segunda-feira, 1 de março de 2010

Correntes de Escrita 2010

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Fonte: Pelouro da Cultura, Câmara Municipal da Póvoa de Varzim
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De forma intervalar, tenho acompanhado as “Correntes d’Escritas” desde 2000. Sábado, tive oportunidade de voltar à Póvoa de Varzim e de assistir, no Auditório, à última mesa da 11ª edição desse evento que reúne escritores, livros, leitores, amantes de palavras, crentes de que “um pedaço de utopia é possível”. Moderada por Maria Flor Pedroso, com a presença de Mário Zambujal, Rui Zink, Onésimo Teotónio de Almeida e dois escritores de língua espanhola, Milton Fornaro e Ricardo Menéndez Salmón, a tertúlia teve por mote “Cada palavra é um pedaço do Universo” e cada um dos oradores usou da palavra, assinalando o modo como entendia a palavra, ou o universo das palavras, ou a representação do universo (macro, ou micro), através das palavras. Para Mário Zambujal, o jornalista, criador das mais apetecíveis crónicas, a palavra é instrumento de trabalho e meio de se aproximar daqueles que o lêem. Rui Zink, num registo jocoso, provocatório, fez-nos remontar ao tempo da mais recuada infância, em que “no início não era o verbo, mas sim o berro”. E, representando o papel da criança que pensa, mas ainda não verbaliza, “desconstruiu” o universo consciente e linguístico do adulto. Onésimo Teotónio de Almeida usou da palavra como só um bom contador de histórias sabe fazê-lo, prendendo o auditório, divertindo-o, numa cumplicidade que decerto lhe garantiu a certeza de que as suas palavras permanecerão, sendo parte integrante do universo. Fiquei curiosa de conhecer a sua prosa literária que, a julgar pelo que dele ouvi, será o resultado de uma espécie de “pensar em voz alta”, em que todos os jogos com e das palavras serão admitidos. Não me atrevo a comentar os oradores de língua espanhola, por razões óbvias, mas não esquecerei o discurso ritmado, ainda que angustiado e angustiante, de Ricardo Menéndez Salmón – “La nada. «Cada palavra é um pedaço do universo». De acuerdo, accepto la mayor.” – uma espécie de refrão que pautou a sua reflexão sobre a literatura como conquista de dignidade e de conhecimento, ultrapassado a angústia do vazio – “la nada”.
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Ir às “Correntes” também é reencontrar velhos amigos, cumprimentar alguns mais recentes conhecidos e deambular pela feira do livro. A última publicação do jornalista brasileiro Zuénir Ventura - “Inveja, mal secreto” - chamou a minha atenção pelo seu destaque. A curiosidade levou-me a pegar no livro, a folheá-lo, a ler apressadamente os textos das abas e da contracapa e, mais pausadamente, o texto assinado por Miguel Sousa Tavares que abre o livro – “Porque é jornalista, repórter, cronista (autor de uma indispensável crónica semanal n’ O Globo) e, aos factos das histórias, alia sabiamente os factos da imaginação próprios do escritor, Zuenir Ventura lançou-se, nesta viagem às profundezas da inveja, numa incrível peregrinação por psicanalistas, antropólogos, meninas perdidas no Rio, terreiro de mãe-de-santo e hospitais onde «me cuidavam da doença, enquanto eu cuidava da inveja». Pela mão de Kátia, a sua personagem-muleta, caminhamos com ele, dois passos atrás dela, e vamos entrando onde ela entra e ele espreita, como se caminhássemos atrás de uma câmara de filmar, com o realizador à frente. E assim vamos desfiando o novelo, seguindo o filme, devassando os labirintos da inveja.”
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Vá lá saber-se porquê, o livro veio comigo...
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E, como no passado dia 11, não pude estar na Biblioteca Almeida Garrett para assistir ao lançamento do último livro do valter hugo mãe, o romance “a máquina de fazer espanhóis” também me fez companhia na viagem de regresso a casa, debaixo de um temporal capaz de desfazer espanhóis e portugueses…
Auxília Ramos




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