segunda-feira, 11 de maio de 2009

Do mundo dos livros III: evolução ou revolução

...
A palavra "Kindle" significa em inglês "arder, acender, incendiar". De facto, esta nova tecnologia da Amazon veio incendiar por completo a imagem tradicional que temos do livro. Como em todas as discussões, não vale a pena adoptar posições muito radicais, nem questionar qual é o derrotado. O Kindle não é propriamente uma ameaça ao livro, nem o destrona. Continuará a haver espaço para folhear, sentir o cheiro tão típico das folhas e das encadernações e as bibliotecas continuarão, com certeza, cheias. O Kindle, parece-me, é apenas mais um "facilitador" da leitura. E o que interessa verdadeiramente é que cada vez mais pessoas adquiram o "vício saudável" da leitura, não importa se através do ecrã ou das páginas de um livro...
...
Deixo o vídeo...
...
.
...
E a opinião incendiária e irónica do escritor brasileiro Rubem Fonseca sobre o Kindle: "Há coisa melhor que ler um livro?!"
...
Kindle 2 é como se intitula o novo e-book que está sendo oferecido aos consumidores. Como o nome indica, um livro eletrônico.
A primeira versão do Kindle foi lançada em novembro de 2007 pela Amazon, que começou a vida vendendo livros de papel pela internet. O Kindle já oferece para download mais de 88.000 títulos e vai aumentando o numero de títulos constantemente. Por enquanto é vendido apenas nos Estados Unidos. Custa cerca de quatrocentos dólares.
O Kindle está causando um grande furor. As Oprah Winfreys, os David Letterman, os Jay Lenos da tv, os blogs estão alvoroçados. Tem brasileiro indo aos EUA só para comprar o Kindle.
Mas ele não é o primeiro livro eletrônico. Antes dele a Sony lançou o PRS (iniciais de Portable Reader System), que consome energia apenas quando uma nova página é carregada e tem autonomia para sete mil e quinhentas páginas. É vendido nos EUA por trezentos e cinqüenta dólares, acompanhado de um cabo USB para conexão com o PC. O PRS lê somente os e-books disponibilizados na loja virtual da Sony, que oferece outro dez mil títulos à venda por preços mais baixos (diz a propaganda) do que os livros de papel encontrados nas lojas de varejo.Parece que o PRS não vem fazendo muito sucesso. Tanto que a Amazon está lançando a segunda versão do Kindle, com o qual espera obter o êxito que o PRS não conseguiu.
Permitam-me uma digressão. Eu me lembro que há tempos comprei um cd denominado “Library of the Future”, com o texto completo de cinco mil livros (5.000). Tem todos os clássicos que você pode imaginar, desde a Ilíada e a Odisséia, de Homero, passando por todas as tragédias e comédias clássicas gregas – Eurípedes, Sófocles, Ésquilo, Aristófanes e também as obras dos filósofos gregos, Platão, Aristóteles, Epicuro – não vou citar todos, a lista é longa) e mais os historiadores como Tucídides e Plutarco, e os livros de Heródoto, Galeno, Demóstenes e Hipócrates.
Recordo que entre os vários livros de Hipócrates havia um sobre hemorróidas e outro sobre úlceras, que li com interesse.Dos clássicos latinos o “Library of the Future” tem, entre outros, Plauto, Terêncio, Catulo, Horácio, Lucrécio, Ovídio, Propércio, Virgílio, Juvenal, Petrônio... Acho que chega. E isso é apenas a literatura clássica grega e latina. Todos, repito, todos os grande livros da história da literatura universal estão nesse cd. Que pode ser adquirido via internet facilmente.O problema é que está tudo em inglês e o cd tem uma chave que não permite que se faça cut and paste.
Mas voltemos ao Kindle. Será que ele vai dar certo? Ou vai fracassar como o PRS? Talvez o Kindle precise de mais recursos – toque música, faça fotos e filmes, envie e receba e-mails, possa ser usado na caixa eletrônica do banco para tirar dinheiro, permita download de filmes e dispare projéteis de borracha (ou verdadeiros) para assustar ladrões, já que o número de assaltantes aumenta mais que o número de novos e-books.
Uma longa exposição a telas eletrônicas, segundo algumas pesquisas, é prejudicial à saúde. Outras pesquisas dizem que se você mantiver constantemente uma distância de pelo menos 50 centímetros da tela, se parar de ler a cada 30 minutos durante pelo menos vinte minutos, de preferência caminhando neste intervalo, se fizer isso, além de pingar colírios na vista de dez em dez minutos, poderá evitar a “Síndrome de Tela de Computador”, dor de cabeça, olhos cansados e secos, visão embaçada, além de outros sintomas que variam conforme o leitor.
Ler na cama está fora de cogitações.Respondam: há coisa melhor do que ler em um livro? Além disso ele pode ser lido em qualquer lugar. Digam um lugar em que um livro não pode ser lido?Você pode ler os jornais na internet, no entanto todo mundo prefere ler as notícias no jornal de papel. Por que será? Vício? Conforto? Sabedoria?
O significado da palavra inglesa Kindle é “arder, acender, incendiar.”Querem saber de uma coisa, aqui entre nós? Esse Kindle me parece fogo de palha.
Rubem Fonseca

Sem comentários: