sexta-feira, 29 de maio de 2009

Lavarte - entre a imagem e a palavra

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Enquanto a maior parte das manifestações artísticas, como a escultura, a arquitectura, a música e a pintura se dirigem imediatamente aos sentidos de quem as observa, a poesia, por meio da palavra, destina-se indirectamente aos sentidos, e directamente à imaginação e ao espírito de quem a lê.
Na exposição de trabalhos que os alunos de Artes (10º, 11º e 12º anos) realizaram, no âmbito das disciplinas de Desenho e Oficina de Artes, sob a orientação das professoras Ana Domingos e Alexandra Tomé Ribeiro, respectivamente, tivemos a possibilidade de assistir a um momento em que as fronteiras entre “ler/ver” e/ou “escrever/pintar” se esbateram e a palavra dramatizada e a palavra poética surgiram, de forma espontânea e harmoniosa, com as cores, as formas, os mais variados artefactos criados e recriados…
A LAVARTE aconteceu, ontem, 28 de Maio, pelas 21:30, no colégio.Deixo-vos algumas imagens e algumas palavras poéticas.
Auxília Ramos
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Imagem
a imagem estremece
pietà adormece
cristo vai ao chão
espalhar o céu
e regressa aos braços
de sua mãe que só
entretanto acorda
e dá-se um entardecer
uma aurora do turner
nuvens delacroix
descobrem a terra
encobrem a lama
desenha-se a imagem
os véus da marylin
esvoaçam na grelha
de um aterro de arte
james dean crucifica-se
numa espingarda
há um grito do munch
atravessa uma ponte
a imagem surge cresce
sem luz nem voz
gioconda já não sorri
david veste-se e desce
do alto da sua peanha
mater troveja e chove
as lágrimas do universo
de todas as mulheres
de todas as crianças
san giovanni ragazzo
sai à pressa da cama
deixa a vida por fazer
caravaggio desarrumado
vamos todos à morte
sem pressa nem mágoa
toda a poda e magia
do homem não chega
para apagar o sufoco
para limpar o nojo
dos corvos ao costume
e a imagem envelhece
guernica goya guerra
auschwitz hiroshima
a cria não dá por isso
a sapiência não tem
qualquer importância
a imagem desfoca incha
o sopro do anjo breve
do botticelli na primavera
a ferrugem da espécie
a erosão do mundo
em vergonha ardente
a imagem desaparece
Joaquim Castro Caldas

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