domingo, 5 de dezembro de 2010

Livro do mês - Dezembro - Gonçalo M. Tavares

Mês dedicado a Gonçalo M. Tavares, vencedor do Prix du Meilleur Livre Étranger 2010 (França) com "Aprender a Rezar na Era da Técnica".
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Destaco, sobretudo, a sua última obra, Uma Viagem à Índia, e deixo as palavras do escritor, em entrevista ao Público:

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Esta epopeia do séc. XXI, “Uma Viagem à Índia”, conta as aventuras, mais mentais mas também físicas, de uma personagem, Bloom, que sai de Lisboa em fuga em 2003.
É como se, passo a passo, Bloom seguisse o percurso de "Os Lusíadas", mas acompanha-o como se partisse de um mapa de um outro mundo. Os acontecimentos são passados em 2003, com uma personagem de ficção que parece ela mesma saber que é personagem de ficção. Na viagem de Bloom todos os acontecimentos são mínimos, a mesquinhez do que lhe acontece está sempre presente. Não é um herói antigo, é uma personagem de ficção moderna, com as misérias modernas e com a ironia como arma que utiliza para se defender do mundo.
Bloom, em 2003, não está já no mundo das grandes conquistas e das grandes descobertas colectivas. Bloom é uma personagem de ficção que age totalmente sozinho. É um individualista do século XXI.
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Ficam também as críticas, recolhidas do blogue do escritor:
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"O mais recente livro de Gonçalo M. Tavares, Uma Viagem à Índia, de que Vasco Graça Moura disse «é um livro extraordinário. Estou convencido de que dentro de cem anos ainda haverá teses de doutoramento sobre passagens e fragmentos» vai ser publicado em Moçambique, Angola e Brasil por editoras do grupo Leya. Nestes três países de língua portuguesa, o livro será lançado em Dezembro.
Entretanto, em Portugal o livro está a suscitar uma viva reacção da crítica. Veja a seguir algumas dessas reacções:
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«Uma Viagem à Índia é um livro que vai marcar com certeza, não apenas a História da Literatura Portuguesa mas provavelmente a cultura europeia» (Vasco Graça Moura, na apresentação da obra, CCB, 13/11/2010).
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«Este é um livro a muitos títulos surpreendente. Não pelo ineditismo ou pela novidade das peripécias, não por aspectos empolgantes da acção, mas, desde logo, pela maneira como, nele, caleidoscopicamente tudo se eleva à dignidade de literatura enquanto meio para retratar, talvez dizendo melhor, radiografar a condição humana.» (Vasco Graça Moura, na apresentação da obra, CCB, 13/11/10).
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«Uma Viagem à Índia, com consciência aguda da sua ficcionalidade, navega e vive entre os ecos de mil textos-objectos do nosso imaginário de leitores. Como são todos os grandes livros, e este é um deles.» (Eduardo Lourenço, prefácio à obra)
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«É um livro cheio de fantasmas, fantasmas dos Lusíadas, fantasmas do homem contemporâneo, uma viagem, uma antiepopeia, e é um livro extraordinário. Estou convencido de que dentro de cem anos ainda haverá teses de doutoramento sobre passagens e fragmentos». (Vasco Graça Moura, «A Torto e a Direito», TVI24, 6/11/10)
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«Uma obra que o confirma como uma voz absolutamente singular da actual literatura portuguesa. […] Em quase uma década de publicação, Gonçalo M. Tavares, 40 anos, afirmou-se como um «senhor» da literatura. Ousou agora seguir o canto de Camões em Os Lusíadas, mas para narrar a odisseia de um homem simples nos tempos que correm. Uma Viagem à Índia, que acaba de publicar e que Eduardo Lourenço considera uma «navegação de alma pós-moderna», é uma verdadeira epopeia «mental». (Luís Ricardo Duarte e Maria Leonor Nunes, JL, 20/11/10)
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«Um texto que se faz a si próprio à medida que avança, desprezador dos códigos literários instituídos, dotado de uma filosofia do corpo […]. Livro absolutamente inolvidável por mais anos que se viva. Ou, de outro modo, um livro para a eternidade.» (Miguel Real, JL, 20/10/10)
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«Volume com uma ambição literária ímpar.» (Visão, 11/11/10)
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«Sob a forma de uma moderna epopeia (o que nem sempre coincide com uma anti-epopeia), ele é simultaneamente – e essa é uma das razões da sua grandeza – uma figuração interpretativa da época e uma teoria da forma do romance num mundo em que a realidade só fornece a esse género literário e à arte em geral, um terreno desfavorável, de tal modo que o problema central do romance é o fim das formas totais e acabadas. […] [Situamos Bloom na distinta família de que fazem parte o último homem de Nietzsche, o Monsieur Teste de Valéry, o Plume de Michaux, o Bernardo Soares, o Bartleby de Melville […] Mais do que uma personagem, é um princípio irradiante, nome da bloomificação do mundo. É a excelentíssima figura de um péssimo histórico, cultural e antropológico.» (António Guerreiro, Expresso, 6/11/10)
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«Uma Viagem à Índia é o momento mais ambicioso de uma obra pessimista que não abdica da memória e da exigência.» (Pedro Mexia, Público, «Ípsilon», 29/10/10)
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