quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Cátedra Poesia e Transcendência - Sophia de Mello Breyner Andresen


 
 
Ontem, pelas 18horas,foi [re]apresentada a Cátedra Poesia e Transcendência – Sophia de Mello Breyner Andresen, na Universidade Católica – Porto. O nosso querido amigo, Prof. Dr. José Rui Teixeira, nomeado diretor da Cátedra de Sophia no dia 17 de maio, leu a conferência «O vazio que persiste à minha beira. Sobre o lugar de Deus na poesia contemporânea».

Apesar de um fim de tarde cinzento, a ameaçar chuva, o auditório Carvalho Guerra encheu-se de amigos que partilham o mesmo fascínio pela poesia luminosa de Sophia e o auditório, como afirmou o José Rui, tornou-se numa “casa habitada”.

A Prof.ª Doutora Maria João Reynaud fez a evocação da memória de Sophia de Mello Breyner Andresen, lendo alguns dos seus poemas.

 

Senhor, se da tua pura injustiça

Nascem os monstros que em minha roda eu vejo

É porque alguém te venceu ou desviou

Em não sei que penumbra os teus caminhos

 

Foram talvez os anjos revoltados.

Muito tempo antes de eu ter vindo

Lá se tinha a tua obra dividido

 

E em vão eu busco a tua face antiga

És sempre um deus que nunca tem um rosto

 

Por muito que eu te chame e te persiga.

 

Sophia de Mello Breyner Andresen, Se da Tua Pura Justiça

 

«Com efeito, não sei se Deus está mais presente na poesia [na arte, na literatura] contemporânea do que em outros modos de presença [e pertença], em outros contextos histórico-culturais. Nem sei se a poesia [a arte, a literatura] serve os propósitos de um modelo de evangelização convencional. Mas estou certo de que Deus não está mais presente numa poesia que o enuncia explicitamente do que numa poesia que arrisca intuí-lo, que o pressente implicitamente. Creio que o sentimento de ausência é tantas vezes a afirmação funâmbula de uma presença mais pura[1]. E creio que o Deus implícito na obra de tantos poetas contemporâneos é aquele no qual a profissão de fé continua a ser um horizonte de possibilidade de abertura à transcendência, a verdade íntima do mistério do Homem que se coloca diante do mistério de Deus, a inteligibilidade do Homem que percebe, na sua intrínseca ininteligibilidade, a inteligibilidade em que Deus se torna poeticamente inteligível.»
José Rui Teixeira
 
Enviado por Auxília Ramos




[1] … expressão de José Tolentino de Mendonça [Baldios, Assírio & Alvim, 1999, p.53)

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