Ontem,
pelas 18horas,foi [re]apresentada a Cátedra Poesia e Transcendência – Sophia de
Mello Breyner Andresen, na Universidade Católica – Porto. O nosso querido
amigo, Prof. Dr. José Rui Teixeira, nomeado diretor da Cátedra de Sophia no dia
17 de maio, leu a conferência «O vazio que persiste à minha beira. Sobre o
lugar de Deus na poesia contemporânea».
Apesar
de um fim de tarde cinzento, a ameaçar chuva, o auditório Carvalho Guerra encheu-se
de amigos que partilham o mesmo fascínio pela poesia luminosa de Sophia e o
auditório, como afirmou o José Rui, tornou-se numa “casa habitada”.
A Prof.ª Doutora Maria João
Reynaud fez a evocação da memória de Sophia de Mello Breyner Andresen, lendo
alguns dos seus poemas.
Senhor, se da tua pura injustiça
Nascem os monstros que em minha roda eu vejo
É porque alguém te venceu ou desviou
Em não sei que penumbra os teus caminhos
Foram talvez os anjos revoltados.
Muito tempo antes de eu ter vindo
Lá se tinha a tua obra dividido
E em vão eu busco a tua face antiga
És sempre um deus que nunca tem um rosto
Por muito que eu te chame e te persiga.
Sophia de Mello Breyner Andresen, Se
da Tua Pura Justiça
«Com efeito, não sei se Deus está mais presente na poesia [na
arte, na literatura] contemporânea do que em outros modos de presença [e
pertença], em outros contextos histórico-culturais. Nem sei se a poesia [a
arte, a literatura] serve os propósitos de um modelo de evangelização
convencional. Mas estou certo de que Deus não está mais presente numa poesia
que o enuncia explicitamente do que numa poesia que arrisca intuí-lo, que o
pressente implicitamente. Creio que o sentimento de ausência é tantas vezes a afirmação
funâmbula de uma presença mais pura[1].
E creio que o Deus implícito na obra
de tantos poetas contemporâneos é aquele no qual a profissão de fé continua a ser um horizonte de possibilidade de
abertura à transcendência, a verdade íntima do mistério do Homem que se coloca diante do mistério de Deus, a inteligibilidade do Homem que percebe, na sua
intrínseca ininteligibilidade, a inteligibilidade em que Deus se torna
poeticamente inteligível.»
José Rui Teixeira
Enviado por Auxília Ramos
[1] …
expressão de José Tolentino de Mendonça [Baldios, Assírio & Alvim, 1999, p.53)
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