Às seis da manhã,
ainda é noite, do dia vinte de novembro de dois mil e treze sai do Porto o
décimo segundo ano do colégio Luso-Francês, com exceção de uns poucos alunos
que decidiram não ir, com certeza que motivos maiores os prenderam à cidade
invicta, num total de cinco turmas, umas maiores que outras, mas nenhuma grande
o suficiente para conter nomes começados por cada uma das letras do alfabeto,
acompanhado de um grupo de professores, pois claro, pode-se imaginar o que
fariam eles sozinhos, em direção a Mafra numa visita de estudo no âmbito da disciplina
de Português, como diz a carta que levaram para casa os mesmos alunos uns dias
antes, para aprofundar a compreensão da obra “Memorial do Convento”, que, no
entanto, só será estudada no próximo ano, dois mil e catorze, que pensarão
Caeiro e Reis que veem assim o seu estudo a ser interrompido pelo Saramago, não
pensam, é verdade, isso cabe ao ortónimo.
Pelas onze horas
começa a visita guiada ao convento ou basílica ou palácio de Mafra, Foi mandado
construir por D. João V por causa de uma promessa que fez a um frade
franciscano, O projeto inicial era um convento para treze frades, tendo esse
número sido depois alargado para
trezentos, Chegaram a trabalhar em Mafra, que não passava de uma aldeia,
cerca de cinquenta e dois mil homens, cinquenta e dois mil, Sabem quantas
pessoas tinha Portugal na altura, Dois milhões, Muito bem, Eu sei destas
coisas, e a risada é geral, até dos professores, que hoje parecem estar
bem-dispostos. Contemplam os alunos e professores a magnífica basílica,
acompanhados pelo discurso da guia, novo para os alunos, os que prestaram
atenção, semelhante a algo que já tinham ouvido para os professores,
enervantemente repetitivo para as velhas paredes as igreja, que estão fartas de
ouvir como foram construídas, Que bonito, pensarão uns, Que desperdício de
tempo e dinheiro nesta obra, Será que falta muito tempo para o almoço.
Percorrem os corredores pelos quais el-rei nunca pousou el-pé, veem a cama na
qual ele nunca dormiu, visitam o quarto da rainha no qual ele nunca chegou,
como diz a guia, a “cumprir a função”, que piada ainda acham alguns alunos a
estes eufemismos, tão imaturos e já para o ano vão para a faculdade, e no a
seguir estão a trabalhar, e no a seguir são mães e pais, meu Deus, a vida está
prestes a precipitar-se-lhes, mas, para já, calma, para já o que interessa é
encontrar alguém que saiba quanto falta para ir almoçar, Pergunta-lhe a ele,
que costuma saber destas coisas, Meia-hora, podia ser pior. Passam pela
biblioteca, elegante mas severa, em forma de cruz, com mais de trinta e dois
mil livros, Isso é muito livro, e eu nem comecei o Memorial, mas também aquele
livro é enorme, e não se percebe nada do que ele diz, mais vale comprar os
resumos pretos e amarelos, Ei, tu, tira-me uma foto na biblioteca para pôr no face. Têm alguma pergunta, há mais
alguma coisa que queiram saber, não, então espero que tenham gostado desta
visita e até à próxima. Chega por fim a hora de almoço, já era sem tempo.
Mas como passam
rápido os intervalos, o que é bom é deambular sem propósito pelos corredores do
colégio ou pelas ruas de Mafra, melhor ainda pelas ruas, que não se tem de usar
polo, aproveitar o não ter nada para
fazer antes que dê o toque ou que comece o teatro, O quê, já temos de ir,
Depressa, depressa, que o espetáculo vai começar. Entram numa sala escura, Qual
é a ideia das luzes, É interativo, Não me parece a mim que esteja a funcionar.
O teatro começa, já está toda a gente a ir para outra sala, nesta é para ficar
até ao fim. O Baltasar e a Blimunda estão a ajudar o padre Bartolomeu, Que
engraçado, os nomes deles começam todos por “B”, só agora é que reparei. O que é
que se está a passar, eles deitaram uns panos brancos pelo palco e agora estão
em cima de uma máquina estranha com a forma de pássaro, estarão a voar, agora é
que dava jeito eu ter lido o livro, ou até o livro de resumos que às tantas
bastava. Faltará muito para acabar, estes lugares não são muito confortáveis,
já me doem as costas, se fossem mais confortáveis fechava os olhos que era uma
maravilha, os professores estão lá à frente e está escuro e ninguém reparava,
será que falta muito para acabar. O teatro, finalmente, acaba, como a visita de
estudo acaba, e ainda bem que já é tarde e amanhã há aulas, e como tudo na vida
acaba, exceto o convento de Mafra, que fica incompleto para cumprir o seu verdadeiro propósito, deste não tinha conhecimento D.
João mas dele fez parte, que é o de servir de monumento ao espírito português.
Duarte Magano, 12ºB
Enviado por: Auxília Ramos
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