segunda-feira, 22 de março de 2010

Dia Mundial da Poesia - 21/03

A voz dos poetas...






...
...
O que me faz escrever este poema
não são as coisas: terra céu astros.
A saber: estendo a mão: e
o mundo reconhece-a encontra a
...
memória onde repousa e se transforma.
Pequena questão de valor cósmico. Insisto:
elo que liga bruma e fumo
felicidade de imagens nome inamistoso.
...
Não sonho palavra sonho barco.
Imóvel aprendo a não esquecer:
aspecto mineral do corpo
um destino de mica qualquer coisa
que não cessa de bater.
João Miguel Fernandes Jorge, in "Vinte e Nove Poemas" E a voz das palavras...
...
...
A um Poema
...
A meio deste inverno começaram
a cair folhas demais. Um excessivo
tom amarelado nas imagens.
Quando falei em imagem
ia falar de solo. Evitei o
imediato, a palavra mais cromática.
...
O desfolhar habitual das memórias é
agora mais geral e também mais súbito.
Mas falaria de árvores, de plátanos,
com relativa evidência. Maior
ou menor distância, ou chamar-lhe-ei
rigor evocativo, em nada diminui
...
sequer no poema a emoção abrupta.
Tão perturbada com a intensa mancha
colorida. Umas passadas hesitantes,
entre formas vulgares e tão diferentes.
A descrição distante. Sobretudo esta
alheada distância em relação a um Poema.
Fiama Hasse Pais Brandão, in "Nova Natureza"
...
...
Do Poema
...
O problema não é
meter o mundo no poema; alimentá-lo
de luz, planetas, vegetação. Nem
tão-pouco
enriquecê-lo, ornamentá-lo
com palavras delicadas, abertas
ao amor e à morte, ao sol, ao vício,
aos corpos nus dos amantes
...
— o problema é torná-lo habitável, indispensável
a quem seja mais pobre, a quem esteja mais só
do que as palavras
acompanhadas
no poema.
Casimiro de Brito, in "Canto Adolescente"
......
oz
Liberdade
...
O poema é
A liberdade
...
Um poema não se programa
Porém a disciplina
— Sílaba por sílaba —
O acompanha
...
Sílaba por sílaba
O poema emerge
— Como se os deuses o dessem
O fazemos
Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"
...
...
A Leitora
...
A leitora abre o espaço num sopro subtil.
Lê na violência e no espanto da brancura.
Principia apaixonada, de surpresa em surpresa.
Ilumina e inunda e dissemina de arco em arco.
Ela fala com as pedras do livro, com as sílabas da sombra.
...
Ela adere à matéria porosa, à madeira do vento.
Desce pelos bosques como uma menina descalça.
Aproxima-se das praias onde o corpo se eleva
em chama de água. Na imaculada superfície
ou na espessura latejante, despe-se das formas,
...
branca no ar. É um torvelinho harmonioso,
um pássaro suspenso. A terra ergue-se inteira
na sede obscura de palavras verticais.
A água move-se até ao seu princípio puro.
O poema é um arbusto que não cessa de tremer.
António Ramos Rosa, in "Volante Verde"
...

...

...
E na Fnac do Norteshopping
...
ENTRE A PROSA E A POESIA
Com valter hugo mae e José Rui teixeira
DOM
17H00
NorteShopping
Valter Hugo Mãe é escritor, músico e artista plástico. Publicou recentemente o romance A Máquina de Fazer Espanhóis, um livro bastante aclamado pela critica. José Rui Teixeira é editor da Cosmorama e poeta com obra publicada. Esta tarde a Prosa e a Poesia são o mote para uma conversa com o público
.

Sem comentários: