Reis, a presença enigmática do fado de Ana Moura (Ofélia) e a projecção fragmentária de imagens, de espectros, de Pessoa(s).
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Num cenário vanguardista e minimal, esferas visuais, a secretária de Bernardo Soares e o espaço da orquestra.
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O teatro musical começa com a projecção lenta de uma marcha animal, acompanhada por passos femininos... Lentamente imergimos no mundo profundo de Fernando Pessoa: imagens abstractas, descontínuas, aparentemente incoerentes. Uma sensação de desassossego invade-nos; a música intensifica essa despersonalização. Pessoa divide-se em palco e acedemos ao seu universo uno na diversidade. Sombras, silêncios, loucura... Ofélia pairando, a vermelho, no palco... Sombras, silêncios, loucuras... Um baú de papéis soltos, escombros de uma mente infinita, órfã de identidade: "A casa era uma casa viúva"; "Eu sou Deus".
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Desinstalação, desacomodação, desconstrução. A mente assombrosa do génio revela-se numa epifania sonora. Só no fim, no paroxismo da dor, o poeta sossega, no regaço do desassossego.
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Uma noite inesquecível, do tamanho do que vimos e não do tamanho da sua altura, como diria Alberto Caeiro.

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