sábado, 17 de dezembro de 2011

Valter Hugo Mãe

Valter Hugo Mãe regressou ao Colégio Luso-Francês. O filho de mil homens e Quatro Tesouros são as suas mais recentes obras e marcam a maiusculização do seu nome, bem como a confirmação do talento com proporções de tsunami... Eis as impressões de uma inesquecível sessão intimista e comovente:













A sua imagem não era exatamente a que desenhava na minha mente, embora soubesse que a sua hilariante descrição se intitulava "gordo e careca". Ora, fiquei a descobrir que ele é bem mais que isso. Na minha cabeça, ele era um "cromo", era aquele que não entrava em lado nenhum sem o seu bloco e caneta, mas desde logo ele demonstrou que a minha conclusão era precipitada. Sabiamente, encontrou uma forma subtil de embelezar a sua aparência, sendo um "cromo" disfarçado, cuja máscara é o telemóvel, afirmando "namorar" numa eterna mensagem de interminável amor. Enfim, um homem "muito apaixonado".




Fosse quem fosse, não era quem eu pensava que ele fosse, era antes alguém que, procurando um fundo de "coragem" no seu auditório (ao qual insistia em que colocasse questões), o conquistou e cativou, motivando, pelo menos a mim, pessoalmente, não só à leitura dos seus livros, mas também ao desenvolvimento da escrita (nem que fosse, em último caso, por meio de aparelhos eletrónicos).
Ouvir as palavras de Valter Hugo Mãe foi uma enorme oportunidade, na medida em que conheci uma nova realidade e me motivou para, mais uma vez, "encher os meus bolsos de textos" e papéis espalhados por todo o lado, com ideias que simplesmente me vieram à cabeça.
Sara Martins, 11E





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José Saramago, por ocasião da entrega a Valter Hugo Mãe do prémio que ostenta o seu nome, apodou o remorso de baltazar separião de “verdadeiro tsunami literário”. A propósito destas palavras, disse o galardoado, numa entrevista recente: “como se eu, gordinho e careca, sozinho, nas Caxinas, pudesse ter inventado outra vez uma forma de falar português.”




Apesar da contrafactualidade conferida pelo conjuntivo, a verdade é que leitura do autor arrasta realmente consigo a necessidade de aprender a falar de outra maneira. Aliás, se pensarmos bem, qualquer metáfora que associasse a escrita de Valter Hugo Mãe a um fenómeno atmosférico se mostraria apta para a descrever. Um furacão, uma erupção, um sismo… Não são estes, afinal, apenas símbolos extraídos do mundo natural que visam colmatar as insuficiências concetuais para descrever o cavalgar de uma escrita que produz efeitos devastadores sobre qualquer solidez que a linguagem humana possa, aparentemente, oferecer? Dir-se-á que ensinar o leitor a pronunciar as sílabas de uma língua nova é apanágio de toda a boa escrita. E no entanto, em Valter Hugo Mãe, a procura pelo novo parece ser algo essencial – adjacente a uma modificação profunda do discurso da língua-mãe –, como um instinto genuíno que o guia na destruição e reconversão das formas, o que, aliás, se insinua desde os primeiros textos. O uso das minúsculas, o alinhamento tão estranho dos poemas à esquerda e à direita da página, o vocabulário radicalmente oscilante entre o erudito e o rasteiro não seriam já modos de perguntar à língua portuguesa o que, através dela, podemos dizer de novo?





Foi dando resposta a todas estas questões que Valter Hugo Mãe, de um modo tão próximo e tão informal, falou ao pequeno grupo que com ele se encontrou no auditório do colégio, na tarde do dia 7 de dezembro. Tendo como ponto de partida a poesia “desalinhada” na página, Valter, pela mão dos iniciados na sua escrita literária, recordou a sua estada em Paraty, no FLIP, falou do seu recente projeto de ajuda solidária ao serviço de Pediatria do HSJ, no Porto – Os quatro tesouros – peregrinou pelos seus romances e, sobretudo, fascinou e comoveu com uma irreverência que se estende à sua criação como artista plástico. Utilizando uma outra linguagem, as capas dos seus romances são jogos de uma criatividade concetual que podem passar despercebidas ao incauto leitor. Mas quem lê Valter Hugo Mãe não se pode descuidar e tem que estar atento a tudo – às palavras, às formas, ao jogo que os títulos dos seus romances se atrevem a (re)inventar - o remorso de mil homens, o filho de baltasar sarapião, a máquina dos trabalhadores, o apocalipse do nosso reino, a máquina de fazer mil homens…
Auxília Ramos e Hélder Moreira

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