terça-feira, 18 de março de 2008

Oficina de Escrita 12ºAno

O Lusografias alargou o seu âmbito a outras turmas e a outros anos. Hoje, é a vez da estreia do 12ºAno.

“É este mundo um teatro: os homens as figuras que nele representam , e a história verdadeira dos seus sucessos uma comédia de Deus, traçada e disposta maravilhosamente pelas ideias de sua Providência.”
Pe. António Vieira


Esta é a realidade do presente, do séc. XVII, preconizada por Pe. António Vieira .
Pressuposto: Para interpretar a afirmação de Pe. António Vieira à luz destes tempos actuais é imperativo ultrapassar a visão de Deus como uma entidade suprema - e unicamente Cristã - e encará-lo como uma realidade metafísica e ontológica indissociável do Homem. De outra maneira, é impossível identificar e reconhecer o nosso presente na expressão supracitada.
O mundo em que vivemos é, sem dúvida alguma, um teatro em que cada um de nós desempenha um papel que segue um enredo específico, definido, e quase predestinado, pelos muitos deuses que escolhemos para regerem a nossa vida: sim, porque contrariamente ao referido na afirmação, estes tempos parecem não ser os da Graça de Deus, mas os da Desgraça do Paganismo. Estamos numa era de falsas idolatrias - da adoração do Deus-do-Dinheiro, da veneração exacerbada do Deus-do-Conhecimento, do culto a um Deus-Egocêntrico - , numa época que é de preocupação com o acessório e ilusório e não com o essencial e estrutural.
Estamos cegos.
E deixamos de ser actores nesse teatro que é a vida para sucumbirmos às mãos desses deuses ex-machina, que fazem de nós marionetas, completamente impotentes à sua mercê.
Mas acredito também que, no dizer do André Malraux, “O século XXI será religioso, ou não será”. Acredito que Pe. António Vieira não estava errado em preconizar um tempo em que todos os homens se acolham no regaço de um Deus-Universal. E acredito, acima de tudo, no Homem e na sua capacidade incondicional de amar.
Francisco Silva
12ºB


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António Vieira compara o mundo a um teatro onde os homens são marionetas comandadas por Deus. Esta comparação é aplicável ao Homem seiscentista, que ainda cometia atrocidades que eram facilmente justificáveis com Deus – com raciocínios, por vezes, bastante criativos. Mas, na sociedade da globalização, do telemóvel e da Internet, Deus não tem espaço.
O século XX, acabado há pouco, não gostava nada de Deus. De facto, de há uns séculos para cá que Deus já não serve de razão para a barbárie humana, pelo que foi posto de parte. O século XX viu mais de um milhar de razões para justificar os cem anos mais sangrentos da História – entre genocídios, duas Guerras Mundiais e muitas mais locais, bombardeamentos nucleares, atentados terroristas e privações de liberdades básicas, inúmeras razões foram esgrimidas pelos homens numa tentativa (vã?) de legitimar os seus actos. De todas estas, só uma se revelou verdadeiramente universal. Uma apenas estava sempre presente, e era escondida pelas restantes. Refiro-me ao dinheiro, a riqueza. E a ganância humana não conhece limites, pelo que o século XX viu o crescimento da economia até esta assumir o papel mais importante de qualquer sociedade – o que é comprovado pelo crash da bolsa americana que teve repercussões em todo o Mundo; ou pelas inúmeras guerras cometidas em nome do petróleo e de outros recursos.
No alvorecer do novo século, a Humanidade confronta-se com uma decisão difícil. Uma vez mais, é preciso trocar de razão universal para justificar a barbárie. Desta vez, não é porque a riqueza já não serve para justificar. Não. O Homem tem de olhar a atrocidade como atrocidade, como acto desumano, sem justificação. Tem de parar de se justificar, lavar a cara e deitar mãos à obra. O ser humano já provou ser capaz de cometer os maiores crimes contra a Natureza, contra as sociedades, contra si próprio. E já provou também que consegue redimir-se. Já fechou o buraco da camada de ozono. Já reconstruiu a Europa das cinzas das Guerras Mundiais. Já salvou espécies animais, já usa energias renováveis. Mas esta geração será conhecida como a Geração da Ressaca, se continuar a fazer pouco, a mostrar-se desinteressada, enquanto à sua volta a História se afunda lentamente. Ou então, será a Geração da Recuperação, pronta a resolver qualquer problema, tentando restabelecer a ordem mundial com base em valores morais e éticos. Que se cumpra o V Império!
Daniel Braga
12º B

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Da vida de Fernando Pessoa, nada de extraordinário se realça. O que se destaca verdadeiramente (ao ponto de continuar a impressionar quem o lê) é a magnitude e a beleza singular da sua obra literária. Pessoa, enquanto poeta, não é só o ortónimo metódico e melancólico dividido entre o real vivido e o real imaginado; é o Reis estóico e epicurista que imbui as suas “Odes” da tão característica demissão da vida; é o Caeiro bucólico que não quer da vida nada mais que as sensações da Natureza; é o Campos caótico, torrencial , ousado, mas ao mesmo tempo sensacionista e confessional; é o Bernardo Soares que, no “Livro do Desassossego”, esgota tudo o que pensou da vida.
É esta a magia do “reinventor do Português Moderno”: a capacidade de olhar para dentro de si próprio mais do que outro homem alguma vez ousou e de descobrir, no seu íntimo, infinitas realidades torna-o um ícone da Literatura.
Francisco Silva
12º Ano B

1 comentário:

Lúcia disse...

Olá Professora Eunice,

Já tinha passado por cá várias vezes, mas só agora sugiu a oportunidade de comentar.

Antes de mais, gostei bastante da ideia de criar este blogue para colocar os trabalhos dos alunos e outras informaçoes adicionais, como sites a visitar e videos.
Penso, também, que foi interessante abranger o site a outras turmas, criando, assim, a possibilidade de os alunos tomarem como exemplos textos de outros alunos mais velhos e com mais experiencia de escrita.
Por fim, gostaria de sugerir que a professora podia também colocar aqui nomes de outros livros que considerasse interessantes para lermos, mesmo que não sejam para a Oficina de leitura.

Um beijinho
Ana Lúcia Rebelo